PENTEANDO A MEMÓRIA 17
Carlos Enes
Foi grande a mobilização para receber o Presidente da República, Óscar Carmona, 40 anos depois da passagem de D. Carlos pelas ilhas. A baía da cidade encheu-se de barcos engalanados, cheios de raparigas a entoarem cânticos, e as ruas de Angra, por onde passava o cortejo, foram atapetadas com ramos de cedros, hortênsias e alguns arcos na Rua de Lisboa (Rua Direita). Nas varandas penduraram-se colchas regionais e, antes da chegada do “Carvalho Araújo”, onze filarmónicas percorreram as principais artérias. As montras das lojas apresentavam cartões com dedicatórias elogiosas. A da Casa Tarrafeiro, dizia o seguinte: “A Ilha Terceira, antiga capital dos Açores, por duas vezes sede do governo português, vibra de entusiasmo patriótico abrindo a sua alma portuguesa para receber solenemente Aquele que vem a bem da Nação. Viva o Senhor general Carmona”.
A euforia dos legionários
Recepção na baía de Angra
Decorria o ano de 1941, momento em que a ideologia do Estado Novo estava no seu apogeu. As fotografias do evento mostram, de forma evidente, a euforia da Mocidade e da Legião Portuguesas, com a saudação fascista e os vivas ao Presidente a ecoarem por todo o lado.
No protocolo levado a rigor, marcaram presença as autoridades civis e religiosas, que tinham sempre lugar de destaque nestas cerimónias, dada a estreita afinidade entre a Igreja e a ideologia dominante. O visitante subiu a Rua de Lisboa em direcção à Câmara Municipal para, depois da sessão de boas-vindas, seguir para o Largo Prior do Crato, onde assistiu a um desfile militar. Rumou, depois, ao Palácio dos Capitães-Generais, onde ficou hospedado.
Rua de Lisboa
O programa bem recheado, integrou uma vertente cultural com a apresentação do Coro Patriótico, em que se apresentava a gesta heróica dos terceirenses durante a resistência e a expulsão dos castelhanos; uma parada pecuária, nos Cinco Picos, para evidenciar o progresso havido nessa área; uma visita ao campo de aviação da Achada e também às obras no campo de aviação nas Lajes; uma tourada à corda, em São João de Deus, e visitas a instituições de caridade. As festas mais reservadas, nomeadamente os bailes de gala, realizavam-se na Sala das Carrancas, passando depois também a ser feitas no Lawn Tennis Club.
Nesta visita, os terceirenses procuraram mostrar o seu portuguesismo, que se consubstanciou na frase”Aqui fica Portugal”, que serviu de mote a outros discursos patrióticos posteriores.
Como curiosidade registe-se, para além das ofertas usuais com que as entidades e as várias associações brindaram o presidente, a entrega de um terreno, iniciativa do Grémio da Lavoura da Terceira e da Graciosa.
