1.
No olhar,
a longinquidade
de uma ilha encuberta, inomi-
nada.
No andar,
o rumor de uma fuga
de madrugada,
pelas falésias.
No riso claro,
os cristais
de uma fonte.
E ao fundo,
até ao horizonte,
mar.
…
Ou nada.
2.
Onde?, como?, há
quanto tempo,
meu amor? Por
que destino ou acaso?
Porquê naquele cais?,
naquela praia?, àquele pôr-
-de-sol?, naquele fim de
verão? (Ou nunca,
nunca, meu amor ?)
…
E nunca nunca mais!
Eduíno de Jesus
Eduíno Moniz de Jesus nasceu em 1928, nos Arrifes, São Miguel, Açores. Concluídos os estudos secundários, deixou os Açores e instalou-se primeiramente em Coimbra e depois em Lisboa, onde reside actualmente. Diz-nos Couto Viana que Eduíno "Deixou para trás, ao deixar a Ilha, justamente pelo meado do século, um fervilhar de tertúlias literárias…" ("Prefácio", Os Silos do Silêncio, 13).
No continente, Eduíno foi professor do ensino primário e secundário, docente universitário. Regeu a cadeira de Teoria da Literatura na Universidade Nova de Lisboa, e durante mais de 20 anos leccionou no Departamento de Língua e Cultura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.
Foi co-fundador da colecção Arquipélago onde se publicou poesia, ensaio e teatro. Colaborou nos principais jornais portugueses, e manteve a secção de crítica de teatro da revista Rumo. Dirigiu e produziu para a Televisão Portuguesa os programas literários Convergência (1969-72) e Livros & Autores (1972-74). Editou e co-dirigiu a revista de Artes e Letras Contravento (Lisboa, 4 fascículos, 1968-71) e dirigiu a Revista de Cultura Açoriana editada pela Casa dos Açores de Lisboa (Lisboa, 3 volumes, 1989-91). Desde 2003 é o Presidente desta Casa, onde tem mantido o mais rico programa cultural, e de diálogo intelectual.
Eduíno integra o conselho de Directores da Enciclopédia Luso-Brasileira Verbo; é colaborador da enciclopédia de literatura Biblos e do Dicionário Cronológico de Autores Portugueses do Instituto Português do Livro e da Leitura, e do Grande Dicionário Enciclopédico Ediclube. Publicou a peça de teatro Cinco Minutos e o Destino (1959), e três livros de poesia: Caminho para o Desconhecido (1952); O Rei Lua (1955); A Cidade Destruída durante o Eclipse (1957). Em 2005 a Imprensa Naciona -Casa da Moeda, editou o livro Os Silos do Silêncio, reedição selecta e reformada destas três colectâneas poéticas. Tem centenas de artigos dispersos em revistas e suplementos culturais. Diz-nos Onésimo Almeida que " Se não existe uma história da Literatura açoriana, Eduíno de Jesus escreveu para ela alguns capítulos fundamentais em prefácios ou posfácios (verdadeiros estudos) para livros dos poetas açorianos António Moreno (Pe José Jacinto Botelho), Armando Côrtes-Rodrigues, Virgílio de Oliveira e Madalena Férin" ("Posfácio", Os Silos do Silêncio, 355).
A sua creação poética integra múltiplas antologias de poesia. Segundo Couto Viana "Eduíno de Jesus é, com efeito, um poeta da geração de 50, e isto não só pela razão de coincidir etariamente com os poetas dessa geração […] mas também porque não deixa de ter com eles algumas, quiçá as principais, afinidades da época" (Os Silos do Silêncio, 17). No posfácio de Os Silos do Silêncio: Poesia (1948-2004) de Eduíno de Jesus, cita Onésimo Almeida a Fátima Freitas Morna, estudiosa da poesia portuguesa, e que segundo ela "A obra poética de Eduíno de Jesus constitui […] um excelente exemplo da revisão e, para usar um termo caro a Mário Cesariny, da reabilitação, no devir da tradição modernista, de algumas das linhas mestras do lirismo, que sempre, em qualquer momento estético, executou a inscrição do sujeito e do seu mundo na matéria verbal. A fidelidade a esse mandato primordial, a incontornável mestria que os seus versos revelam e a peculiar discrição que, neles, vela o saber e a consciência da ampla tradição poética em que se movimenta sob a aparência de uma falsa simplicidade (que, de alguma forma, trai no poeta a linhagem mais profícua dos leitores de António Nobre), fazem de Eduíno de Jesus um desses poetas de obra ciosamente escassa mas luminosa que nos garantem, seguramente, o prazer daqueles instantes suspensos que só a verdadeira poesia concede" (365).
Eduíno de Jesus, poeta, ensaísta, homem intelectual e da cultura, açoriano do mundo, é também o amigo gentil e generoso; a pessoa muito querida e especial.
Nota: Citações e referências retiradas do Prefácio de António Manuel Couto Viana, e do Posfácio de Onésimo Teotónio Almeida, de Eduíno de Jesus, Os Silos do Silêncio: Poesia (1948-2004). Lisboa: Casa da Moeda-Imprensa Nacional, 2005.
* Poema inédito.