O Prémio Nobel da Literatura 2010 foi atribuído ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, pela “cartografia das estruturas do poder e afiadas imagens de resistência, rebelião e derrota do indivíduo” presentes nas suas obras. 
Vargas Llosa, atualmente professor convidado da Universidade de Princeton (EUA), se surpreendeu com a escolha da Academia Sueca e disse que o prêmio é “um reconhecimento  à literatura latino-americana e em língua espanhola”. Atribui a conquista à sua vida dedicada à Literatura.  E,sem sombra de dúvida, é o que continuará a fazer – Literatura -, o  escritor que é  uma das vozes mais fortes e respeitadas na literatura latino-americana, na defesa das coisas  que são essenciais para o Peru, para a América Latina e o Mundo.  Uma postura frontal que  se reflete em seus livros, seja nos ensaios críticos, seja na ficção onde explora largamente a identidade latino-americana.
 Em mais de um século de existência do prêmio, Mario Vargas Llosa é apenas o sexto escritor latino-americano a receber um Nobel. Antes dele, foram premiados a escritora chilena Gabriela Mistral (1945), o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1967), o também chileno Pablo Neruda (1971), o colombiano Gabriel García Márquez (1982) e o mexicano Octavio Paz (1990).
Autor de romances marcados fortemente por questões políticas e sociais da América Latina,  destacando-se “A cidade e os cachorros”, “A Casa Verde”, Conversa na Catedral,  “Pantaleão e as visitadoras”, Tia Julia e o Escrevinhador ,”A festa do bode” e “Travessuras da menina má”, Llosa já havia recebido, entre outros, o Prêmio Cervantes, o mais importante da literatura em língua espanhola, em 1994. 
O Brasil tem sido tema  recorrente  em ensaios ou romances, como em “A guerra do fim do mundo”, de 1981, inspirado na Guerra de Canudos,no interior da Bahia. Na  semana passada, o escritor peruano esteve no Brasil. Mais precisamente em Porto Alegre como conferencista convidado do Fronteiras do Pensamento, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
Sua breve visita a Porto Alegre e à URGS, no dia 14 de outubro,  fez-me  recordar  o  tempo de estudante do Curso de Ciências Sociais  em Porto Alegre, na altura dos anos 1968 e 69, quando sua obra era tema de debates acalorados por uma geração de universitários que sonhava com a conquista da liberdade e da democracia , com o fim da opressão e da noite que cobriu todo o País.  Uma  literatura que rasga as veias de um continente e expõe para o mundo a alma  latino-americana.  “Conversa na Catedral,” publicado em 1969, lido e relido muitas vezes, seria o primeiro  de muitos outros sobre os quais  me debrucei na sua leitura. Obras que fizeram parte da minha formação de socióloga, de professora de Sociologia e de mulher brasileira.
 Na sua conferência na URGS, Vargas Llosa, defendeu a democracia, a liberdade de expressão e falou sobre Cultura. Expressou seu medo de  que o livro eletrônico leve à banalização da Literatura, ao  afirmar: “É uma realidade que não pode ser detida. Meu temor é que o livro eletrônico provoque uma certa banalização da literatura, como ocorreu com a televisão, que é uma maravilhosa criação tecnológica, que, com o objetivo de chegar ao maior número de pessoas, banalizou seus conteúdos”. “Temos de impor ao livro eletrônico a riqueza de conteúdo que teve o livro de papel. “
Não faltam projetos e muito menos  “garra” para trabalhar ao escritor premiado aos 74 anos e que se prepara para o lançamento no início de novembro, em Madrid,  de seu novo romance “El Sueño del Celta”, baseado na vida do irlandês Roger Casement (1864-1916),diplomata britânico que viveu muito tempo no Congo e na Amazônia tendo documentado  com precisão os abusos  e violações de direitos humanos,tecido crítica implacável contra o colonialismo europeu e lutado pela independência da Irlanda. 
O Prêmio Nobel de Literatura 2010, Mario Vargas Llosa, em seu livro mais recente lançado no Brasil,”Sabres e Utopias”- uma coletânea de ensaios e artigos sobre a América Latina, organizada pelo escritor colombiano Carlos Granés, permite visualizar a sua trajetória tanto literária quanto política. Temos aí a  fotografia da sua maneira de pensar e de sentir, retratando a face do crítico contundente diante de temas políticos e econômicos ou  a face do intelectual brilhante no debate de temas culturais e literários deixando fluir a sua sensibilidade  e sabedoria do homem de letras.
                       Lélia Pereira da Silva Nunes
                 Florianópolis,16 de outubro de 2010
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Legenda e Crédito Imagem:
Conferência Fronteiras do Pensamento, Porto Alegre.14/10/2010,
De Tarsila Pereira
Nota Biobliográfica:  
Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru. Professor universitário, académico e político, é uma personalidade intelectual de grande vulto e um dos mais importantes escritores da América Latina e do mundo. Da sua vasta obra, destacamos A Cidade os Cães (Prémio Biblioteca Breve, 1962; Prémio da Crítica Espanhola, 1963), A Casa Verde (Prémio Nacional do Romance do Peru, Prémio da Crítica Espanhola, Prémio Rómulo Gallegos, 1963), Conversa n’ A Catedral (1969), Pantaleão e as Visitadoras (1973), A Tia Júlia e o Escrevedor (1977), A Guerra do Fim do Mundo (1981; Prémio Ritz-Hemingway – 1985), História de Mayta (1984), Quem Matou Palomino Molero? (1986), O Falador (1987), Elogio da Madrasta (1988), Lituma nos Andes (Prémio Planeta, 1993), Como Peixe na Água (1993), Os Cadernos de Dom Rigoberto (1997), Carta a uma Jovem Romancista (1997), A Festa do Chibo (2000), O Paraíso na Outra Esquina (2003) e Travessuras da Menina Má (2007).
Foi galardoado com muitos dos mais destacados prémios literários internacionais, entre eles o Prémio PEN/Nabokov, o Prémio Cervantes, o Prémio Príncipe das Astúrias e o Prémio Grinzane Cavour.
fonte: http://www.portaldaliteratura.com/noticias.php?id=301#ixzz12a1OLhdu