Romaria dos carros de boi: um espetáculo folclórico
O carro de boi é um dos mais primitivos e simples meios de transporte ainda em usos nos meios rurais,
utilizado para o transporte de cargas (produtos agrícolas) e pessoas. O som estridente característico do
carro de boi, chamado de canto, lamento ou gemido, também faz parte da nossa cultura.
A romaria do Divino Pai Eterno também é chamada de “Festa de Trindade”, no
município de Trindade, que se chamou Barro Preto. Iniciada em 1840, quando um casal
de lavradores, Constantino Xavier e Ana Rosa, carpindo na roça, a enxada deu com uma
placa de argila queimada, um medalhão e, estampando a Santíssima Trindade, coroando
Maria. Achando que se tratava de um milagre, erigiram uma capelinha coberta por
folhas de buritis onde foi colocado o medalhão, seguindo rezas de Terços todas as
semanas. Com as esmolas dos fiéis, foi possível erguer uma capela maior e encomendar
ao escultor Veiga Valle, de Meia Ponte (Pirenópolis), a imagem da Santíssima
Trindade, em madeira. A romaria sempre aumentando, chegou ao atual suntuoso
Santuário, o único no mundo dedicado ao Divino Pai Eterno e a cidade de Trindade
tornando-se a Capital da Fé.
A festa do Divino Pai Eterno de Trindade inclui a romaria pela “Rodovia dos
Romeiros” (GO 060), onde parte dessa rodovia, 18 km, liga a capital do estado Goiânia
à cidade de Trindade, por onde os romeiros percorrem a pé, milhares e milhares de
devotos em cumprimento de promessas, uma história de fé e religiosidade. Durante o
percurso, há uma galeria aberta, contendo quatorze painéis que retratam os principais
momentos da paixão de Cristo, E o único no mundo todo; seu criador é o artista plástico
goiano Omar Souto.
A festa do Divino Pai Eterno acontece quase sempre no primeiro domingo do mês de
julho. É uma festa popular de cunho religioso que une o sagrado e o profano, como
quase todas as manifestações folclóricas do Estado de Goiás, tradicionalmente mantida
pela comunidade local, transformando o espaço cotidiano em espaço festejo e ambiente
sagrado no qual se cultua a fé e a tradição. É um movimento cultural e religioso que
atrai romeiros e católicos de várias regiões do país.
A identidade cultural de um povo muitas vezes está ligada à sua crença e,
principalmente, à simbologia que envolve tradição das práticas e celebrações religiosas.
O trajeto da viagem dos carreiros para a romaria denominou-se “Romaria dos
Carreiros”. E, atualmente, foi criado um acampamento para os carros, animais e os
carreiros, pois antes ficavam espalhados. Hoje o acampamento virou ponto de visitação
dos romeiros.
A Prefeitura de Trindade, em 1988, organizou o primeiro desfile de carreiros na
romaria, tornando-se “tradição” dentro da festa. O ponto alto da festa é o desfile dos
carros de bois, no Carreiródromo.
A missa dos Carreiros é uma missa criada em 1996 especialmente para esse grupo de
peregrinos. Embora seja uma cerimônia para os carreiros, ela atrai muitos outros
peregrinos que estão em Trindade nesse período, mas, entre tantos romeiros, os
carreiros são diferenciados por suas guias, varas de ferrão, e chegam sempre
acompanhados dos familiares e amigos.
Registros folclóricos: A Romaria de Carros de Bois da Festa do Divino Pai Eterno de
Trindade, em Goiás, foi reconhecida como Patrimônio Cultural Brasileiro, em 2016, e
inscrita no Livro de Registro das Celebrações: Inscr.nº 39, de 15/9/2016.
Iraci Vieira romeira e presidente da Comissão Damolandense de Folclore, comentou a
importância do reconhecimento da Romaria: a tradição de carros de boi é muito forte
em Damolândia, na região central de Goiás. Os romeiros do município se sentiram
orgulhosos com o reconhecimento nacional “carro de boi é o início de tudo no Brasil e
hoje, reconhecido nacionalmente, é um orgulho para os goianos e para os brasileiros”.
A Romaria dos Carreiros de Damolândia, iniciou-se em 1920, quando o fundador da
cidade foi de carro de boi a Barro Preto, hoje Trindade. Em 1992, foi realizada a
primeira missa em ação de graça aos romeiros do Pai Eterno em Damolândia.
O ato de ir até Trindade com os carros de boi em homenagem ao Divino Pai Eterno vem
passando de geração em geração, filhos, netos e até bisnetos.
Izabel Signoreli, historiadora, folclorista, Presidente da Comissão Goiana de Folclore e
vice-secretaria da Comissão Nacional de Folclore.