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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Nemésio, le milan voyageur  —
URBANO BETTENCOURT
Comunidades 07 mai, 2018, 01:27

Nemésio, le milan voyageur — URBANO BETTENCOURT

Nemésio, le milan voyageur

Esta ave das ilhas, que o nosso olhar surpreende numa língua outra e muito longe do seu chão, vem dos fundos do tempo nemesiano anunciar-nos os seus domínios à beira do Atlântico. Desde o ano de 1924, em que surge no título, Paço do Milhafre, da sua obra narrativa inaugural e de um soneto, esse «milhafre sabido» tudo observa e tudo guarda, para reviver em memória, à distância: ave de altura e lentidão.
Ave de rapina? Só nos manuais de zoologia, que tendem a ignorar a língua íntima das coisas e dos seres. No bestiário pessoal de Nemésio, o milhafre é sobretudo o medium de uma revisitação do território aconchegado da infância na ilha, o «ovo bicado e quente» deixado no mar, objecto desse olhar de mormaço que de longe lhe lança o escritor. E, ao contrário do que diz a ciência, é uma «alma de bico melancólico» que lhe instilou na carne o desejo da partida e da viagem.
Temos, assim, condensadas na convocação simbólica da ave açoriana, a ambiguidade que atravessa grande parte da escrita de Nemésio: uma radical ligação ao espaço de origem e a necessidade de projectar-se para espaços abertos e desconhecidos.
Uma outra imagem para isso, ou seja, para essa ambiguidade: a figura da «jeune fille açoréenne» que Nemésio faz desembarcar em Marselha, tão deslumbrada e tão à vontade nesse território continental. Aí a vemos atravessar os detritos da cidade, cascas de laranja, caixas de fósforos, um rabo de sardinha, as suas inutilidades. E sem perder o traço das origens – a oferta materna da saia comprida a que agora se prendem essas coisas miúdas, sinais de um mundo novo que acolhe os seus sapatos azuis. E a pensar que ninguém será capaz de imaginar quão distante se encontra ela da sua terra. Mesmo que apague na bagagem o giz das marcas alfandegárias, ela não conseguirá deixar de ouvir o mugido das vacas longínquas que, lamentavelmente, já não poderá alimentar nem mungir.
E se, num outro momento, a anónima jovem açoriana ganhasse direito a um nome próprio? E se chamasse Margarida, para tornar-se a protagonista de Mau Tempo no Canal ? E também ela fosse aqui o rosto e o corpo de uma inquietação que é apenas o sinal manifesto de uma tensão interior entre o apego à terra e o impulso para a descoberta do mundo oculto por trás do horizonte? Tudo isso traduzido, afinal, num questionamento do passado e do presente, da história e do seus enigmas, da geografia e dos seus mistérios: a condição humana nas ilhas.
Milhafre, jovem, Margarida: que são os nomes senão jogos de máscaras, sinais de ausência? Talvez mesmo da ausência de um nome outro que sob aqueles se disfarçou, sem ocultar os traços de um espírito simultaneamente ancorado e errático: Vitorino Nemésio.

Urbano Bettencourt

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