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Imagem de Do Bar Jade ao jornal  A Ilha
 – alguns andamentos do tempo (2/2) URBANO BETTENCOURT
Comunidades 13 jun, 2009, 06:26

Do Bar Jade ao jornal A Ilha – alguns andamentos do tempo (2/2) URBANO BETTENCOURT

   (…cont.)

Se o Bar Jade ficou referenciado como o ponto de encontro ou de tertúlia do grupo, poderá dizer-se  que o jornal A Ilha, mesmo não sendo um porta-voz do modernismo (nunca o foi), tornou-se o local mais visível  onde ele pôde manifestar-se, um espaço aberto a outros jovens como Eduíno Borges Garcia, Eduardo Bettencourt de Ávila, por exemplo,  e à colaboração diversificada que de Portugal chegava. É ainda o local privilegiado para observar o que foi nesses anos o esforço de renovação e também as resistências verificadas: aí está o eco das Conferências do CLAQ e dos recitais de Carlos Wallenstein no Cine Jade e no liceu, trazendo ao conhecimento do público micaelense a moderna poesia de língua portuguesa[1]; aí está o ensaísmo de Eduíno de Jesus, as polémicas literárias entre antigos e modernos (mesmo entre alguns modernos como Jacinto Soares de Albergaria e Pedro da Silveira), e já por 1953 o debate (ou polémica?) motivado pelos cinco textos de Eduíno Borges Garcia reunidos sob o título de “Por uma autêntica literatura açoriana”, os pruridos moralistas provocados pela exposição de Victor Câmara e que justificaram um ensaio de Eduíno de Jesus sobre o problema da moral na arte (10.5.1959) .

A partir de Maio de 1946, Eduíno de Jesus surge nas páginas d’A Ilha e no final da década torna-se uma presença regular, sobretudo como crítico e ensaísta.

Um texto de Eduíno de Jesus, intitulado precisamente “A nuvem e a deusa” (14/03/1953), traça-nos um quadro muito pouco animador das aragens   poéticas  de Ponta Delgada nessa altura e avança depois para uma reflexão sobre a verdadeira natureza da poesia (que não é uma simples questão de  queda ou de  jeito) e do poeta (que  vai muito para além do simples habilidoso). E  denunciava ainda  a tendência mais ou menos generalizada para levar à conta de poesia o que não o era, ou seja, para tomar a nuvem por Juno.

O texto não ficou sem resposta: quinze dias depois (28.3.1953) um articulista opinativo que assinava Manuel N. Geada,  acusando a leitura do texto de  Eduíno, escrevia que  muitas  «poesias actuais e futuristas»  não têm forma nem sentido e  alguns dos seus autores até nem são capazes de esclarecer ou interpretar aquilo que escreveram. O mesmo articulista aparecia depois em Abril (18.4.1953),  com a prova escrita de que também era capaz de ser poeta modernista, pelo menos modernista ao seu jeito, que era o de fazer prosa aos bocadinhos. E em Maio, já convertido ao espírito do mês, regressava ao sonetozinho clássico, com chave de ouro e tudo: «orando a Nossa Senhora/ viu gente que sofre e chora/ em busca de salvação» (23.5.53).

Textos posteriores de Eduíno de Jesus  continuarão esse trabalho de  (in)formação e crítica, um deles já referindo nomes que seriam considerados obsoletos noutras partes, mas que por estes lados ainda estavam  muito em moda. Percebe-se a persistência do crítico e ensaísta, se se tiver em conta que nos Açores os sapos-tanoeiros, parnasianos, aguados,  continuavam  a fazer sair dos prelos os seus cancioneiros bem martelados. E por mais aleatória que pareça a alusão a Manuel Bandeira, ela prende-se com o papel que, ao lado dos modernismos português e cabo-verdiano,  o modernismo brasileiro desempenhou na consciência literária deste grupo, como ainda há tempos me confessava  Eduíno de Jesus em mensagem electrónica (27/01/2006):  

«Manuel Bandeira é ainda hoje o “meu” poeta da  saudade (a minha grande saudade!) da tertúlia do Bar Jade. Vocês, os rapazes de hoje, não podem ler os “modernistas”  do  1º Modernismo português, o de 1915-17,  ou do modernismo brasileiro da Semana de Arte Moderna de 22, com a mesma emoção que nós, os rapazes de há 60 anos. Vocês já nasceram “modernos”, não há extravagância estética que não seja familiar a vocês. Mas nós tínhamos nascido românticos (podíamos admitir no máximo as ousadias realistas de um Cesário Verde), quando, de repente, descobrimos  Pessoa e o seu entourage paúlico-interseccionista-sensacionista/futurista. Foi o delírio! Os brasileiros vieram logo a seguir. Ler Bandeira em voz alta no Bar Jade e “gozar”  o arrepio que isso fazia o auditório bufar, remexer-se nas cadeiras ou pagar a conta e ir bocejar para outro lado, era um prazer malévolo nosso que jamais foi possível sentir de novo depois desse tempo passado.»

