ÁLBUM TERCEIRENSE . VOL. III
(Estudantes do Faial em Angra, 1969)
A mesma linha de intervenção, que tem orientado estas crónicas, está expressa nas publicações que têm sido dadas à estampa com a designação de Álbum Terceirense, cujo vol. III está à venda. Duma forma mais desenvolvida e com temas mais abrangentes fui procurando trazer até ao presente acontecimentos que marcaram a vida social, política, cultural e recreativa da ilha Terceira. Embora a predominância dos temas se concentre na cidade de Angra, há uma dispersão pelas freguesias rurais e também pela Praia da Vitória.
Para que o leitor possa ter uma noção dos conteúdos já abordados apresento um registo sumário dos volumes anteriores, por rubricas. Na galeria dos visitantes ilustres destaquei o Ministro Sebastião Ramires (1934), a Tuna Académica de Coimbra (1954), a Companhia de Revista ABC, de Lisboa (1962) bem como os presidentes Carmona (1941), Craveiro Lopes (1957) e Américo Tomaz (1962).
No plano das obras públicas, realço as grandes remodelações que se deram no Alto das Covas, com a demolição do Convento da Graça, a construção da Escola Primária Infante D. Henrique, a que se seguiu o arranjo do largo que passou a denominar-se Largo Dr. Salazar. Outra obra de vulto foi a completa remodelação do Largo Prior do Crato, na sequência do declínio do antigo edifício do Páteo dos Estudos. Outras obras, não menos significativas, foram a canalização de águas para São Bartolomeu, a construção do Observatório Meteorológico, a Estrada do Pico da Bagacina e da Canada do Meio, na Ribeirinha e a inauguração da luz elétrica na Vila Nova.
No capítulo das homenagens que foram prestadas a terceirenses considerados ilustres, evoco o busto ao dr. António Lino, no jardim de Angra, o monumento a Francisco Ferreira Drummond, em São Sebastião, o padrão a Francisco de Ornelas, na Praia, bem como homenagens ao General Fernando Borges, em Santa Bárbara, ao professor António José de Melo, na Ribeirinha, aos músicos Tomas de Borba e João Moniz, em Angra.
Algumas comemorações centenárias foram também objeto de estudo, como as do Duplo Centenário, em 1940-41, ou as do V Centenário do Povoamento da Terceira, em 1950. Nestas comemorações houve uma cerimónia que mobilizou toda a ilha em torno da Procissão dos Santos Padroeiros.
Outros grandes temas foram também analisados, como a Guerra Colonial, com um conjunto de fotografias que nos mostram as chegas e partidas de soldados; o Carnaval Angrense, subdividido em três temas: o Carnaval Civilizado (batalhas de flores), a Matinée Regina e a Tourada dos Estudantes.
Todos estes temas são tratados com o seu enquadramento histórico, para que o leitor possa ir acompanhando a leitura das reportagens fotográficas com a descrição mais pormenorizada dos factos.
No Vol. III, que foi posto agora à venda, foi seguida a mesma orientação. A abertura do livro é feita com um estudo sobre a Fábrica de Tabaco Flor de Angra, que aguentou quase um século a funcionar, enfrentando a concorrência de outras fábricas micaelenses. A ilustração com as embalagens de antigas marcas de tabaco enriqueceu o estudo e irá trazer à memória lembranças boas (ou más) de quem ficou agarrado ao vício.
Um tema de carácter político evoca a presença dos deportados que foram enviados para os Açores quando eclodiu o golpe militar de 28 de Maio de 1926. A concentração de deportados em todas as ilhas conduziu a uma revolta em 1931, com consequências funestas para os que participaram e foram derrotados pelas forças fiéis a Salazar.
Na galeria dos visitantes, é apresentada uma visita da esquadra naval portuguesa da época (1935), com a particularidade de integrar o primeiro submarino português a escalar as ilhas. A visita do ministro Cancela de Abreu mereceu destaque pelo imponente cortejo de oferendas que ocorreu na cidade de Angra.
(Estudantes de Angra em P Delgada, 1967)
O centenário da morte do Infante D. Henrique, com várias iniciativas ao longo do ano de 1960, revela o empenho que o regime colocava nestas cerimónias evocativas dos grandes heróis nacionais. Para além das cerimónias oficiais, outros eventos ocorreram integrados no programa comemorativo. Realço a visita do Orfeão Académico de Coimbra; as cerimónias no dia 10 de Junho, com a participação da Mocidade e da Legião Portuguesas; as Festas da Cidade, cujo tema se concentrou na figura do Infante; a inauguração da estátua de Álvaro Martins Homem, no centro da Praça Velha; uma placa comemorativa na Câmara da Praia da Vitória, bem como a recuperação da Casa dos Corte-Reais.
A homenagem aos grupos musicais Art Carneiro, Olmar Band/Flama Combo também constam deste volume, tal como a breve história da procissão do Corpo de Deus e a inauguração da Central Hidroelétrica, junto ao Jardim.
(Estudantes micaelenses em Angra, 1932)
As memórias do Liceu de Angra têm destaque especial neste volume com a presentação de grandes obras de remodelação feitas na década de 1930; um conjunto de fotografias a enquadrar Visitas de Estudo feitas pelos alunos a várias localidades da ilha e a consolidação da disciplina de Educação Física, nos anos 40, com a chegada ao Liceu do professor Amâncio Leal.
Neste volume, agora publicado, continuo a pentear a memória, juntando fotografia e texto, como forma de aprendizagem lúdica, mas com todo o rigor histórico.
Carlos Enes