Com imenso prazer apresento a participação do escritor canarino Juan Carlos de Sancho Ravelo, uma voz forte a falar sobre o mundo Ilhas e a identidade cultural insular. É, sem sombra de dúvida, um dos grandes nomes da literatura criativa da Macaronesia. Natural de Las Palmas de G.C, Ilhas Canarias, Espanha (1956). Poeta, escritor, guionista e desenhista. Colunista e crítico de arte em páginas culturais de periódicos e revistas européias e, também, da América (Argentina, Cuba, México e Brasil). Cofundador da Revista de Literatura e Artes Puentepalo (1980) e codirector da Editora Puentepalo (2001). Atualmente dirige a editora “El Rinoceronte de Durero”. Antólogo de poetas canarios na Italia, México e Argentina. Publicou La Fiesta del Desierto (1986), Manuel Vázquez Montalbán en Memoria (2004, prólogo José Saramago), El Confital. Ningún pájaro vuela donde el aire no existe (2005). Em 2007 publica o conto El tren del Infinito / O Comboio do Infinito (edição bilingüe espanhol-português, com ilustrações do própio autor), La Isla Inventada (ensaio, Universidade Nacional de Irlanda, Universidade Sinaloa-México); The Invented Island (ensaio, revista NEO, Universidade dos Açores, 2008) e Las Unidades Fugaces (2008), Canarias Lee 2008 ( Antología Cuentos, Universidad de Las Palmas de Gran Canaria), O Comboio con asas (Antología cuentos- Madeira, 2009). Está traduzido em inglês, português e italiano.
Nos últimos anos, tem sido uma presença constante e destacada como palestrante em diferentes Encontros Internacionais de Literatura.
Por último, quero dizer que conheci Juan Carlos de Sancho alguns anos atrás no “Colóquio Arquipélagos do Desejo” realizado na bonita Funchal, cidade-capital da Madeira, situada numa baía acariciada pelo azul do mar, um imenso “lápis-lazúli,” e pelo verde chocante de mil tons de suas montanhas.
O Colóquio,coordenado por Maria Aurora Carvalho Homem, teve por palco o imponente Teatro Municipal Baltazar Dias, Salas amplas, elegantes e janelas abertas para o Jardim Municipal. No Jardim em frente uma sinfonia de sons e de tons lilases, das flores dos jacarandás, caíam em profusão, uma chuva de pétalas, brindando-nos na luminosa tarde de maio.
No ambiente do colóquio, as falas se sucediam. Ora fortes, ora suaves. Criativas, laboratórios de pensamentos, de sabedorias, de artes e de histórias de vida insular, numa compreensão do sentido de pertencer a um território que tem o mar por limite, que é referência de identidade. Em sua “ponencia canarina”, num vagido de rebeldia vindo do meio do mar, Juan Carlos de Sancho falou das Ilhas em sua relação dialética com o mar, enfatizando fortemente que as “Ilhas abertas para o mundo, são placas giratórias de cultura a coexistir com um profundo sentimento de individualidade e de consciência de si mesmo.”
Sua ponencia revolucionária não se esgota. Sim, “la revolución de las hormigas”! Como um Dom Quixote avança com a palavra em riste, uma lança, na defesa do Mundo-Ilha.
Neste interessante ensaio-artigo “El Renacimiento está en las islas” argumentando que um novo Renascimento está nas Ilhas afirma que os continentes estão colapsados, uniformizados, homogeneizados. Já, o Mundo-Ilhas sabe resistir e esperar a hora certa para oferecer ao mundo “nuestros descubrimientos metafóricos”. A receita ideal, a fórmula vital para sair do caos, do abatimento e do nihilismo da cultura atual no mundo. Em seu ensaio estabelece alguns conceitos para os Arquipélagos: Canárias,Cabo Verde e Antilhas, Madeira e Açores com capacidade para oferecer alternativas criadoras a tanto desassossego e cepticismo.
No Comunidades, a palavra canarina do amigo e homem das letras e das artes Juan Carlos de Sancho Ravelo, a voz de rebeldia que vem das Ilhas.
Lélia Pereira da Silva Nunes
13 de Janeiro,2010
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Crédito Imagens:
foto de Juan Carlos de Sancho
capa do Livro El tren del Infinito, arte de Juan Carlos de Sancho