Saltar para o conteúdo
    • Notícias
    • Desporto
    • Televisão
    • Rádio
    • RTP Play
    • RTP Palco
    • Zigzag Play
    • RTP Ensina
    • RTP Arquivos
RTP Açores
  • Informação
  • Legislativas 2025
  • Antena 1 Açores
  • Desporto
  • Programação
  • + RTP Açores
    Contactos

NO AR
Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de PÃO-POR-DEUS
Sérgio da Costa Ramos
Comunidades 04 out, 2009, 16:09

PÃO-POR-DEUS Sérgio da Costa Ramos

"Ó bela moça dourada
desta Ilha encantada
me mande o pão-por-Deus
e seja a minha amada."
       Raul Calda Filho,In:Vechietti Pão-Por-Deus,2001:85



Popularíssimo nos Açores e em Portugal, o “Pão-Por-Deus” é a brincadeira das boas almas, plenas de candura e de amor, nesses tempos tão bicudos e tão conflagrados pela guerra, pela cizânia e pela incompreensão.

Esses versinhos desdobráveis faziam furor na Desterro do século 19, como uma mensagem de simples amizade entre as pessoas. Ou um “agrado” movido por um “coração doce” na conquista de algum “prometido” ou “prometida”. Os de intenção galante também eram conhecidos por “Corações-por-Deus” – enquanto endereçados com essa expectativa romanesca.

O versinho simples e despretensioso solicita ao destinatário alguma dádiva, um “Pão-por-Deus”. Querendo sugerir, talvez, que dar de comer ao corpo ou ao espírito de um necessitado é o melhor caminho para se obter um “superávit” nos cadernos do Senhor.

Os pequenos corações conhecidos por “Pães-por-Deus” são mensagens minimalistas, registradas à mão num papel multicor, recortado em engenhosas filigranas e rendilhado por paciente tessitura, autêntica tapeçaria do “bem-querer”. Alguns desses corações demandam até uma certa “arte” e um certo “jeito” para abri-los, sem rasgar o frágil papelzinho. No interior, em rima simples, um pedido, uma mensagem de fé ou de amor – embora não fosse incomum o chiste eivado de fina ironia.

Em Floripa, relata o nosso inesgotável e múltiplo Oswaldo Cabral, o “Pão-por-Deus” começava a cumprir seus itinerários no finalzinho de outubro e início de novembro, como um prenúncio da afetuosa atmosfera do Natal – e a decorrente generosidade dos espíritos.

Até o cronista andou “cometendo” os seus próprios “Pães-por-Deus”, embora trocando o ânimo naturalmente pacífico desses corações por enérgicas mensagens eróticas ou guerreiras, as últimas à guisa de combater maus políticos e governantes.

Com os salários do funcionalismo estadual em atraso, perpetrei:

Um Pão-por-Deus ao valente/ Funcionário que não recebe/ Ao governador, água que gato não bebe/ E que o diabo o carregue/.

Aos políticos da época, meados dos anos 90, legítimos precursores dos “mensalistas”, dediquei:

Abra com paciência/ O lacinho desse isopor/Aqui vai um “Pum” por Deus/ Pros políticos istepor/.

Para as bruxas e as belas da Lagoa da Conceição, reservei o meu melhor “Pão” erótico:

Aqui vai meu coração/ Embrulhado em renda ilhoa/Quero que enterrem meu bilro/ Bem no ventre da Lagoa/…

Numa graciosa roda de papel crivada de coraçõeszinhos, desembarca aqui em casa – pelo velho Correio e não por e-mail, pois a “modernidade” não combinaria com o regalo – um “Pão-por-Deus” a mim endereçado pela amável leitora Désia Cavalheiro. Simpaticíssima mensagem, que dizia:

Aqui vai meu coração/ Envolto nas brumas da Ilha/ Oferto aos meus amigos/ Tão singela maravilha…/

Sensibilizado com o presente – e com a artística “engenharia” que dividiu o círculo cravejado de corações em exatos 18 gomos, 18 avos de pura inocência e candidez – apresso-me a responder tão delicada mensagem por meio desta janela impressa, “avionando” o seguinte e extenso “Pão-por-Deus”:

Leitora amiga, Deus te bendiga/ Mando daqui meu coração/ Mesmo junto com a barriga/ Pois teu pão animou o mandrião!/.

 Foto: Victor Alves, Ed.Bernúncia.
sergio.ramos@diario.com.br
 
_____________________________________________________________________
Sergio da Costa Ramos
Nasceu em Florianópolis, Santa Catarina. Jornalista e escritor.Assina uma coluna de crônica no Jornal Diário Catarinense com saídas diárias.É Membro da Academia Catarinense de Letras. Da sua produção literária mais recente, destacam-se as obras: Sorrisos meio sacanas; O plano surreal; Rapsódias do mundo Bin – Ou não confia nem no carteiro; Piloto de Bernúnça; Costela de Adão – De um fiel às mulheres e a boa mesa e Duas Violas Arteiras (com Flávio Cardozo)

RTP Play Promo
PUB
RTP Açores

Siga-nos nas redes sociais

Siga-nos nas redes sociais

  • Aceder ao Facebook da RTP Açores
  • Aceder ao Instagram da RTP Açores

Instale a aplicação RTP Play

  • Descarregar a aplicação RTP Play da Apple Store
  • Descarregar a aplicação RTP Play do Google Play
  • Programação
  • Contactos
Logo RTP RTP
  • Facebook
  • Twitter
  • Instagram
  • Youtube
  • flickr
    • NOTÍCIAS

    • DESPORTO

    • TELEVISÃO

    • RÁDIO

    • RTP ARQUIVOS

    • RTP Ensina

    • RTP PLAY

      • EM DIRETO
      • REVER PROGRAMAS
    • CONCURSOS

      • Perguntas frequentes
      • Contactos
    • CONTACTOS

    • Provedora do Telespectador

    • Provedora do Ouvinte

    • ACESSIBILIDADES

    • Satélites

    • A EMPRESA

    • CONSELHO GERAL INDEPENDENTE

    • CONSELHO DE OPINIÃO

    • CONTRATO DE CONCESSÃO DO SERVIÇO PÚBLICO DE RÁDIO E TELEVISÃO

    • RGPD

      • Gestão das definições de Cookies
Política de Privacidade | Política de Cookies | Termos e Condições | Publicidade
© RTP, Rádio e Televisão de Portugal 2025