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Imagem de António A. M. Machado Pires, Páginas sobre Açorianidade – Por Vamberto Freitas
Comunidades 10 abr, 2013, 16:53

António A. M. Machado Pires, Páginas sobre Açorianidade – Por Vamberto Freitas

Ilhas e literatura, açorianos e açorianidade

…Açorianidade. Um termo feliz que parece exprimir uma espécie de ontologia insular. Uma referência e uma ‘alma’ que se fica a transportar toda a vida.

António A. M. Machado Pires, Páginas sobre Açorianidade

Vamberto Freitas

Se alguns outros estudiosos e escritores entre nós, pertencentes à presente geração, se debruçaram com rigor académico e conhecimento literário-histórico sobre o termo açorianidade, o professor e ensaísta António M. B. Machado Pires – que dispensa aqui qualquer cláusula de apresentação — é por certo uma dessas figuras mais proeminentes no que devemos chamar, sem complexos, Estudos Açorianos, ou Estudos da Lusitanidade nos Açores. O seu percurso universitário iniciado na Universidade de Lisboa, primeiro como aluno e depois como assistente de Vitorino Nemésio, estou em crer, ou pelo menos aventuro aqui, foram talvez as suas duas experiências intelectuais mais marcantes, e que teriam consequências escriturais muitíssimo importantes para todos os que se têm empenhado, particularmente ao longo das décadas pouco antes e que se seguiram ao 25 de Abril, na tentativa de se reafirmar ou mesmo de redefinir nada menos do que a identidade – ou identidades, como ainda há pouco tempo nos relembrava um colóquio na Universidade dos Açores precisamente sobre o mesmo tema – açoriana. É também sabido que no centro da obra ensaística de Machado Pires está a sua tese de doutoramento, A Ideia de Decadência Na Geração de 70, esse mais do que distinto grupo de escritores, poetas e pensadores que anunciaram de formas diversas a necessidade crucial de trazer para Portugal o modernismo vivencial e artístico, e a que pertenceu distinta e significativamente o açoriano Antero de Quental. Em 2008, receberia o Prof. Machado Pires o prestigiado prémio PENCLUB-ensaio pelo livro Luz e Sombras no Século IX em Portugal.

O estar longe da ilha natal (que Machado Pires nos relembra ter sido a condição de “desterro” que exacerbou o sentimento de açoriano da Terceira no autor de Mau Tempo no Canal) só poderia levar, pois, a esse inevitável e melvilleano “choque de reconhecimento” em que nos situamos de imediato com ou no lugar do outro, qualquer outro falando qualquer língua, o nosso território, as nossas origens permanecendo determinantes na definição de quem somos e de onde viemos sem negarmos nunca a universalidade humana para além da geografia e da própria cultura, entendida como sendo a nossa mundividência na diversidade do mosaico das nacionalidades e etnias, na diferença dentro de um todo. Foi exactamente esse olhar atento e descobridor num espelho sem distorções que provoca em Nemésio esse “choque de reconhecimento” após a leitura de As Ilhas Desconhecidas, de Raul Brandão. Que foi um escritor continental que leva talvez o mais profundo de todos açorianos, no modo de vida e nas suas obsessões literárias, ao centro da historicidade e circunstâncias geográficas do seu passado e presente, fica tudo mais ou menos esclarecido – Raul Brandão entendeu-nos com tanta clareza porque reconheceu, ele próprio, a irmandade de alma com os que cá permaneciam escondidos na bruma e na solidão, temerosos e ao mesmo tempo afoitos ante a natureza de ilhas vulcânicas, tendo provavelmente sentido o contrário do dito pessoano: “sou daqui como de toda a parte”. Uma grande obra literária só pode resultar tanto do autoconhecimento como da empatia e aproximação do próprio ser à paisagem humana em sua frente. Se não fosse assim, As Ilhas Desconhecidas, prefaciado por Machado Pires numa das suas edições recentes, pouco mais teria sido do que um mero relato jornalístico, ou algo parecido.

