ALMA AÇÓRICA (52)
Em tempos pré-eleitorais, muitos perdem a razão…Logo após o 25 de Abril, presenciei um quadro de crispação política associado a um escarcéu mais ou menos melodioso… Nunca mais esqueci a sentença de um jorgense que era homem trigueiro pelo sol da terra: “assomeguem-se, não é por estarem açodados que vão ter mais razão”…
ALMA AÇÓRICA (53)
No tempo da sociedade de classificação e enquadramento fortes, no sentido de Basil Bernstein, até o aprender a nadar revelava essas “distinções”…Refiro-me ao modo como muitos rapazes tinham que “beber pirolitos” até conseguirem dar um “mergulho à babuja” e mais tarde “imitar” o estilo crawl, mais valorizado quando não se fazia “água branca”…nessa sociedade de classificação e enquadramento fortes, nadar de bruços ou de costas era mais “bem visto” nas raparigas …Com a democratização da sociedade desapareceram estes controlos sociais e os estigmas…nestes assuntos do mar, os açorianos e as açorianas vivem mais numa espécie de abraço marítimo retemperador!
ALMA AÇÓRICA (54)
Se, no mundo das plantas e dos animais foram precisos 4 a 6 milhões de anos para termos os nossos endemismos e especiações, na esfera da sabedoria dos anos bastaram pouco mais de 500 anos… Na verdade, continuo a surpreender-me pela dialéctica que o mar e a terra imprimiram na linguagem e saber entre nós..Recentementete, registei novo diálogo neste estio, em dia de 100% de humidade relativa…Queixava-se um lavrador: “hoje está de matar”…o outro mais velho respondeu: “quem começa de manhã tem 3/4 do dia feito porque da tarde o sol não deixa render tanto”…e não precisou “falar de rijo” para ser fazer entender…
José Contente
Setembro 2012