Saltar para o conteúdo
    • Notícias
    • Desporto
    • Televisão
    • Rádio
    • RTP Play
    • RTP Palco
    • Zigzag Play
    • RTP Ensina
    • RTP Arquivos
RTP Açores
  • Informação
  • Legislativas 2025
  • Antena 1 Açores
  • Desporto
  • Programação
  • + RTP Açores
    Contactos

NO AR
Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de DE MANHÃ,COM CRUZ.
  A crônica de Sérgio da Costa Ramos no aniversário do poeta
Comunidades 02 dez, 2009, 13:43

DE MANHÃ,COM CRUZ. A crônica de Sérgio da Costa Ramos no aniversário do poeta

                          De Manhã com Cruz

O poeta Cruz e Sousa sentou-se no banco sob a figueira – que lhe é 45 anos mais moça, só foi plantada em 1906, quando o poeta é de 1861. Mas nos dias de hoje, tanto o poeta quanto a figueira transcendem o tempo e os simbolismos.

Um facho do sol matutino tingiu-lhe as carapinhas de um raio fúlgido, dourando a face do poeta e revelando à Praça XV a volta do filho ilustre, ainda que para uma fugaz visitinha.

Sentei-me, tímido e reverente, diante do príncipe do Simbolismo e saudei o poeta com uma de suas aliterações e jogos vocálicos mais impressionantes:

– Que vozes veladas, veludadas vozes te saúdem, ó sinfônico poeta!

Lamentei que o “velho vento vagabundo” não estivesse presente para levar ao longe o nosso lamento, diante das injustiças deste Mundo.

– Nossos magistrados superiores, caro poeta, continuam prendendo Jesus e soltando Barrabás…

O simbolista não se surpreendeu, nada mudou em Pindorama, desde que o Departamento de “Recursos Humanos” da Central de Brasil quis demitir o seu escriturário negro, só porque este estava vomitando hemoptises pré-mortais.

Agora mesmo, um desavergonhado trem-da-alegria contrata 97 sortudos para “trabalhar” no Senado, sem concurso, sem nada, em troca de modestos R$ 10 mil mensais. E o contribuinte que vomite a sua impotência e a sua frustração.

Nada mais surpreende o poeta, que a tudo observa lá de sua cadeira do etéreo espaço. Ele sabe que a vida aqui embaixo continua obscura, como naquele seu poema de dor:

– Ninguém sentiu o teu espasmo obscuro, / Ó ser humilde entre os humildes seres, / Embriagado, tonto de prazeres, / O mundo para ti foi negro e duro…

Mas lá onde hoje mora, no Nirvana dos Justos, o poeta já não sente a mesquinhez dos que não lhe reconheciam o talento, a usura dos que não lhe perdoavam as dívidas, a inclemência dos que lhe cortavam “o ponto”, o racismo dos que o segregavam pela cor da pele. O poeta levita, hoje, sobre todas as misérias humanas – e sua fortaleza moral pode nos servir de consolo.

O bigode e o conhecido perfil iluminados pelo sol da manhã emprestaram às primeiras palavras do poeta um tom ao mesmo “natural” e solene:

– Desterro está mudada. Superpovoada. Mas vejo que a pobreza está descendo dos morros, mudando-se para as periferias da vida. Ah, meu amigo, o homem continua sendo aquele animal carnívoro, que se alimenta da carne dos mais fracos…

Testemunhando a “imunidade” que os tribunais concediam aos poderosos, o poeta recitou alguns de seus versos mais simbólicos e consentâneos com a ocasião:

– Mendigos que o sol / Apenas torna nababos felizes, / Torna mais serenas as convulsas cicatrizes /…

– É o teu poema Mendigos, não é? É ainda aplicável aos dias de hoje…

Cruz e Sousa sabe de tudo, da iniqüidade da Justiça, da voracidade dos cobradores de impostos, da impunidade geral. Sabe que o povão vai mal e que “aqueles que fazem as leis para si” vão muito bem, a bordo de suas sinecuras. Mas há alguma curiosidade pairando em suas sobrancelhas:

– Diz-me uma coisa, cronista. E os escritores, continuam pobres?

– Respondo com outra estrofe do teu poema: “Mendigos destranho aspecto / E sempiterna vigília, / Filhos nômades, sem teto, / De milenária família…”

O poeta ficou sabendo da polêmica prisão dos banqueiros e da expectante chegada de Salvatore Cacciola, aquele “gravatão” da Máfia romana.

Chocado com a leniência dos altos tribunais, Cruz e Sousa recitou, por emblemáticos, aqueles seus versos da segunda estrofe do soneto “Quando Será?”:

– “Quando será que as límpidas frescuras, / Dos claros rios de ondas estreladas / Dos céus do Bem, hão de deixar clareadas / Almas vis, almas vãs, almas escuras?”…

 Imagem Pça.XV de Novembro:Copyright:www.visitefloripa.com.br

RTP Play Promo
PUB
RTP Açores

Siga-nos nas redes sociais

Siga-nos nas redes sociais

  • Aceder ao Facebook da RTP Açores
  • Aceder ao Instagram da RTP Açores

Instale a aplicação RTP Play

  • Descarregar a aplicação RTP Play da Apple Store
  • Descarregar a aplicação RTP Play do Google Play
  • Programação
  • Contactos
Logo RTP RTP
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Youtube
  • flickr
    • NOTÍCIAS

    • DESPORTO

    • TELEVISÃO

    • RÁDIO

    • RTP ARQUIVOS

    • RTP Ensina

    • RTP PLAY

      • EM DIRETO
      • REVER PROGRAMAS
    • CONCURSOS

      • Perguntas frequentes
      • Contactos
    • CONTACTOS

    • Provedora do Telespectador

    • Provedora do Ouvinte

    • ACESSIBILIDADES

    • Satélites

    • A EMPRESA

    • CONSELHO GERAL INDEPENDENTE

    • CONSELHO DE OPINIÃO

    • CONTRATO DE CONCESSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO DE RÁDIO E TELEVISÃO

    • RGPD

      • Gestão das definições de Cookies
Política de Privacidade | Política de Cookies | Termos e Condições | Publicidade
© RTP, Rádio e Televisão de Portugal 2025