MEMORIAL DE MARIA BATALHÃO, UMA DAMA!
“ O pulha de olho de vidro, que forneceu pererecas eslavas para os bordéis da América Latina, agora se dizia empresário de bailarinas.”
A prostituta é figura social tão antiga quanto as religiões e há alguns milênios tinha até funções sacerdotais, em contraponto à vestal, virgem, casta, ardendo ao lado do fogo dos altares.
Não havia o tráfico de mulheres, um dos pilares desta bem-humorada obra de Dante Mendonça sobre os temas e problemas da prostituição e de seus domínios conexos.
Maria Batalhão indica no próprio nome a multidão de clientes: políticos, empresários, militares etc. A prestação de serviços sexuais integrou os batalhões, como nos mostra, entre tantos outros, Mário Vargas Llosa em Pantaleão e as visitadoras.
Novas designações do ofício passaram a evidenciar étimos, matizes e disfarces. Na antiga Roma, a prostituta era a lupa, nome que ganhou por assobiar como as lobas, chamando os homens para o lupanar. De loba fez-se meretriz: o étimo indica que merece um pagamento pelo prazer vendido aos clientes.
Já foram cachorras, vacas e piranhas. Mas hoje as antigas rameiras portuguesas se envergonhariam da audácia das acompanhantes e garotas de programa, sucessoras das antigas cortesãs, anunciando-se na mídia sem vergonha nenhuma!
Dante Mendonça, em poucas palavras, diz muito, mostrando que os cafetões internacionais diversificaram o comércio de carne humana. A máfia, controlando três mil mulheres, lidava com contrabando de diamantes, seda, carne, cigarros, uísque e vinho.
O escritor preso registrará brado retumbante: “Calma, pessoal! Estão prendendo os subversivos, não os corruptos!”. O general disfarçado de vestes femininas entrava em diversos bordéis. Getúlio Vargas, acompanhado de governador e deputados, vai sem nenhum disfarce ao bordel ouvir o cantor que um dia será famoso ator da Rede Globo.
Quão poucas são estas linhas para dar uma pitadinha deste deslumbrante e assombroso livro de Dante Mendonça!(xx)
Deonísio da Silva
Sobre o Autor : Deonísio da Silva (Siderópolis, 1948)
É um escritor e professor universitário brasileiro.
Mora no Rio de Janeiro e trabalha na Universidade Estácio de Sá, onde é Vice-reitor de Extensão. Sempre conciliou sua vida de escritor com a docência universitária e com uma ativa colaboração na imprensa. É doutor em Letras pela USP, com uma tese sobre os livros proibidos no Brasil no período pós-64 e membro da Academia Brasileira de Filologia, onde sucede a Leodegário Amarante de Azevedo Filho na cadeira número 33.