O pintor Willy Alfredo Zumblick – ícone das artes plásticas catarinense com inegável talento registrou a história e a cultura popular catarinense. Sua arte é vida e seus trabalhos, numa explosão de sensibilidade retratam cada momento por mais simples e fugaz que possa ser. Fala do cotidiano, dos tipos humanos, dos folguedos, das festas tradicionais, das paisagens e principalmente da história catarinense. O universo da sua vasta produção está expresso em mais de cinco mil obras, além de esculturas, murais, painéis, monumentos, retratos e caricaturas. As grandes vertentes de sua arte pictórica compreendem : A Saga de Anita Garibaldi, Guerra do Contestado, Cultura Popular e a Bandeira do Divino, sua grande marca – “Pintor das Bandeiras do Divino.”
Desde a sua primeira exposição realizada em 1939, noticiada com júbilo no jornal tubaronense A Imprensa de Manuel Aguiar, até a sua morte em abril de 2008, Zumblick foi incansável no seu saber artista e no seu fazer cidadão. Hoje, de maneira particular, quero lembrar o “ seu Willy”, uma tipicidade ímpar de homem comprometido com as causas da sociedade tubaronense. Tudo que fosse para o bem de Tubarão e de Santa Catarina contava com o seu apoio irrestrito. Sempre foi assim – inquieto, dinâmico e visionário – colocando-se à frente de campanhas e iniciativas que promovessem o desenvolvimento social e econômico de Tubarão. Fez do pincel o seu instrumento de luta e da pena contumaz a sua voz na defesa da sua terra. A propósito deste perfil singular, humanitário e idealista, escreveu o jornalista Laudelino Santos Neto, no artigo “Zumblick,o monge construtor catarinense” publicado no Jornal O Estado em 1986 : “O pintor não apenas pinta,é um membro atuante de sua cidade,líder de centenas de causas.Mesmo que por infelicidade nossa não pintasse nada,seria um dos homens mais importantes da sua geração(…)”
A genialidade do pintor e a generosidade do cidadão fazem parte da memória coletiva, das mundivivências de gerações de tubaronenses que tiveram a dádiva de conhecer o mestre Zumblick, a nobreza de caráter nas constantes diligências em defesa de sua gente, o ótico competente e atencioso no trato com seus clientes ou ainda a sua imensa simplicidade e humildade ao aceitar sem pestanejar o pedido de uma criança para ilustrar um trabalho escolar.
Meus dedos repousam no teclado,as palavras ficam suspensas entre o ontem e o hoje enquanto o pensamento dispersa, alça voo, viajando por caminhos do imaginário…“The past is never dead. It´s not even past” escreve William Faulkner. No carrosel do tempo, o passado se faz presente e deixa fluir suavemente lembranças que pareciam esquecidas: um traje de índia pintado pelo “seu Willy”, uma menina travessa se apresentando na festa da Igreja numa fria noite de maio.
Retorno ao texto.Passa da meia noite, já é amanhã. No calendário sobre a mesa espio a data: 26 de setembro, aniversário do artista Willy Zumblick.
Reverencio a generosidade do cidadão e a genialidade do artista!
Lélia Pereira da Silva Nunes
Florianópolis,26 de setembro de 2010
Nota:É autora de Zumblick,uma história de vida e de arte,Ed.Senado Federal(1993); Entre Penas e Pincéis,(Org.)Ed.Universitária, 1998 e de inúmeros artigos publicados em antologias e,revistas e periódicos sobre o pintor brasileiro Willy Zumblick