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Em resposta ao estudo levado a cabo por investigadores da Brown University, “The Immigrant Paradox: New report shows how immigrant children are thriving in schools, community”
– http://news.brown.edu/pressreleases/2010/09/immigrants –
a Professora Dra. Dulce Maria Scott, (Anderson University, Indiana, USA, e investigadora no Institute for Portuguese and Lusophone World Studies, Rhode Island University College) escreve o seguinte comentário:
A evidência recolhida neste estudo, levado a cabo por investigadores da Brown University, é consonante com o que eu tinha afirmado no meu próprio estudo (divulgado aqui na semana passada – http://ww1.rtp.pt/icmblogs/rtp/comunidades/?m=09&y=2010&d=09).
A saber, contrariamente ao que tem sido assumido por teorias clássicas de assimilação, a americanização, ou seja, a adopção dos valores e do modo de vida da cultura americana, e principalmente os da cultura aposicional e pós-modernista deste país, conduz os filhos dos imigrantes manuais à obtenção de resultados negativos a nível académico, enquanto a manutenção da cultura ancestral no seio das comunidades imigrantes, ao proteger os filhos dos aspectos mais negativos dessa cultura aposicional, os conduz a um nível mais elevado de sucesso académico. Este estudo aponta-nos, como também tenho argumentado, para a importância da construção de etnicidade, isto é, da manutenção, reprodução e transmissão aos filhos da cultura e língua materna–da língua portuguesa, no caso das nossas comunidades imigrantes, oriundas de países da CPLP.
A manutenção da cultura ancestral, à medida que a integração na sociedade, economia e cultura americanas vai ocorrendo (aculturação selectiva) — e, consequentemente, a manutenção de bilinguismo e de multiculturalismo–é de acrescida importância no mundo de globalização económica em que hoje vivemos, contribuindo para um maior acesso por parte das nossas crianças à económica global e a uma identidade cosmopolita a nível planetário. Devo de salientar um aspecto que não é mencionado nesta reportagem, mas que talvez o seja no todo do estudo, que no contexto vigente de globalização económica e do seu modelo congruente de migração internacional bipolar (imigrantes manuais versus imigrantes profissionais), que as conclusões a que aqui chego são de acrescida importância para as comunidades de imigrantes manuais, como o têm sido, em grande parte, as oriundas dos países da CPLP.
Os filhos dos imigrantes profissionais beneficiam, à partida, da transnacionalidade e mundividência global dos pais, os quais, logo à chegada aos Estados Unidos, são integrados dentro da economia e comunidades do “mainstream” americano (um mainstream que hoje em dia é internacional), obtendo emprego nas empresas multinacionais, hospitais, instituições de investigação, institutos e universidades americanas, e, como tal, possuindo os meios financeiros, sociais e culturais que lhes permitem proporcionar aos seus filhos uma educação de alta qualidade nas escolas do ensino privado dos Estados Unidos, que hoje em dia enfatizam, precisamente, a sua capacidade de proporcionar aos seus alunos esse acesso a uma economia e cosmovisão e mundividências multiculturais a nível planetário.
Neste novo contexto pós-industrial e planetário, uma aculturação selectiva (isto é, de uma integração nas instituições americanas com uma manutenção simultânea do bilinguismo e do multiculturalismo) tem mais valor económico e cultural do que uma integração total na cultura dos Estados Unidos, tanto na cultura afirmativa típica das classes médias, como na cultura aposicional mais típica das classes sociais mais baixas e excluídas, que hoje em dia se encontram concentradas nas zonas centrais das cidades americanas.
Dulce Maria Scott, Ph.D.
Anderson University & Institute for Portuguese and Lusophone World Studies, Colégio Universitário de Rhode Island
September 19, 2010