Fui espairecer o olhar e as peras na fresca luz que lavava de serena jovialidade a baixa do Porto. Deixei-me deslizar até à Ribeira e sentei-me numa esplanada a ler e a consumir o que quer que fosse que me permitisse ficar sem irritar os empregados. Hesitei entre ler e contemplar o Douro, o tráfego no rio e no cais. Aos poucos, embrenhei-me na leitura de The First Global Village. How Portugal changed the world, de Marin Page, que comprei ontem na Lello. Sabia dele, mas nunca ligara muito. Otem, porém, cedi. O título demasiado bombástico afinal arruma no interior uma narrativa sólida. Estes ingleses sabem agarrar os factos da história e servi-los numa narrativa segura, precisa e seca, mas com garra e são exímios em ir buscar buscar pequenas minúcias aparentemente terra a terra mas que acabam sendo iluminadoras de tanta dúvida que de repente se nos dissolvem em eurekas! Ah! Pois é. Faz sentido. Algumas se calhar são conhecidas, mas passaram-me ao lado, como a explicação da mitização da figura do Infante D. Henrique e da sua Escola de Sagres pore les levada a cabo no século XVIII e que surgiu para, no fundo, enaltecer o papel da Inglaterra nos descobrimentos portugueses. Tudo afinal tinha sido concebido pelo filho de uma inglesa.
Mas há bastante mais do que isso naquelas páginas que aguardam que a elas volte logo que me calhe. E será ainda esta tarde.
Estava eu de saída à espera da conta, a esplanada cheia, três brasileiras cirandavam por perto lamentando a falta de mesas. Convidei-as a sentarem-se, se não se importassem, pois em breve estaria de saída. Já tivera ao meu lado um acompanhamento de som brasileiro – dois casais brazucas em conversa pegada – e registei uma do empregado a descoversar com eles: Não sei de que país vocês são, mas olha que falam quase português!
Bom, as minhas companheiras eram do Nordeste e estão a estudar na Católica do Porto. Perguntaram-me de onde eu era e respondi como sempre: Dos Açores. Uma delas reagiu excitada: Vou passar lá para a semana a caminho do Algarve. Percebi logo que estava despistada, no entanto fiz-me de ignorante e juntei-me a elas. Nenhuma das três sabia que se tratava de ilhas e, claro, não tinham a menor ideia do seu paradeiro.
Não me admirei. É como nos States. Na imensidão daquela terra, a única ilha que conta é a deles.
Comunidades
02 fev, 2014, 02:20
Na Baixa do Porto, nota bárbara de Onésimo T.Almeida
Foto:Onésimo T.Almeida