Prefácio
O presente volume vem no seguimento do meu Imaginários Luso-Americanos e Açorianos: do outro lado do espelho (2010), no qual abordei a emergente literatura de luso-descendentes na América do Norte, os que (nos) escrevem em língua inglesa mas frequentemente recorrendo a temas ancestrais e da nossa experiência imigrante e étnica naquela sociedade durante todo o século passado. Nesse mesmo livro estão ainda incluídos alguns dos mais conhecidos escritores imigrantes que desde sempre nos deram conta da nossa vida nesse mesmo país, pois a literatura da Diáspora tem de conjugar essas duas línguas, que são os signos da história e arte no que aos açorianos diz respeito. Neste BorderCrossings, regresso ainda à Literatura Açoriana dos nossos dias assim como à da Diáspora, também incluindo aos textos e produção poética da primeira geração (os que escrevem na nossa língua), necessariamente continuando a dar a sistemática atenção que merece e continuará a merecer a escrita dos nossos descendentes nos Estados Unidos e no Canadá. Por outro lado, e num regresso aos meus estudos iniciais nos EUA e por circunstâncias que mais tarde me levariam em pessoa ou através da literatura ao Brasil e a algumas das nossas comunidades lá espalhadas, especialmente no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e mesmo no Rio de Janeiro, comecei a escrever sobre esta área literária que nos “completa” a nós portugueses em geral, e, neste caso, uma vez mais, a nós açorianos em particular.
Creio ser esse o fio condutor deste atravessar de fronteiras em busca de beleza e “verdade” literária que nos diz, rediz e nos reinventa numa já longa história de andanças no outro lado do Atlântico. De resto, a literatura norte-americana em geral e aquela que também envolve de vários modos esse meu caminhar, uma vez mais, por “fronteiras” que nos são comuns e parte das nossas vivências e convivências históricas, marcam um lugar nestas páginas: desde uma narrativa “brasileira” de John Dos Passos ao romance simplesmente intitulado Brazil do americaníssimo John Updike, recentemente reeditado entre nós. Trata-se de um olhar sobre o nosso país-irmão, e que não poderia deixar de completar estes imaginários múltiplos de pátrias reais e sentimentais nossas.
Por fim, espero que o eventual leitor destes ensaios que fazem parte da minha própria narrativa dos nossos mundos comuns e íntimos, aqui e além-fronteiras, vistos através da literatura e de outros textos, alargue o que habitualmente se reduz a compartimentos e segmentações académicas que já não fazem sentido. Não sei se ainda existem ou não literaturas “nacionais”. Um povo historicamente andarilho como o nosso só poderá ser entendido e apreciado na multiplicidade de textos, em qualquer língua — esses textos que recuperam e integram os nossos arquivos criativos, a memória indelével de termos sido e pertencido às mais distantes e díspares geografias do nosso destino e afectos.
Ponta Delgada
Março de 2012
Sobre o Autor Vamberto Freitas:
Nasceu nas Fontinhas, Ilha Terceira, em 1951. Emigrou com a família para os EUA em 1964, onde se formou em Estudos Latino-Americanos pela California State University, Fullerton, em 1974. Foi correspondente e colaborador do suplemento literário do Diário de Notícias (Lisboa) durante largos anos. Desde 1991 é Leitor de Língua Inglesa na Universidade dos Açores, tendo entretanto publicado inúmeros estudos críticos e ensaios sobre as literaturas norte-americana e açoriana. Para além da sua já considerável obra sobre estes temas e áreas de estudo, tem ainda publicado algumas traduções, principalmente da poesia de Frank X. Gaspar, e continua a colaborar em vários periódicos do arquipélago e da Diáspora com textos de crítica literária e cultural. No Brasil, tem colaboração no suplemento Cultura do Diário Catarinense e na revista Cartaz: Cultura e Arte, ambos de Florianópolis, Santa Catarina, assim como no Jornal de Letras, Rio de Janeiro. Ao longo dos anos, participou em congressos e colóquios em Portugal, nos Estados Unidos, Canadá e Brasil. De 1995 a 2000, coordenou o Suplemento Açoriano de Cultura (SAC) do Correio dos Açores, e de 2003 a 2006, dirigiu o Suplemento Atlântico de Artes e Letras (SAAL) da revista Saber Açores. Faz parte desde há alguns anos do Conselho Consultivo da Gávea-Brown: A Bilingual Journal Of Portuguese-American Letters And Studies e da Comissão Editorial do Boletim Do Núcleo Cultural Da Horta.
Produção Literaria:_
Jornal da Emigração: A L(USA)dândia Reinventada(1990);_Pátria ao Longe: Jornal da Emigração II,(1992);_O Imaginário dos Escritores Açorianos(1992);
_Para Cada Amanhã: Jornal da Emigração III (1993);_América: Entre a Realidade e a Ficção: Jornal da Emigração IV(1994);_Entre a Palavra e o Chão: Geografias do Afecto e da Memória(1995);
_Mar Cavado: Da Literatura Açoriana e De Outras Narrativas(1998);_A Ilha Em Frente: Textos do Cerco e da Fuga(1999);_Jornalismo e Cidadania: Dos Açores à Califórnia(2002);
_Imaginários Luso-Americanos e Açorianos: Do Outro Lado do Espelho(2010)
Colaborações
_Frank X. Gaspar, A Noite dos Mil Rebentos, traduções de poesia, publicadas em separata da revista Magma, Número Três, 2006. _O Homem Que Era Feito de Rede (tradução de “The Man Who Was Made of Netting” , conto de Katherine Vaz), 2002.
Acesse: Blog Nas Duas Marges – http://vambertofreitas.wordpress.com/about/