A CASA DA AÇAFROA
Daquela casa via-se a mundo
Nas faias e no assobio das espadanas
E no grito delgado e nobre do queimado
Que assombreava as paredes d’açafroa
Era fácil lá do alto
Ver as estiradeiras de lavanda
Onde as centopeias se despiam
Nuas das peles do ano que passara
Naquela casa um pirralho buliçoso
Procurava buracos na trepadeira asparga
Por onde enfiava os pés, castos
Ainda par palmilhar a mundo
E na curiosidade das curvas
De um Modigliani de melaço
Entorpecia de espírito arregalado
Com a promessa do dia que viria
Igual ao dia que passara
João Pedro Porto,
O rochedo que chorou, 2ª ed.,
Ponta Delgada, Publiçor, 2012.
Image: http://us.cdn2.123rf.com/168nwm/tritooth/tritooth0711/tritooth071101404/2154364-this-is-an-abstract-painting-of-a-farm-house.jpg