Uma ou duas palavras sobre o meu mais recente coleguinha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, novo colunista para assuntos internacionais de um dos mais famosos jornais do mundo: o New York Times.
Claro que, como a maior parte das ôtoridades ocupadíssimas, ele terá um ghost-writter. Isso, em absoluto, não o desabona. A imensa maioria de presidentes e ex-presidentes, de todos os países que conheço, recorre a um redator de confiança. Não poderia ser de outra maneira. Ninguém imagina a mão de obra que é escrever duas linhas com alguma lógica. Apenas ser alfabetizado não resolve o problema. Para a produção de um bom texto há que se ter um pouco de talento, que, reconheço, os políticos não são obrigados a ter. Então, até aqui, nada me surpreende na nova atividade laboral de Mr. Lula.
Meu espanto começou com a reação dos petistas à novidade. Petistas são seres quase alienígenas, não se cansam de me surpreender. Pois não é que, em vez de se congratularem com o novo escriba internacional, eles logo saíram correndo para implicar com o FHC? Cansei de ler, nas redes sociais, cutucados no doutor Cardoso. Doutor mesmo, por mérito próprio. Recebeu uns títulos Honoris Causa, que, claro, são importantes, mas não chegam a pesar em seu currículo de professor da Sorbonne. Fernando Henrique deve ter achado graça – até eu achei – nessa nova manifestação de inveja mal disfarçada. Vivendo e aprendendo: inclusive para a manifestação de sentimentos menos nobres, digamos assim, é necessário um pouco de inteligência. Numa boa, o que tem o FHC a ver com a coluna internacional do Lula? Gente mal resolvida, meu Deus. Uma boa análise resolveria essa dor de cotovelo. Afinal, o que importa se um ex-presidente é PhD em Sociologia e o outro, semi-analfabeto? Ambos são inteligentes, ambos foram eleitos pelo povo. Qual é o problema?
Palavras são perigosas, costumam trair os vaidosos. Basta ver a nossa presidente falando de improviso. Apesar dos indigitados esforços, Dilma não junta Lé com Cré, chega a dar pena. No improviso, Lula também nos ofereceu momentos memoráveis. Para quem duvida, está noYou Tube a sua hilária explicação sobre o aquecimento global “(..) se a Terra fosse plana, o sol bateria em todos os lugares, mas ela é redonda (…)”. Droga de Terra, não bastasse estar poluída, ainda inventou de ser redonda. Coisa chata, sério. Além de atrapalhar o discurso documpanhero, ela ainda atazana a cabeça de um monte de cientistas. Então, a Terra não poderia ser retangular, como queria Lula? Tudo ficaria tão mais fácil…
Mas o new-foca solfejou outras pérolas. Por exemplo, a citação a Napoleão, que ao invadir a China, teria declarado “este gigante adormecido, um dia despertará”. Ou, ainda, na visita à Namíbia, expressando, espantado, seu assombro com a cidade “tão limpinha, nem parece que estou na África”. Guardo uma lista imensa de bobagens alardeadas pelo recém-contratado doNew York Times. Uma de minhas distrações é reuni-las numa pasta, aberta exclusivamente para este fim. Acho que, um dia, irei publicá-las…
Com um profissional deste quilate, tão criativo, o jornalão norte-americano, sem dúvida, já acionou as suas defesas. Além do ghost writter, do tradutor do ghost writter, do revisor do ghost writter e de um coringa selecionado semanalmente – cada semana, um diferente – para não escapar nenhuma barbárie, as mães de todos os envolvidos nessa aventura lítero-sindical serão mantidas em cárcere privado. Se escapar alguma batata, a Livia Marini será acionada para matar a senhora genitora do responsável, com uma injeção de veneno na jugular. Mas será veneno brando, calminho, para a morte ser lenta. Vê lá se os irmãos do Norte perdoaminguinorâncias? Graças a Deus, dona Lindu – que, coitada, nasceu analfabeta, uma raridade genética nunca antes acontecida na História do Universo – já está no céu. Ou seria ela a primeira a quem a vilã de Salve Jorge treinaria a sua mira de atirador de elite.
Enfim, é isso. Desejo a dom Lula todo o sucesso do mundo na nova carreira. Acho que ele descobrirá as maravilhas de ser jornalista. A emoção de lidar com a notícia, a realização inexplicável de ver o próprio texto – bem, neste caso, em termos – publicado, lido, comentado.
Assim, quem sabe, o PT descartará a idéia fixa de regular a Imprensa? Afinal, nos Estados Unidos da América, país de opiniões 100% livres, pegará mal para o New York Times a presença de um colunista obcecado em amordaçar os coleguinhas ao sul do Equador…
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Angela Dutra Menezes – jornalista, escritora.
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