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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de DAVID MOURÃO-FERREIRA , SE FOSSE VIVO, FARIA 86 ANOS, hoje, DIA 24.-
Teresa  Martins Marques
Comunidades 26 fev, 2013, 03:14

DAVID MOURÃO-FERREIRA , SE FOSSE VIVO, FARIA 86 ANOS, hoje, DIA 24.- Teresa Martins Marques


Em homenagem ao escritor DAVID MOURÃO-FERREIRA, o Blog Comunidades apresenta, em pré-publicação, este curto trecho da sua biografia literária, de autoria da eminente escritora e investigadora portuguesa Teresa Martins Marques.
À autora, os nossos agradecimentos por permitir a sua publicação nesta data de
"24 de fevereiro de 2013"



DAVID MOURÃO-FERREIRA , SE FOSSE VIVO, FARIA 86 ANOS, NO DIA 24.

São frequentes, na obra davidiana, as alusões tetragramáticas, combinadas com o número dez. Segundo a explicação do universo de Empédocles, os Quatro Elementos − Água, Fogo, Ar e Terra − são princípios eternos e indestrutíveis, fundidos ou separados pelo amor e pelo ódio. Não por acaso, o penúltimo poema da última colectânea de poesia, ainda organizada por DMF, intitula-se «Dez Vezes e Quatro» − poema em fecho de abóbada, simbólico balanço de quarenta anos de poesia, não apenas pela forma de conteúdo, mas também pelo lugar que ocupa na estrutura final da Obra Poética.
Exercício de memória e de metapoesia através da evocação e alusão a alguns títulos de poemas , caleidoscópico “jogo de espelhos”, com aliterações e variações semânticas múltiplas, intertextualizando títulos da sua obra, jogando com a opacidade e a transparência, a multidão e a solidão, a memória e o esquecimento, a radicação e a errância, a liberdade e a predestinação, este poema só podia ser construído sobre dísticos de sete sílabas, tantas quantas tem o seu nome literário: David Mourão-Ferreira. O total do poema soma catorze estrofes, naturalmente, dez mais quatro, em alusão ao título

DEZ VEZES QUATRO

Já dez anos vezes quatro
cantos do tempo perdido

Quatro voltas dou à chave
desses dez portões de vidro

Quatro passos nos terraços
de dez prédios fugidios

Só lá me pertence o quarto
onde se encontram comigo

as sombras de quatro magas
que por mais dez multiplico

Em quatro véus as resguardo
Em dez degraus as revivo

Já dez anos vezes quatro
Do meu íntimo infinito

E às quatro da madrugada
queimam-me dez calafrios

Todo o corpo se me rasga
Até duvido que existo

Ao menos quatro palavras
a tantas dez sobrevivam

Quatro Mas quatro que tracem
dez destinos de um destino

magas como as quatro magas
que por vezes ressuscitam

Quatro voltas dou à chave
das suas jaulas de vidro

Já dez anos vezes quatro
deste meu órfico ofício

in OBRA POÉTICA – 1848-1988

Poema autobiográfico e autobibliográfico, um dos mais sabiamente construídos da obra davidiana, é constituído por vinte e oito versos, dispostos em dísticos, formado um conjunto de catorze estrofes, e neste número catorze, leio uma indirecta forma de homenagem ao soneto, de que David foi exímio cultor. As jaulas de vidro de que nos fala o décimo terceiro dístico estavam bem transparentes no poema «Os Dias», em Do Tempo ao Coração:
“ E arrisco-me a entrar na jaula dos teus dias / que rugem de não ser o que eu lhes prometia // mas é para fugir de um parque mais antigo / onde rugem os meus pelo mesmo motivo”.
Os terraços do terceiro dístico hão-de tornar-se, curiosamente, quatro anos depois, título de volume de crónicas e ensaios − Terraço Aberto. O prédios fugidios são, ironicamente, fugidio título, que estava destinado a um romance de que só ficaram breves trechos, e esse mesmo título, «O Prédio», foi atribuído ao poema do IV, «Canto do Inverno», ainda n’Os Quatro Cantos do Tempo, prédio conotado com os amores fugidios, venais:
“[…] Teria ido ao fundo o palácio de Circe? / E que fundo esse mar, num bairro de Lisboa! / Do porco envergue a pele o que vem divertir-se, / exiba-se com ela e ninguém se condoa! […]”
O quarto dístico, onde se faz referência a um quarto, remete o leitor para o título do «Soneto dos Quartos de Aluguer», de Tempestade de Verão, habitado pela solidão do sujeito, que está realmente sozinho, embora não esteja só. De olhos fechados, não vê a desolação do espaço exterior, metonímia do espaço interior, do frio interior dos amantes:
“[…] E que abjectos objectos! tão prosaicos!: / tapetes de aluguer com flor’s manchadas; / entre os pés do biombo, continuadas / as tábuas do soalho por mosaicos… // … Sempre esse frio sórdido, a seguir / ao fogo em que nos qu’remos consumir!”
As sombras de quatro magas, multiplicadas por dez, são as trinta e nove amantes a que se soma “a inúmera” do poema com este título, inserto em Do Tempo ao Coração.
Os degraus do sexto dístico são os da vida que se sobe na «Escada sem Corrimão», em À Guitarra e à Viola, mas também os do título que o autor previu para o seu Diário − Íntimos Degraus −, da mesma forma que o “íntimo infinito” desvela o título da colectânea de sonetos Infinito Pessoal, não já sob o signo da sordidez, mas da ternura.
O dístico “Ao menos quatro palavras / a tantas dez sobrevivam” faz uma clara remissão para o poema «Testamento», que fecha Órfico Ofício, o ofício de poeta que deseja que de sua vida fique um monumento de palavras, sob a epígrafe de D. H. Lawrence: “Have you built your ship of / dead, O have you? / O built your ship of dead, for / you will need it.”

Teresa Martins Marques

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