As Ilhas são de Guardar como os Segredos
As ilhas sabem a mar
E encostam no cais dos teus olhos
Como se te chamassem…
As ilhas são uma frota de barcos pretos e
São de guardar como os segredos.
Nunca digas quantas sabes;
Nunca digas a que sabem
As ilhas,
Porque
Elas sabem do sal e do ondular das asas
Das aves que, poisadas à proa
Indicam o norte dos teus passos.
As ilhas são de conter;
Chão.
Mão.
Braço.
Por vezes Ombro.
As Ilhas embrulhadas em sargaço
São de água e sal.
E há ondas por escrever nas asas das gaivotas,
Poemas por dizer nas suas penas;
Palavras por falar que lhes caiem dos bicos
E enchem cestos nas vindimas
Das ilhas que não te posso contar porque são segredo,
Arma.
Espaço.
Lágrima.
Voo.
Nó.
Gente.
Rima.
Linha.
Marinheiro e Pescador, a distinção que precisa
A diferença entre os dois.
As ilhas, dizia, são de guardar como os segredos,
De decorar sem adornos, saber uma a uma,
De escalar sem tirar bocados,
De saudar como a chegada dos amigos.
As Ilhas são de guardar como os segredos;
Escrevem-se com I maiúsculo
E tomam a forma que quiseres.
Sal.
Água.
Laços
Da nossa Gente.
Janeiro 2010
Mariana Matos tem publicado em jornais e revistas regionais e nacionais,figurando em diversas antologias. Coordenou desde 2005 até 2009 o Suplemento de Cultura (mensal) do tradicional jornal Açoriano Oriental. Mantém o Blog Ardemares: http://ardemares.blogspot.com. É licenciada em Linguas e Literaturas Modernas, estudos portugueses e Alemães pela Faculdade de Letras de Lisboa
Gosto muito da sua escrita Se, de um lado, sua prosa e poesia espelham os seus sentimentos, memórias, a vida no arquipélago açoriano e suas tradições, por outro, suas crônicas, com freqüência, revelam uma escrita corajosa, ousada, coerente com as posturas políticas e sociais que acredita e defende
Créditos: Foto de Helder Blayer Góis