na casa do campo
naquela onde mais e menos vivo
a minha mãe prevalece e reza
como se me não tivesse
em maio de 45.
casa de campo e da ilha
minha febre água de bica
conrrendo nos meus sábados de lá ir
escutar os milhos escutar o povo.
mais e menos poeta
as noivas procuram-me de enxoval
nos braços
e eu desenho-lhes os sonhos
risco-lhes as toalhas e
vejo-as ir à igreja casar.
na casa do campo sou asceta.
cresço linho de bordar
ouço os sinos vou à missa
e como povo canto deus
para me cansar.
é nisto que reside
o meu correr de vivo o meu verbo ser-me.
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lua de ganga
quando te via
na ganga azul do teu fato
embandeirava-me de ternura
e propunha despir-te como
se lua fosses ou nada
tocava
com a ponta dos dedos
o poema do teu corpo
era azul mas eu morria de medo.
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Álamo Oliveira (José Henrique do) nasceu na freguesia do Raminho – ilha Terceira, Açores. Como escritor tem 35 livros publicados com poesia, romance, conto, teatro e ensaio. Está representado em mais de uma dezena de antologias de poesia e ficção narrativa, em Portugal e no estrangeiro. Tem poesia e prosa traduzidas para inglês, francês, italiano, espanhol, croata, esloveno e japonês. O seu romance Já não gosto de chocolates foi traduzido e publicado nos Estados Unidos da América e no Japão. Até hoje, memórias de cão (3ª edição) recebeu o prémio «Maré Viva», da Câmara Municipal do Seixal, em 1985; Solidão da Casa do Regalo (teatro) recebeu o prémio «Almeida Garrett», em 1999.Em 2010 lançou “andanças de pedra e cal” (Angra do Heroísmo, BLU edições, 2010).
Em 2010 Álamo de Oliveira foi distinguido com a Insígnia Autonómica de Mérito Profissional pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.