O ano de 2008 assinala o centenário de nascimento do etnógrafo, escultor,folclorista Franklin Cascaes,o bruxo da Ilha.
Não é sem razão que quando se fala na presença do imaginário bruxólico na literatura, na música e nas artes catarinenses seu nome é sempre lembrado como uma referência incontestável tanto por estudiosos e pesquisadores da cultura popular catarinense quanto pela população catarinense, particularmente pelos habitantes da Ilha de Santa Catarina.
Na obra de Cascaes, o imaginário bruxólico cria corpo, agiganta-se e com força se impõe, estando presente de forma manifesta em toda parte e não mais restrito ao interior da ilha e às conversas de fins de tarde nos barracões de pesca. Populariza-se o termo "bruxólico" forjado por ele e configura-se "o imaginário bruxólico" na literatura, na arte, na música e na vida ilhoa. A Ilha passa a ser conhecida (e sua imagem vendida) quer pela beleza de suas praias, quer por sua magia como Ilha das Bruxas ou Ilha da Magia ou Ilha de Cascaes.
As Bruxas da Ilha estão na literatura enfeitiçando o leitor; nas artes, os próprios artistas anunciam-se partícipes do Realismo Fantástico Ilhéu – a escola artística de Cascaes; na música, a temática está presente na figura da mulher-bruxa, feiticeira, que tece a tela da sedução infinita, que faz mil loucuras, aprisionando na rede da pesca, no rendado da paixão.
Como artista, Franklin Cascaes foi autodidacta. Utilizou o seu talento e criatividade em registrar e transmitir através da escrita, do desenho, da escultura e do artesanato o legado açoriano, na ânsia de memorizar o passado, de salvar o património cultural que se fragmentava frente às exigências da modernidade, que chegava transformando o espaço urbano, descaracterizando o meio rural e espoliando o pescador da sua praia.
Um bruxo, solitário em sua caminhada, por mais de trinta anos recolhendo histórias e estórias, num persistente trabalho de rabiscar a mitologia, desenhar a bico-de-pena cenas do cotidiano, crenças e o imaginário ilhéu, moldar na argila os personagens desse cenário insular. Da argila brotaram rostos conhecidos da cidade, do bispo ao governador, do "manezinho" e pescador a rendeira da Lagoa da Conceição
(*) Retrato de Cascaes,desenho de Maurilo Roberge