Nosso Natal é assim…
Muda o mundo, mas o Natal é sempre Natal, com toda sua magia e encanto.
As cidades se vestem para o Natal cada ano mais cedo. Mal acaba Outubro e o Natal já está nas ruas, praças e lojas a deslumbrar a vista. Não há quem resista ao seu apelo de valor simbólico extraordinário. Respira-se Natal.
Se ontem os dias eram compridos, as horas marcadas com lentidão e o Natal custava tanto a chegar,hoje, o tempo voa, atropelando as horas, os dias e o ano se esvai num piscar de olhos. São as mudanças do tempo, “que ora nos traz esperanças, ora nos dá a incerteza” escreveu o poeta Mário Quintana.
O Natal traz esperanças em abundância e o desejo potencializado de confraternizar, de celebrar, de acreditar que o milagre da Noite Santa se reproduzirá nos 366 dias do próximo ano que será bissexto.
Cada um a seu jeito, de acordo com suas tradições e culturas celebrará o renascer de um novo tempo esteja a onde estiver. Seja num branco Natal do hemisfério norte seja no Natal tropical do hemisfério sul.
Isso faz lembrar os dezembros de minha meninice, na minha Tubarão, quando ao entardecer um céu tingido de vermelho lá na linha do horizonte chamava minha atenção. Minha mãe contava que o céu estava em festa se preparava para a vinda do Menino Jesus. Os campos, muito verdes resplandeciam cobertos por uma profusão de margaridinhas amarelas que florescem nesta época do ano. Um amarelo tão lindo que até parece que o sol derramara seus raios com desleixo e ali deixou-se ficar.
A árvore de Natal era enfeitada no primeiro dia de Dezembro. Ficava prontinha com presépio e tudo. Porém, como manda a tradição, sem a figura do Menino Jesus que era entronizada na Noite Santa e os Reis Magos a seis de Janeiro. Nada era esquecido: a barba de velho, os seixos, a estrela de ouropel, as delicadas bolas e enfeites de todos os feitios que brilhavam no tremular das velas coloridas presas nas pontas dos galhos, mais tarde substituídas por cordões de pequeninas lâmpadas pisca-pisca a cintilarem com sua luz branca, iluminando nossa árvore como os pirilampos em noites de verão.
Imagens que chegam à lembrança enquanto vou enfeitando a nossa árvore de Natal. Viajo pelos caminhos da memória. Vasculho reminiscências de outros natais: da menina, da jovem cheia de sonhos, da mulher-mãe e dos natais dos nossos filhos. Revisito momentos e pequenas tradições cúmplices da minha história de vida.
Com toda a nossa gostosura tropical e o sol de verão a pino nossa gente se encanta com as imagens natalinas de paisagens nevadas, bonecos de neve e um Papai Noel sorridente com roupas vermelhas salpicadas de flocos branquinhos. Natais de inverno ilustrando os poucos cartões de Boas Festas entregues pelo Correio ou as mensagens por email que deságuam em abundância pelo correio eletrônico. Imagens luminosas de gravuras coloridas, delicadas cheias de beleza. Também o meu imaginário voa em trenós encantados por aquelas terras do Natal com neve.
Ah, o Natal tropical! Ensolarado, quente e tão diferente do branco Natal do hemisfério norte.
Nosso Natal é assim: têm cheiro e cor de verão, de mar, de sol, de chopinho gelado, de pele bronzeada, dourada, de água de coco, de caipirinha, de samba. Frio ou gelado só o sorvete, de todos os sabores tropicais.
Nosso Natal tem o aroma indescritível de canela, de cravo, de frutas secas que impregnam a casa e que se misturam aos cheiros e sabores da cozinha onde são preparados os pratos salgados, os doces e o bolo de Natal feito com mel e frutas, receita de família, rabiscadas num velho caderno que passou de mão em mão no correr da vida.
O verdadeiro encanto do Natal catarinense está na essência do celebrar no seio das famílias, entrelaçando usos e costumes, sejam eles açorianos, germânicos, italianos, eslavos ou outras etnias. Assim, na pequena cidade de Nova Veneza colonizada por imigrantes italianos, no sul catarinense, terra do escritor Celestino Sachet, algumas famílias na ceia de Natal costumam servir macarronada com bacalhau. Convergência de Culturas. Multiculturalidades tecidas na grande teia da vida como a aranha que tece a teia e captura o alimento.
É o tempo natalino tomando conta do nosso coração. É hora de reflexão e de atitudes positivas, de se juntar ao esforço coletivo e solidário para que todos tenham um Feliz Natal.
Vamos como uma aranha tecelã…
Capturar 2012 e tecer a teia do bem viver: entrelaçando os fios da amizade, do amor, da paz. Deixar flanar suavemente um novo tempo, partilhando: sonhos, realizações e esperanças no amanhã.
Viva a alegria de mais um Natal !
Lélia Pereira da Silva Nunes
Florianópolis, Ilha de Santa Catarina
Dezembro de 2011