memorandum
João-Luís de Medeiros
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Ferreira Moreno – a voz emocional da solidão
…/… É costume dizer-se que a ‘má notícia’ raramente paga multa pelo seu excesso de velocidade. Mal acabara de completar a viagem Palm Springs/Boston (com destino a Fall River, a fim de cumprir a voluntária incumbência de actuar como ‘avô-natal’, no convívio familiar) fui cordialmente informado do falecimento do estimado amigo, padre Joseph Ferreira – autor da veterana coluna Repiques da Saudade – presença assídua na imprensa da diáspora lusófona, sob o conhecido pseudónimo “Ferreira Moreno”.
Seja-me permitido recordar a agradável surpresa do primeiro encontro pessoal com o padre Joseph Ferreira: aconteceu na alvorada da década de 1990, durante um amistoso convívio na residência de um amigo-comum (doutor João Botelho, Westport, Massachusetts). Até então o nosso relacionamento limitava-se à ‘vizinhança colunista‘, nas páginas da imprensa luso-americana. Entretanto, a nossa amizade foi ‘amadurecendo‘, sem ficar cativa do vigilante amiguismo freirático que detesta a autonomia do talento individual…
Atrevo-me a acreditar que a Comunidade Açoriana está de luto. Enquanto não chegar o dia em que o nosso relacionamento ético-cultural possa ser descrito com base no bom-senso fraternal que ele bem merece, hoje, vamos apenas recordar ‘à vol d’oiseau’alguns aspectos do seu humanismo cristão…
Seja-me permitido recordar a agradável surpresa do primeiro encontro pessoal com o padre Joseph Ferreira: aconteceu na alvorada da década de 1990, durante um amistoso convívio na residência de um amigo-comum (doutor João Botelho, Westport, Massachusetts). Até então o nosso relacionamento limitava-se à ‘vizinhança colunista‘, nas páginas da imprensa luso-americana. Entretanto, a nossa amizade foi ‘amadurecendo‘, sem ficar cativa do vigilante amiguismo freirático que detesta a autonomia do talento individual…
Logo que teve conhecimento do endereço da minha nova experiência imigrante, na região sudoeste da ‘sua’ Califórnia, o amistoso Ferreira Moreno resolveu enviar o seu postal de boas-vindas, bem como recortes de antigos artigos da minha autoria, publicados na imprensa micaelense; além disso, não demorou a oferta do volume intitulado “Beckoning Desert – Impressions of the sunlit land, its people, its miracles old and new“, da autoria de Edward Maddin Ainsworth, reconhecido jornalista especializado na realidade geo-humana do Coachella Valley.
E assim continuámos o nosso percurso amigável: as frequentas conversas telefónicas eram perfumadas pela espontaneidade verbal, sem todavia vulgarizar a fraternidade do nosso ideal cristão; de resto, a nossa comunicacão era exercida através do estilo ‘bilhete-carta’, como é o caso daquele que guardo, datado de 1 de Dezembro do ano findo, em que referia o desejo de ‘Happy Birthday’, informando também que se deslocara à Fricke Parks Press, em Union city, para juntar algumas exemplares do ‘Tribuna Portuguesa‘, acrescentando: “aí vai o recorte do teu MEMORANDUM – desta feita vem na página 9… o Moreno continua na página 12…”
… / … Continuo a falar por mim (mas não me sinto sozinho): o estimado Ferreira Moreno foi um incansável evangelista da Novo Testamento da açorianidade comovida a Oeste. Sem complexos aristocráticos de baronia filosófica, Ferreira Moreno sabia manusear os valores tradicionais da nossa inesquecível Terra, graças à sua experimentada espontaneidade e autenticidade linguísticas… Ora, como o solitário sacerdote não aderiu a qualquer credo electrónico, nem se dedicou ao culto da arte de investir nas mordomias do patronato cultural lusófono, podemos concluir que o estilo e as prioridades da sua Obra foram porventura apreciados (ou tolerados) mas sempre à boca-calada…
Como já foi publicamente confirmado pela leitura dos factos recentes, o reverendo padre Joseph Ferreira teve a ventura de “emigrar” para a eternidade, sem magoar o seu semelhante. Todavia, continuo muito esperançado na hipótese de que a memória do cronista Ferreira Moreno vai continuar acesa, e talvez consiga iluminar o cinzentismo da indiferença micaelense. Estamos a apostar na solidariedade psico-cultural da municipalidade da Ribeira Grande, que já mostrou ter a sensibilidade bem afinada para cuidar da real valia do seu património artístico-cultural: veja-se o recente exemplo do merecido tratamento conferido à memória da prestimosa obra de Daniel de Sá.
Grato pela atenção dispensada a esta breve homilia emocional: se o reverendo padre Joseph Ferreira interrompeu o seu sacerdócio, nada sabemos; todavia, vamos acreditar que o seu irmão-gêmeo, Ferreira Moreno, continuará connosco… Amén!
Grato pela atenção dispensada a esta breve homilia emocional: se o reverendo padre Joseph Ferreira interrompeu o seu sacerdócio, nada sabemos; todavia, vamos acreditar que o seu irmão-gêmeo, Ferreira Moreno, continuará connosco… Amén!
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(o autor não aderiu ao recente o acordo ortográfico)
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(*) João-Luís de Medeiros – poeta; veterano cronista da imprensa lusófona e da rádio comunitária: ‘memorandum’ & ‘ideias ao desafio‘. Lic. Humanities & Social Sciences; Master of Science – Human Resources.