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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de O Escritor SAINT EXUPÉRY, o nosso “ZÉ PERRY, no universo ilhéu dos pescadores  do Campeche… Lélia Pereira da Silva Nunes
Comunidades 03 ago, 2009, 02:05

O Escritor SAINT EXUPÉRY, o nosso “ZÉ PERRY, no universo ilhéu dos pescadores do Campeche… Lélia Pereira da Silva Nunes

“Ele não era senão um barco perdido ao longe na calma do mar. Há, sem dúvida, Senhor, uma outra escala de onde esse pescador, lá naquele barco, me pareceria chama fervorosa ou nó colérico, puxando das águas o pão do amor por causa da mulher e dos filhos, ou o salário de fome. Ou então mostrar-se-ia a mim o mal de que padece e que o invade ou queima. Pequenez do homem? Onde vês pequenez? Não medes o homem com uma fita métrica. É, ao contrário, quando entro no barco, que tudo se torna imenso”.
                              Saint-Exupéry in Cidadela(1948)


Uma faixa de planícies, restingas, dunas, lagoas e praias que se estende por 3.800 metros, ocupando uma área de 1,21 km² “entre-mares”, a sudeste da Ilha, compreende a localidade de Campeche, que potencialmente desfruta de uma das mais belas paisagens naturais da Ilha de Santa Catarina.

No aspecto histórico-cultural, Campeche sobressai por seu interessante patrimônio arquitetônico, protegido por Lei Municipal : o conjunto formado pela igrejinha de São Sebastião do Mato de Dentro, o Império do Divino Espírito Santo e a Santa Cruz, que não obstante ter traçado singelo, ganha relevância por ser marco significativo da fundação do povoado. Segundo os registros da tradição oral, a Igreja de São Sebastião foi construída por uma abastada família da região, muito provavelmente a de Miguel Tavares, revelando a origem luso-açoriana do Arraial de lavradores e pescadores que aí floresceu.

A região passa por um processo de reorganização espacial e social, e novos moradores, migrantes nacionais e platinos, enriquecem o fazer e o saber cultural trazendo alterações nas formas tradicionais de viver da comunidade que, por muitas gerações, viveu unicamente da cultura de subsistência do café, do amendoim, do feijão, da mandioca e da pesca. Tais alterações não apagaram valores culturais sobreviventes de uma cultura de raiz açoriana. Valores que estão bem vivos como o artesanato da renda de bilro, o manejo da terra, a lida na pesca, a linguagem, as cantorias, as crenças, os hábitos do cotidiano, as festas populares, a religiosidade e a Festa do Divino Espírito Santo sua tradição mais cara.

Uma comunidade que guarda com orgulho na sua memória a lembrança das histórias do aeródromo construído pela Compagnie Générale Aéropostale utilizado como escala técnica obrigatória na rota Buenos Aires – Rio de Janeiro –Toulouse, do som barulhento dos aviões da Latécoére, em vôos noturnos, aterrizando com a ajuda providencial de lampiões acesos no morro Caboclo, hoje do Lampião, além da passagem do jovem piloto e escritor francês Antoine de Saint-Exupéry (1900-1944) autor de “Correio do Sul”, “Vôo Noturno”, “Terra dos Homens” “Cidadela” e do carismático “Pequeno Príncipe” que o imortalizou.
De 1929 a 1931 o “Zé Perri,” como era conhecido pelos pescadores locais, em suas inúmeras escaladas no Campeche conviveu com o universo do pescador ilhéu partilhando seus hábitos, a pesca e suas cantorias. Uma lembrança perpetuada na memória histórica do Campeche, na denominação da rua principal do Distrito que leva o nome da obra mais conhecida de Saint-Exupéry “Pequeno Príncipe”. Uma lembrança partilhada e documentada pelo escritor e seus companheiros da Aéropostale como na passagem citada por Saint- Exupéry no livro “Vôo Noturno”(1931) ou na carta escrita por seu amigo Léon-Paul Fargue, em que revela: “Quantas noites eu passei a esperá-lo, nervoso e tenso, não que ele sempre estivesse atrasado, mas porque eu sabia que estava em Florianópolis ou em Ciranaica, e o rádio nada nos dizia sobre o regime de seu motor” (Souvenirs de Saint-Exupéry, 1945).
No ano de 2000, no mês de junho,quando do centenário de nascimento do piloto-escritor, o suboficial da aeronáutica, músico e maestro da Banda NS da Lapa do Ribeirão da Ilha, Getúlio Manoel Inácio, também ele pescador, relatou em livro a amizade entre seu pai, o pescador Rafael Manoel Inácio- “seu Deca”, e o piloto Antoine de Saint-Exupéry. Um minucioso registro de estórias e depoimentos publicados numa singela edição bilíngüe (português-francês) resgata e restabelece a verdade de fatos guardados na memória coletiva da comunidade: a história de “Deca e Zé Perri”.
Naquela época, os aviões tinham pouca autonomia de vôo e as dunas gramadas do Campeche eram pouso obrigatório das linhas que transportavam correio aéreo na rota Paris-Dacar-Rio de Janeiro – Buenos Aires-Toulouse. As paradas serviam para revisar e reabastecer as aeronaves e para que os pilotos descansassem. Assim nasceu a amizade entre o pescador Manoel Inácio, o Deca, e o aviador Saint-Exupéry, chamado de “Zé Perri” por ele e os outros moradores do Campeche, que não conseguiam pronunciar o nome francês. Eram jovens. Deca tinha uns 20 anos e Exupéry 27. O ilhéu ensinou o piloto-escritor a capturar e a preparar peixes que eles faziam ensopados e comiam com o pirão d’ água (preparado à base de caldo de peixe e farinha de mandioca), a conviver com os costumes praieiros daquela gente simples e hospitaleira.
Há sessenta e cinco anos atrás, no dia 31 de julho de 1944, o piloto Antoine de Saint-Exupéry levantou vôo de Borgo,na Córsega,para a sua última missão,durante a II Guerra Mundial. Jamais voltou. Seu avião,um Lightening38 desapareceu sobre o Mediterrâneo.
Enquanto em Paris, a data foi celebrada com um grande colóquio que reuniu estudiosos da obra de Saint-Exupéry,em especial “O Pequeno Príncipe” que com quase duas centenas de traduções tem sido tema de inspiração de peças de teatro, canções, filmes, documentários e exposições; aqui, na Ilha de Santa Catarina, numa comunidade de pescadores, em tempo de Festa do Divino Espírito Santo, o aniversário de morte de Saint-Exupéry é reverenciado com saudade do amigo que um dia aqui passou e partiu levando um pouco do ser ilhéu e deixou muito de si entre as dunas e o mar verde do Campeche.
       
     Florianópolis, 31 de julho de 2009
  Aos 65 anos da Morte do Escritor Antoine de Saint-Exupéry

Imagem:http://portal.chaminade-stl.com/Portals/48/Saint-Exupery.bmp

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