A UMA VIOLETA
Meiga flôr! Tu, que és tão pura,
D’aromas tão perfumada,
Tão mimosa!…
Porque ocultas na espessura
Tua face aveludada,
Vergonhosa?!…
Receias que a rosa altiva
Te mire co’o frio olhar
D’ironia?
Temes que sua côr viva,
Suas galas a ostentar
De ti ria?
Oh! não fujas de mostrar-te
A par da mais linda flôr
Flôr dilecta!
Não póde a rosa igualar-te
Na modéstia e no candôr,
Não, violeta!
Que importa que a linda rosa
Tenha um throno alevantado
Entre as flôres?!…
Ai, que importa se a maldosa
D’espinhos tem circundado
Seus primores!…
E tu, symbolo da candura,
Minha flôr d’inspiração,
Meu amôr!
Quem teus encantos procura
Ha-de achal-os sem traição,
Roxa flôr!…
Violeta, flôr mimosa,
Nunca teu collo se dobre
Ao temporal!…
Nunca tu’haste viçosa
Emurchecida sossobre
Ao vendaval!
Beijem-te as auras suaves,
Teu casto seio affagando
Delirantes!
Festejem-te lindas aves
Seus gorjeios modulando
Incessantes!
Velas, dezembro, 1865
Belmira de Andrade,
Phantasias,
Ponta Delgada, Typ. dos Açores, 1875
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