(Jean-François Millet, ca. 1855)
Canção do Cavador
Sou aldeão cavador,
Vou cavar a minha leira;
Minha enxada vai comigo,
Tu és minha companheira!
Tenho sempre em companhia
A enxada e o alvião;
Com eles – quem tal diria! –
Transformo a terra em pão!
De creança comecei
A ter amor á enxada;
O trabalho é uma lei
Do Senhor, abençoada!
Minha enxada é tão bonita
Parece de prata feita!
Não descansa – coitadita –
Senão no mês da colheita.
De madrugada bem cedo,
Vou pegar na minha enxada;
Da fome não tenho medo
Ao ocio não devo náda!
Na minha prece sentida
Peço a graça do Senhor.
Tão feliz é sempre a vida
Do aldeão cavador!…
Samuel da Silveira Amorim,
Calheta [ilha de S. Jorge], ed. do autor, Tip. de O DEVER, 1929.
Samuel da Silveira Amorim (1901-1989), jornalista, dramaturgo, poeta, natural da Calheta, ilha de S. Jorge, residiu e trabalhou na vila natal e na cidade de Ponta Delgada, ilha de S. Miguel onde faleceu
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