Páginas sobre Açorianidade, uma sequência de ensaios em andamentos pluri-sgnificativos que permaneciam dispersos por vários publicações universitárias, e surgidos em ocasiões também diferenciadas (colóquios, conferências de abertura e encerramento de congressos) cobrem um espaço de tempo desde a início da década de 80 até aos dias presentes. Antes e para além de falarmos na temática predominante que serve de fio condutor as estas páginas, lembremos que esta foi precisamente a época em que os Açores enfrentaram nada menos do que a construção de uma sociedade que se queria nova, e de um Governo próprio pela primeira vez na sua existência de mais de cinco séculos a meio Atlântico, o sentido de pertença à nossa Nação tendo sido sempre tanto um acto de imaginação como de lusitanidade herdada das nossas origens ibéricas. Os Açores e os açorianos nunca foram ou estiveram alheios a nenhuma emergência da Pátria, quer em momentos de perda e luta pela independência nacional, quer nas grandes mudanças de regime ao longo da história, nem sequer a solução da colonização do sul do Brasil, como se sabe, foi feita sem esse envolvimento ilhéu.

Assim, para o Professor Machado Pires, como foi sempre para Vitorino Nemésio, o autor do termo açorianidade primeiro aparecido no seu famoso ensaio de 1932, intitulado “O Açoriano e os Açores”, e decalcado de hispanidade, que Unamuno utilizou em relação ao seu país e ao restante mundo por ele criado, não pode ser inteiramente entendido fora das raízes, uma vez mais, da lusitanidade, muito menos agora em que vários países espalhados do Atlântico à Oceania aceitam, pelo menos parecem aceitar, o termo lusófono como pressuposto claramente identitário perante outras línguas e tradições. Páginas sobre Açorianidade teoriza e desenvolve toda a sua argumentação a partir de sínteses feitas com a clareza só possível após leituras aprofundadas — close-readings — dos textos da sua maior aproximação intelectual, e antecessores na fundação e abordagem de uma proposta de tal alcance cultural e identitário: Mau Tempo no Canal, em primeiro lugar, a poesia de o Bicho Harmonioso, Festa Redonda, O Verbo e a Morte, e dos ensaios ou crónicas particularmente de o Corsário das Ilhas e do Jornal do Observador, entre algumas outras obras. Machado Pires parte da literatura açoriana ou de significação açoriana para seu próprio posicionamento ante o conceito identitário, simultaneamente literário e antropológico, encerrando em si toda a semântica que denota o nosso modo de der e estar na fluidez de um povo que sempre soube adaptar-se e readaptar-se não só dentro do próprio arquipélago como em terras distantes. “As questões da identidade mudam com a História”, relembra-nos a dada altura num destes ensaios. A questão da literatura com referencial predominantemente açoriano ocupa necessariamente na sua escrita a centralidade que lhe é devida, ora para implicitamente contestar algumas posições que ele pensa levariam ao arrancar o galho da árvore progenitora, ora para reafirmar, sem quaisquer atenções à outrora polémica designação, que é precisamente essa mesma literatura portuguesa feita por açorianos, já também multissecular e iniciada com as Saudades da Terra, de Gaspar Frutuoso, que constitui o repositório mais rico da nossa firmeza e angústia identitária na modernidade agora globalizada.

Outros dois temas fundamentais da nossa literatura e que o autor reconheceu desde sempre na obra de Vitorino Nemésio, recorrem insistentemente em todos estes ensaios de Páginas sobre Açorianidade. Se a nossa foi desde o povoamento uma história essencialmente homérica, Ulisses em viagens de guerra e de descoberta, o obsessivo “regresso a casa” não só acontece na realidade como sobretudo na imaginação, marcando praticamente toda a nossa escrita em qualquer um dos seus géneros. Não admira, pois, que Machado Pires interligue sempre a condição existencial dos açorianos enquanto residentes na sua terra natal ao seu estado de emigrante, as forças centrífugas, uma vez mais, que têm comandado todo o nosso destino, reconhecendo agora e abertamente os contributos indeléveis dos nossos escritores em exilo voluntário no além-fronteiras. Junte-se a estes um crescente número de autores luso-americanos e ao seu próprio cânone literário em língua inglesa, e conclua-se sem complexos nem receios que, afinal, os Açores e os açorianos, como um dia também nos lembraria Pedro da Silveira, quase não têm par na sua produção literária e intelectual em terras e culturas de dimensão e população comparáveis à nossa.

Páginas sobre Açorianidade vai permanecer, disso não tenho qualquer dúvida, como uma síntese indelével do que mais preocupou e ocupou toda uma geração — a nossa. Nunca será exagero repetir que a autonomia política do arquipélago nunca poderia existir sem esta fundamentação teórico-identitária, sendo a nossa literatura não só parte da História, mas a História ela própria.

_________

António M. B. Machado Pires, Páginas sobre Açorianidade, Letras Lavadas Edições, Ponta Delgada, 2013. Este foi o texto de apresentação do livro na Biblioteca Pública e Arquivo Regional, a 22 de Março.

 

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