ANO BOM
Janeiro, Ano Novo, o tenro gnomo
Do prazer e da mágoa, que caminha
Por estradas sidérias, num assomo
De vento em fúria e chuva miudinha:
Janeiro, a passo e passo, em sombra, como
Uma ronda de espectros se adivinha:
Janeiro frio, com que o tempo momo
Açoita a nossa eira e a nossa vinha:
Deus vos mude, Ano Novo, a entrada agreste:
Seja oliveira a rama do cipreste
E o ódio e a guerra sejam paz e amor
E faças rebentar, como eu desejo,
De cada boca de mulher um beijo,
De cada ramo de árvore uma flor.
Angra, Janeiro de 1918