Alcides Buss publicou seu primeiro livro em 1970, na época difícil dos governos militares. A exemplo de tantos outros, sofreu com a censura e a repressão. Nada impediu, no entanto, que levasse adiante sua vocação para a poesia, por ele sempre entendida como um exercício de liberdade. Desse paradoxo nasceu o título de sua obra inaugural: Círculo quadrado.
No ano seguinte, 1971, já estava concorrendo ao Festival Catarinense de Poesia Universitária. Entre uma centena de participantes, levou a melhor e teve seu segundo livro premiado e publicado: O bolso ou a vida? Em relação ao Círculo quadrado, este era um livro mais maduro e de caráter experimental. Lindolf Bell, conhecido nacionalmente pela sua Catequese Poética, escreveu: “O bolso ou a vida? coloca Alcides Buss, sem equívocos, entre os mais importantes poetas da nova geração brasileira”.
Sem medo de ousar, militou devotadamente no meio cultural, editando suplementos e revistas, entre elas a Cordão, publicação independente que fazia intercâmbio com poetas alternativos do Brasil e do Exterior. Um pouco antes, no final dos anos sessenta, havia criado os varais literários, uma forma de driblar a censura econômica. Os varais se espalharam pelo País e até fora dele. Hoje existe, na Suíça, o Varal do Brasil, coordenado por Jacqueline Aisenman, adaptado para a versão digital, com centenas de seguidores.
Professor universitário, durante dezessete anos Alcides Buss dirigiu a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, substituindo o romancista Salim Miguel. Além das traduções e edições acadêmicas, manteve sempre viva uma coleção destinada a novos escritores. Garantiu ainda a edição de uma revista para estímulo e iniciação literária dos estudantes, a Poité.
Após duas dezenas de títulos, entre eles dois infantis sempre reeditados (A poesia do ABC e Pomar de palavras), e inúmeros prêmios, Alcides Buss oferece aos leitores agora esse Janela para o mar (Caminho de Dentro Edições, 128p, R$ 20). Livro temático, explora o mar enquanto entidade fabulosa e inesgotável: o mar de dentro, o mar de fora, o mar enquanto música, o mar inúmero como o de Cacaso: “Mar de mineiro / é Minas”.
Criado em pequenas cidades do interior de Santa Catarina e do Paraná, Alcides somente foi conhecer o mar aos dezoito anos. Ficou tão impressionado, que exclamou: “Nossa, o mar é tão grande que não cabe nas palavras!”
Vivendo há bastante tempo na Ilha de Santa Catarina e cercado de mar por todos os lados, mergulhou em sua diária presença, nunca igual à da véspera. Daí tirou lições e entregou-se às imagens subjetivas de sua grandeza.
O livro, que acaba de receber o Prêmio Fernando Pessoa da União Brasileira de Escritores, vem apresentado e recomendado pelo poeta e tradutor, membro da Academia Brasileira de Letras, Ivan Junqueira: “Buss é, acima de tudo, um lírico, mas um lírico que não se esgota no lirismo estrito e autocomplacente do subjetivismo pessoal. Há nele, além de uma adesão autêntica e orgânica ao tema que elegeu, uma viva preocupação por aquilo que entendemos como o mistério da existência, esse mistério de que o mar, com suas profundezas abissais, é mensageiro privilegiado.”
(*) Lançamento do livro Janela para o mar
Autor: Alcides Buss
Edições Caminhos de Dentro
Contato com o autor: e-mail alcides-uss@hotmail.com;
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