em busca do poema (*)
a
Miguel F. Côrte-Real
Não espero descortinar a verdade
dos paraísos onde vagueiam os deuses…
nem cuido saber se vim de livre-vontade
dormitar no prateleiro dos deserdados
no chão curvado da eternidade…
Não espero saber se os gemidos
deste doer amigo e tão disperso
são ecos de penares antigos:
sou apenas co-herdeiro do universo
com licença da morte p’rá vida eterna…
festival de enganos a serpentear certezas
na mira matemática das ideias…
quando a aurora do pensamento acontece
e a dúvida nos espreita entre dois pontos
a qual deles afinal obedece?
marchar com a coragem de ter medo
mas sem temor das curvas do mistério;
atlanta comovido a oeste do dilema,
cativo na vala-comum duma espera
em queda livre em busca do poema…
—–
2002
(*) Publicado em (Re)verso da Palavra de João-Luís de Medeiros (2007)