Mulher Brasileira
Uma data ocupa as atenções do comércio e dos meios de comunicação social – « 8 de Março, Dia Internacional da Mulher», reverenciando suas lutas e conquistas. Apesar dos avanços da presença feminina em diferentes segmentos da sociedade brasileira e sua expansiva inserção no mundo do trabalho, no quesito “representação política” ainda engatinha em tímidos e lentos passos.
Neste contexto, a eleição da Presidente Dilma Rousseff constitui, no cenário nacional (e internacional), uma grande vitória e um estímulo a maior participação das mulheres à vida política do País. Tanto é que, no seu governo, dez mulheres ocupam postos-chaves. Acrescente-se, a este rol de mulheres poderosas, a Presidente da Petrobrás, a maior empresa corporativa do País.
A participação política e o próprio direito de voto são vitórias recentes na longa caminhada em busca da emancipação feminina, do “status”de cidadã brasileira conquistados há 81 anos e assegurada pela Constituição Federal de 1934, após campanha liderada por Bertha Lutz (1894-1976) e Carlota Pereira de Queiroz (1892-1982), a primeira mulher deputada federal, eleita em 1933. Nesta imensa nação, a grande maioria das brasileiras está consciente de sua responsabilidade social e sabe que a sua participação cidadã vai além do exercício do voto, dos direitos formais reconhecidos pela Constituição e pela legislação vigente no País.
Ela foi à luta, ocupa espaços, sabe ser voz e se faz ouvir.
Infelizmente,é uma participação muito pequena se considerarmos o número crescente dos municípios e o aumento da população brasileira nos últimos anos. Não muito diferente do cenário político na década de 1930. Afinal, somos 54,2% do eleitorado brasileiro e 51,1% do catarinense e temos uma irrisória representação política no parlamento federal e estadual. Bem abaixo do percentual mínimo estipulado em lei para qualquer dos sexos – 30%. O mito da participação igualitária. O que de fato não acontece.
Na atual Legislatura, a representação ativa de Deputadas Federais é 9,5%, e de 12,35% no Senado Federal. O Brasil ocupa o 120º lugar no ranking da proporção de mulheres no Parlamento,segundo dados da União Interparlamentar/ONU.
O sexo Feminino representa 12,3% dos Prefeitos eleitos em 2012. Ou seja, de um total de 5.564 municípios, 663 são governados por Prefeitas.
No estado de Santa Catarina o quadro não é diferente. A Carta Constitucional do Estado,promulgada em 1935, trazia a assinatura da professora e escritora Antonieta de Barros como a primeira mulher a integrar o Parlamento Catarinense, numa vitória contra os preconceitos: mulher, pobre e negra. Décadas depois, Ingebord Colin Barbosa Lima, seria Suplente na Assembléia Legislativa e, nos dificeis anos da Ditadura, Lígia Doutel de Andrade elegeu-se à Câmara Federal pelo MDB (Movimento Democrático Brasileiro) em 1966, tendo sido cassada no exercício do mandato por oposição ao regime militar.
Somente a partir dos anos 80 e no clima das «Diretas Já»,que embalava todo o Brasil, a mulher começa a participar de forma efetiva da vida política e sua voz ao lado do homem se fez ouvir por praças e ruas cantando por liberdade – “Então,vem vamos embora que esperar não é fazer, quem sabe faz a hora não espera acontecer.”( da bela canção Caminhando ou Pra não dizer que não falei de flores,1968,de Geraldo Vandré).
Em pleno século XXI, onde tudo parece favorável a mobilidade feminina em nichos da vida política e social até então hermeticamente fechados a sua presença é numéricamente inexpressiva. Basta verificar qual é o total de mulheres que ocupam cargos eletivos em Santa Catarina e nos seus 295 municípios neste 8 de março de 2013. Temos duas Deputadas Federais, quatro Deputadas Estaduais e uma Suplente. Na representação municipal encontra-se vinte e duas mulheres Prefeitas e trezentas e oitenta e seis Vereadoras (13,4% das vagas), sendo que na capital Florianópolis, esta participaçao é zero.
A determinação legal que criou o sistema de cotas, reservando 30 % à candidaturas femininas nos partidos de forma alguma garante a conquista do espaço político. Sou avessa ao sistema de cotas ou reserva de vagas de qualquer natureza. Sou contrária à segregação de qualquer espécie porque acaba,de fato,discriminando e gerando novos estereótipos.
Hoje, não posso afirmar que a Mulher Brasileira está alijada da vida política, social, cultural, econômica. O trabalho feminino é uma realidade não apenas em profissões consideradas tradicionalmente “de mulher” como professoras, costureiras e enfermeiras, mas em todos as áreas e em todos os níveis até na alta gestão empresarial. É muito pouco! Se representamos uma força considerável dentro da população economicamente ativa do País.
Para encerrar, uma reverência à imagem da “Mulher-Eva”associada ao nascer da humanidade e lembrada neste Março cheio de Sol de verão. Dentro desse ciclo de vida a figura da mulher cresce, transcende. É epifania. É água. É terra profícua junto do homem na benção do amor maior.
Tanto um quanto o outro se completam na luta do fazer brotar a vida e construir um mundo melhor a cada renascer, a cada gota de chuva, a cada raio de luz, a cada beijo na manhã de um novo dia.
Como o poeta Vinicius de Moraes que tanto cantou o amor e louvou a força da mulher, fica o meu “Saravá” à todas as Mulheres que construíram seu mundo na vivência do amor sem limites, defendendo causas, derrubando preconceitos, guerreando pela liberdade, sendo vozes no seu mundo e amando muito: Anita Garibaldi, Maria Bonita, Xica Pelega, Olga Benário,Chiquinha Gonzaga,Cora Coralina…
Mulher Brasileira,Saravá!
Serra do Rio do Rastro, 06 de Março de 2013