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Este conteúdo fez parte do "Blogue Graciosa Online", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Os dias festivos da matança
Graciosa Online 26 jun, 2020, 14:45

Os dias festivos da matança

Crónica de Victor Rui Dores

Era domingo e chegara a hora do porco ser abatido. 

Os homens vieram cedo, munidos de cordas, facas e raspadeiras. Comeram figos passados
e beberam uns tragos de aguardente para iludir o frio da manhã. Depois dirigiram-se ao curral do
animal. Avaliaram o peso e o aspecto do suíno. Este fora bem “criado” durante um ano, e, pelo
Natal, estava anafado, à custa dos milhos, das batatas doces, dos mogangos, das farinhas e das
lavagens. 
O porco era então “aperneado” e estendido sobre um banco de larga tábua. O marchante
metia-lhe a faca, direitinha ao coração. O sangue jorrava aos borbotões, tingindo de vermelho a
mão do operador, e era recolhido num alguidar de barro. 
O pobre suíno guinchava longa e desesperadamente na agonia mortal. Cada vez mais a
custo ia estrebuchando, resfolegando e gemendo, até que de todo ficava imóvel, inerte. Estava
morto. Em seguida (e numa altura em que o berbequim ainda não havia sido inventado)
chamuscava-se-lhe o pêlo com vassouras secas de urze em chamas, primeiro de um lado, depois
do outro… Com facadas tirava-se o pelejo e depois, com raspadeiras apropriadas e água em
abundância, alvejava-se-lhe a pele. Virava-se agora do outro lado e procedia-se por igual modo. E
pronto! O porco estava todo liso e branquinho. 
Os dias festivos da matança
Entretanto as mulheres, já de mangas arregaçadas, iam cortando cebola e salsa,
entregando-se aos preparativos da matança. 
E nós, os pequenos, andávamos no quintal nas correrias e na retoiçada… Não queríamos
ouvir os grunhidos aflitos do porco. O que era inevitável era sentirmos o cheiro acre do pêlo
queimado ao ser chamuscado. 
– Ao alto! – ordenava o marchante. E, num corte longitudinal, abria o ventre e toda a parte
dianteira do porco, do pescoço ao ânus. Retirava as entranhas: o fígado (que ia logo para a
cozinha, pois faria parte do almoço), os bofes, o coração e finalmente os intestinos. 
As banhas e paredes internas do porco eram muito bem lavadas, até ficarem livres do
menor rasto de sangue. Só então o porco era removido e pendurado pela cabeça numa trave da
cozinha. Uns pedaços de cana aguçados nas extremidades mantinham o porco aberto, tanto à
frente como atrás, e, deste modo, todos podiam medir a grossura do toucinho. “Quanto mais
porco, mais toucinho”, dizia-se. 
Em dia de matança era um tal fazer partidas. Por exemplo: pregar o rabo do porco nos
fundilhos das calças do Joaquim Arregaça, ele que enchia de ar a bexiga do suíno para nós
jogarmos à bola. 
As mulheres confeccionavam as iscas e as morcelas depois de terem procedido à lavagem
das tripas e à consequente esfrega com laranjas azedas, limas e farinha. 
À noite vinham os familiares e os convidados, comia-se morcela e debulho e bebia-se do
melhor vinho caseiro. Nos dias seguintes, segunda e terça feiras, eram servidos torresmos de
toucinho, torresmos de vinho e alhos e sarapatel. E só a partir de quarta-feira é que éramos
obsequiados com as apetecidas e apetecíveis linguiças. 
Nesses dias não faltavam as cantorias. Não me esquecerei do Juventino Ramos a cantar à
porta de casa do meu avô, em noite fria: 
                    Hoje é dia de matança 
                    Comida não há-de faltar, 
                    Pois eu tenho na lembrança 
                    Que muito tens para nos dar. 
As cantorias prolongavam-se pela noite dentro. Algumas paixões amorosas também… 




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