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Imagem de DARWIN E O SEU CORRESPONDENTE AÇORIANO Onésimo Teotónio Almeida
Comunidades 02 mai, 2009, 16:42

DARWIN E O SEU CORRESPONDENTE AÇORIANO Onésimo Teotónio Almeida


Onésimo Teotónio Almeida - Brown University

Sobre nós esborralha-se o ano de Darwin e já se fala em Darwinmania. Venho contribuir evocando um quase desconhecido português que com ele se correspondeu – Arruda Furtado, autodidacta, meu patrício lá da ilha de S. Miguel (1854-1887). Com a curta vida de 32 anos, parece ter passado o tempo  a escrever. Correspondeu-se em inglês e francês com cientistas do mundo euro-americano, entre os quais Charles Darwin, a quem enviou seis cartas, tendo recebido resposta a quatro. O destinatário já não deve ter tido saúde para responder às últimas. Darwin estava interessado em dados sobre os Açores que pudessem eventualmente servir para testar a sua teoria.

Sobre isso já escrevi noutro lugar, mas venho dar a notícia da publicação do segundo volume das obras completas do estudioso e que saiu com a chancela do Instituto Cultural de Ponta Delgada, sinal de que muito poucos exemplares circularão pelo Continente. O primeiro volume reuniu mais de seiscentas cartas. A responsabilidade da edição é do Professor Luís Arruda. Neste segundo tomo figura um opúsculo do meu malogrado conterrâneo e que é praticamente desconhecido: O Homem e o Macaco. Publicado em Ponta Delgada em 1881, deve ter tido muito fraca distribuição. Certamente edição do autor, nem traz indicação da tipografia (como era costume em casos congéneres) provavelmente para protecção da mesma, aparecendo o corajoso Arruda Furtado como o único nome de rosto.

Tudo parece ter começado com o sermão que um tal Padre Rogério terá pregado na Matriz de Ponta Delgada numa missão. Arruda Furtado, que teria na altura 26 ou 27 anos, não o ouviu mas soube dele e reagiu escrevendo. O opúsculo abre revelando que algumas pessoas lhe foram citar a seguinte afirmação do pregador: E ainda há sábios que acreditam que o homem descende do macaco!… Nós somos todos filhos de Nosso Senhor Jesus Christo!…[1]

Arruda Furtado revela fina verve ao comentar: Dizer aquellas phrases a um auditório d’um simples sermão de quaresma, n’uma terra em que é preciso importar um pregador, é o mesmo que dizer uma obscenidade diante d’uma creança – não ha o perigo de sermos comprehendidos, mas corre-se o risco d’ella ir perguntar. E mais adiante: Temos visto muitas vezes propor a escolha entre o Christo e entre o padre, mas encaminhar-se para fazer o mesmo entre o Christo e o macaco, só agora.

E depois de agradecer ao padre Rogério o ensejo que lhe proporcionou de provocar em muitas pessoas que o rodeiam, “alguma atenção sobre a grande e admirável theoria de Darwin“, afirma sem rodeios que houve “tempo em que tudo nos vinha do padre, hoje tudo nos vem do homem de Sciencia“. Entra pouco depois na resposta prometida, afirmando enfaticamente: “Não ha sabios que acreditam que o homem descende do macaco“.


Antes de explicar a sua afirmação, esboça algumas considerações sobre a Bíblia:
A crença na Bíblia começou a tirar a venda e a vêr já boa luz nos livros da sciencia. O velho Testamento começou a ter o seu verdadeiro logar, como livro excelente, porque tinha domado os povos, mas inutil presentemente, para o mesmo fim, porque se pode e deve recorrer, entre os homens civilizados, a outros processos mais dignos e proveitosos.

Arruda Furtado tece considerações obviamente positivistas, revelando-se empirista e racionalista por inteiro – “de ha muito, a Sciencia vai expulsando religião. Nós não vimos discutir aqui se isto é bom, ou se é mau. O facto é.“

O núcleo duro das suas afirmações surge mais adiante: A semelhança do macaco com o homem, é um facto que o povo mais do que ninguem se diverte a mostrar. Ide por uma aldeia com um d’esses homens de realejo e mandril e ouvireis em todas as bocas: “Parece mesmo ser gente.” Esta semelhança, reconhecida pelo próprio povo, impressionou mais de perto os homens de Sciencia (cita-se Darwin pricipalmente), e elles disseram, não que o homem e o macaco d’hoje eram descendentes um do outro, mas sómente que ambos deveriam ter sido produzidos pela transformação d’um animal perdido e mais caracterisado como macaco do que como homem.

Eis o que se disse e o que se diz, e, se isto não se prova, o contrario também não.

Arruda Furtado alarga-se em considerações sobre a paleontologia (demonstrando que “efectivamente existe uma série imensa e graduada de macacos fósseis muito mais parecidos com o homem fossil e com o selvagem actual, do que estes o são com o homem actual civilizado“) e a embriologia (“que a vida do embryão humano começa pela forma por onde igualmente começam – o cão, a galinha e a tartaruga, animaes por certo muito mais diferentes d’elle do que o Gorillo ou o Chimpanzé“). A concluir, escreve: Se o homem devesse ter orgulho e ambição de glorias, nada haveria mais glorioso para elle do que ter vindo da funda eternidade por uma serie immensa de transformações, libertando-se pouco a pouco das formas inferiores, até chegar ao seu estado presente, E ISTO APENAS Á CUSTA DO SEU TRABALHO. Bem longe de nos envergonharmos, por sabermos que somos um macaco aperfeiçoado, como vulgarmente se costuma dizer, devemos ter n’isso a maior gloria, pois o nosso estado actual é uma sahida victoriosa do inferior para o superior, Á CUSTA DA MAIOR SOMMA DE LUCTAS PELA EXISTENCIA QUE TEM PODIDO SUSTENTAR UMA ESPECIE.

O opúsculo termina nestes termos: E é por isso que, tendo podido dizer esse pouco que ahi fica, nós julgamos ter cumprido um duplo dever – dar opportunamente um effeito salutar á insistencia ôcca, com que se meteu nos sermões uma questão d’esta natureza; dizer aos criticos do porvir que houve uma missão rogeriana, que nem toda a sociedade michaelense d’este seculo acceitou, como o poderia ter feito o povo da China ou do Japão.

Se foi esse o objectivo de Arruda Furtado, não resta dúvida de que o cumpriu. Darwin não leu obviamente o ensaio, mas o cientista, que nos Açores não encontrou muitas plantas peculiares, como procurava, teria achado peculiaríssimo que, num meio tão conservador como o de Ponta Delgada do século XIX, uma jovem planta endémica como Arruda Furtado tivesse desabrochado tanto e tão livremente. Para a origem dessa espécie, Darwin não teria sabido encontrar explicação.

              Onésimo Teotónio Almeida
              Providence, Rhode Island,
              24 /02/2009
             

DARWIN E O SEU CORRESPONDENTE AÇORIANO Onésimo Teotónio Almeida
Onésimo Teotónio Almeida – Açoriano de S. Miguel, vive há trinta e seis anos anosem Providence, Rhode Island, e é professor catedrático na Brown University. O seu livro mais recente é Aventuras de um nabogador & outras estórias-em sanduíche (Bertrand 2007).

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