Recensões críticas a autores açorianos, ensaios sobre Virgínia Woolf  e Afonso Duarte ou sobre o sentido e a função da crítica, quadros panorâmicos da literatura nos Açores e da poesia em particular, um ensaio de longo fôlego sobre a  época literária de Roberto de Mesquita (em Portugal e em França) – tudo isso consta das páginas d’A Ilha. E neste domínio ensaístico e crítico, em jeito de aparte e saindo já desses anos cinquenta e da imprensa,  será ainda de referir a aprofundada introdução à Antologia de Poemas de Armando Côrtes-Rodrigues, e o Estudo Crítico que acompanha a Obra Poética de António Moreno e constitui por si  uma história da poesia açoriana da segunda metade do século XIX e da primeira do século XX.  Isto para dizer que há por aí material crítico e ensaístico à espera de uma recolha que lhe dê a visibilidade de conjunto que por ora nos escapa. Para dizer também que Eduíno de Jesus foi/é, entre os seus companheiros de grupo, aquele que mais longe levou uma reflexão sobre a natureza autónoma do fenómeno literário e poético, isto é, dotado de uma especificidade própria, em termos de processo e funcionamento, comunicação e linguagem  (enquanto que Pedro da Silveira se orientou predominantemente pela sua vertente  histórica e sociológica).

E é verdade ainda que por esses tempos começava a construir-se uma obra poética de invulgar rigor que viria a reunir-se em Os silos do silêncio. Mas isso é ultrapassar os limites temporais que me impus e para lá dos quais existiu, obviamente,  mais vida crítica e ensaística. Aquilo que me propus foi, sobretudo, dar conta de alguns traços que marcaram  os  meados do século XX em Ponta Delgada e dos quais é inseparável a figura de Eduíno de Jesus.

Se me é permitida uma nota  pessoal, direi, a terminar, que aquilo que desses tempos continua ainda a   tocar-me mais de perto é  a atitude de reflexão e prática locais  que dialoga com a pluralidade das referências externas, sem complexos e  sem a pretensão bacoca de se ser visto  «lá fora».  Entre o Bar Jade e o jornal A Ilha cabia, afinal,  o mundo todo &  arredores. Esta será talvez  a melhor lição deixada   aos que vieram depois. É também a melhor lição  que estes poderiam receber dos que vieram antes. Obrigado, Eduíno.

Urbano Bettencourt
Ponta Delgada, 10 de Junho de 2009

Urbano Bettencourt – Professor de Literatura do Departamento de Línguas  e Literaturas Modernas da Universidade dos Açores.
Nasceu na Piedade, ilha do Pico (1949). De  Raiz de Mágoa (1972) a  Antero (2006),  ficam cerca de dezesseis títulos de poesia, narrativa  e ensaio, além da participação em diversas antologias, nacionais e estrangeiras,  e obras colectivas. No domínio do ensaio,  tem privilegiado as literaturas insulares. Em Abril  último apresentou na Biblioteca Municipal  de São Roque do Pico  a 2 edição revista do seu livro Santo Amaro sobre o mar, com desenhos de Alberto Péssimo,numa caprichada edição da própria Câmara Municipal. É colaborador da Revista Magma,editada pela Câmara Municipal das Lajes do Pico, tendo coordenado o número 3.



[1] Lá estão, nos recitais de 19 e 23 de Setembro de 1949, nomes como os de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro, Eugénio de Andrade, Vitorino Nemésio, Violante de Cisneiros/Armando Côrtes-Rodrigues, José Régio, Miguel Torga, os cabo-verdianos Manuel Lopes e Jorge Barbosa, o brasileiro Manuel
Bandeira.

                   
                    Do Bar Jade ao jornal  A Ilha
 – alguns andamentos do tempo (2/2) URBANO BETTENCOURT

NOTA: Fotos de Célia Carmen Cordeiro

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