Desengano
Já lá vae esse tempo d’infancia
Tempo suave, tão bello, d’amor,
Hoje vivo sem crensa d’esperança,
Hoje vivo pungido de dôr!
Na fallaz fantasia envolvido,
Dentro d’alma uma esp’rança nutri,
Desditoso!… Vivi no engano,
D’essa sombra que toda perdi.
Era sombra mais bella que todas
Entr’os anjos vagueando se vio,
Era um sonho feliz e alegre,
D’um futuro que a sorte sumio!
Já não logro do mundo os enganos,
Meu prazer já na terra findou,
Já não cuido d’amor nos affectos
Minha esp’rança p’ra sempre acabou.
Eu de nada lembrar-me quizéra
D’esse mundo qu’outrora gozei,
Os encantos da vida… Que é d’elles?!
Oh! dizel-o… não posso… não sei.!!!
Já lá vae esse tempo d’infancia
Tempo suave, tão bello, d’amor,
Hoje vivo sem crensa d’esperança
Hoje vivo pungido de dôr!
Ponta Delgada, Abril de 1854
Senna Freitas Jn.,
in Revista dos Açores,
Ponta Delgada, 1854.
Freitas jn,, Bernardino José da Senna, (1808-1872), administrador na ilha de S. Miguel dos bens com que o pai, acompanhante da fuga de D. João VII para o Brasil, fora agraciado. Investigador, natural de Minas Gerais, veio a falecer em Braga.