(Casa de Merens e Távora)
PENTEANDO A MEMÓRIA 36
CARLOS ENES
CORREIOS, TELÉGRAFO E TELEFONES
A primeira legislação que se conhece para os Açores sobre o correio marítimo reporta-se a um alvará de 1798 que incorporava na coroa os serviços de correios. Na prática, o serviço só melhorou após o contrato estabelecido com a Empresa Insulana de Navegação, em 1871, que era obrigada a transportar a mala do correio entre o continente e ilhas.
O correio aéreo, terá começado a funcionar a partir de 1939, com a Pan American que escalava a Horta e, posteriormente, com a abertura do aeroporto de Santa Maria e os outros que se lhe seguiram. O correio terrestre funcionava, em tempos recuados, através de umas viaturas chamadas “os malões do correio”, que levava a correspondência até à Praia, mas só depois dos anos 50 do século XX terá havido carteiros na Terceira.
(Casa do ten-cor. Mesquita)
Quanto ao serviço telegráfico e telefónico as informações são escassas. Em Angra, a estação do telégrafo-postal entrou em funcionamento a 1 de janeiro de 1893 e a ligação entre Angra e Praia ficou estabelecida por telégrafo a 27 de Junho de 1894. Já nessa altura os cabos submarinos nos ligavam ao exterior. Só a partir de 6 de Setembro de 1919 se estabeleceu o sistema rádio-telegráfico da Terceira com as outras ilhas, Lisboa e com a navegação. Quanto a telefones, a primeira linha estabeleceu a ligação entre Angra e Santa Bárbara, estendendo-se depois à Serreta, a 22 de Outubro de 1908. A ligação por telefone entre a capitania do porto e o posto semafórico do Monte Brasil foi estabelecida a 24 de Junho de 1914.
(Cerimónia de inauguração)
A evolução do número de telefones foi lenta na primeira metade do século XX. Em 1922 só havia um telefone nas freguesias: o do posto público da Vila Nova. Julgo que a razão era muito clara: era ali que o dr. Valadão, passava as suas férias e não podia ficar incontatável. Na década de 40, foram instalados mais dois: um no Porto Judeu e outro em Santa Bárbara. A ligação entre as capitais de distrito insulares só foi estabelecida em 1945 e com o continente, em 1948.
No que respeita aos edifícios conhecem-se notícias de que os serviços dos correios andaram vagueando entre o Palácio Bettencourt, a Rua de Santo Espírito, a Rua de São João e a Praça da Restauração.
A construção do novo edifício dos Correios de Angra inseriu-se num vasto plano do Ministério das Obras Públicas que pretendia dotar o país com 200 novos edifícios O de Angra acabou por ser o 81º a ser inaugurado, no dia 6 de fevereiro de 1949. O edifício da Praia foi inaugurado a 7 de Março de 1963.
O local escolhido, para o então também chamado “palácio dos correios” de Angra, levou à destruição da antiga casa da família de Luís Meireles do Canto e Castro Merens de Távora. A escritura realizou-se em 1941 e o custo foi comparticipado com 60 mil escudos pela Câmara Municipal, pago em duas prestações. Feita a adjudicação, o arquiteto Adelino Nunes introduziu uma marca regionalista, utilizando na entrada principal a pedra de basalto.
A inauguração foi feita na véspera de eleições presidenciais, em que concorriam Óscar Fragoso Carmona e o General Norton de Matos. Esta era uma prática do regime da altura, como a havia sido em épocas anteriores e continuou a processar-se. A equipa governamental deve ter sido mobilizada para o país inteiro, porque desta vez apareceu uma figura de segundo plano, o Subsecretário da Agricultura, engenheiro Pereira Caldas. Além dos convidados, compareceu muita gente para assistir à cerimónia do corte da fita, cuja tesoura foi oferecida pela menina Maria da Graça Simões Flores.
(Correios)
A imprensa descreve o edifício como amplo, com mobiliário novo ou bem conservado, bem como a aparelhagem. A partir de então, os Correios passaram a dispor de serviço de telégrafo de impressão contínua, ficando para breve a inauguração da estação telefónica automática. O breve correspondeu a 20 anos. A inauguração da estação automática de Angra só viria a ocorrer no dia 11 de Outubro de 1969, inserida num conjunto de inaugurações (liceu e estalagem da Serreta) também em véspera de eleições.
Era por intermédio das “meninas dos telefones”, como eram conhecidas, que se fazia a ligação ao destinatário. A automatização iniciada em Angra, estendeu-se depois ao resto da ilha, chegando à Praia em 1970, sendo a Terceira a primeira ilha do arquipélago a estar totalmente automatizada. A ligação automáticas a outras ilhas só se concretizou nos anos 70.
(Primeira fase da obra)
Mas não levou muito tempo para que as instalações dos correios de Angra se revelassem acanhadas para o serviço. Foi, então, adquirido um outro edifício contíguo, pertencente à família do tenente-coronel Manuel Mesquita, virado para o Largo Prior do Crato. As obras de ampliação ficaram concluídas na década de 50. Para além dos espaços de atendimento ao público, o edifício passou a comportar refeitório, cozinha e habitação do diretor.