(Victor Charreton 1864-1936)
POESIA
À porta do cortiço
As abelhas espreitam
A paisagem brumosa
Do Inverno
E dizem entre si:
— Quando florescerá de novo
O pessegueiro cor-de-rosa,
Quando será?,
Se ainda há tanto frio…
— Inúteis os frutos tombaram
Sem que ninguém os colhesse…
— …e o Sol desapareceu
Para além da bruma
Antes que amanhecesse!
— Há quanto se não abria
Aquela porta verde?
— Há quanto tempo? … Há quanto tempo?
— Temos nos nossos favos a poesia da sede
Que foi perfume na aragem
Mas para ela
É sempre florida
A nova paisagem!
Luís Ribeira Sêca,
Recanto Tranquilo,
Guifães-Maia, Edição do Autor, 1989.
Luís Ribeira Sêca é pseudónimo de Luís Filipe Botelho de Gusmão Côrtes-Rodrigues (1914-1991), regente agrícola, poeta, dramaturgo de ascendência micaelense, natural de Carnaxide, concelho de Oeiras, residiu em Ponta Delgada, no Porto e em Gueifães, concelho da Maia, onde faleceu.