24 de dezembro, 2013
É tarde. Cheguei há pouco da casa de meus Pais, onde foi a consoada, como sempre foi, desde que me tenho por gente. E digo “a casa de meus Pais” porque o será sempre, na curta eternidade que durar a minha vida. Tal como digo “em casa da Avó”, mesmo sabendo que, nas escrituras do notário, a casa já não é dela. Mas muitas vezes o ser das coisas é o que existe por dentro de nós e daquilo que fomos.
Por isso repito que a consoada foi em casa de meus Pais. E hoje não vou falar das ausências, que doem demais. Hoje, o Natal foi a família reunida à volta da mesa, foi a minha Mãe, e os meus irmãos e cunhados, e nós, e os sete netos de meus Pais, com alguns dos companheiros que eles escolheram e que nós amamos também, porque não é difícil amar. E alguns parentes, que não quisemos deixar sozinhos, porque a solidão dói mais em certos dias. O Natal foi a toalha de renda da minha Mãe, bordada por minha Avó, e a loiça da Vista Alegre que não pode ser outra, porque é aquela, desde sempre, neste dia.
Foi, ainda, o brilho das luzes nos olhos grandes da Inês. E foi esta pequenita a ouvir o sininho que tocaram no jardim e a refugiar-se junto das primas, a dizer para si mesma “Eu não tenho medo do Pai Natal”, como a querer muito convencer-se disso.
Foi também um pouco as saudades do Menino Jesus da minha infância. Era Ele que trazia os presentes, no meu tempo. E sabia tão bem fazê-lo. Não deviam ter posto outro no seu lugar. A Sua ausência não tem feito muito bem aos corações dos homens.
Maria João Ruivo