ALEGRA-CAMPOS
MTCabral, Hospital de Angra, Advento 2014
Alegra-campos para Dona Adelaide, a mãe do meu Padre
Que acaba de morrer ao meu lado, no hospital de Angra.
Foi a católica perfeita, que hoje talvez só se encontre no mundo rural
Que deu com orgulho e alegria um filho à Santa Madre Igreja.
Chamava-lhe “o senhor Padre”, para que não houvesse dúvidas
Sobre a plena doação, que a enobrecia por direito divino.
Sentava-se ao meu lado, nas missas de semana, onde somos poucos.
Acompanhava em voz sussurrada todo o cerimonial, do princípio ao fim.
Agradavam-lhe uns gerânios roxos que eu tinha na varanda
Chamava-lhes “alegra-campos”, nome que me encantava, enquanto poeta.
Pediu-me uns pezinhos e por duas vezes lhe dei uns pezinhos, que não pegaram.
Sim, era a Santa Madre Igreja rural, sem tempo, sem vacilações
Segura das verdades de fé dos primeiros padres, mesmo que o não soubesse
Sem complacências para com o declínio atual, nem sequer nomeado.
Alegra-campos para Dona Adelaide, a mãe do meu Padre
A quem trouxe pelo braço para casa, como irmã amantíssima
Ouvindo o resfolegar do seu coração e pulmões, doentes da saudade
Por seu marido, chorado em todos os dias de dois anos e tal.
Já está com ele, de novo, como desejava
No Céu que nos foi aberto por Nosso Senhor Jesus Cristo
A Quem amamos completamente, no campo, a Quem amamos completamente
A Quem as mães católicas oferecem seus filhos, à nascença, com entusiasmo
Desejosas de os salvar do mundo, que elas já conhecem quando são mães.
Partilhámos as missas de semana, o braço dado para casa, ao fim da tarde
Alegra-campos roxos e o novo hospital de Angra do Heroísmo
E, sobretudo, a fé mais pura e intacta, ortodoxa radical, sem atualizações.
Alegra-campos roxos, dependurados pela varanda da minha casa, para a rua, no verão.