Assim recomeçou na terra, nos flancos
empapados, nos cabelos das mulheres ou rosas
ou nas mãos fecundas dos homens que ordenham as vacas
mas se erguem de noite, cadentemente
as estrelas são avanços,
recomeçou cuidadosa e calmamente
serpenteando por geadas e ventos de bafo a vinho
nossos ventos mais do que o sagrado da nossa solidão,
recomeçou o sentido do trágico sublime.
Se o rapaz observa a flor o eterno contesta-o.
Amar apeteceu-lhe ir
ao mar de excelentes copiosos
cabelos de mulher tomando banho num plano
azul de sorrisos deitados quando chega a ventania,
chega e me leva, somos amigos.
Recomeçou porém o adeus era madrugada na beleza,
as mulheres e os homens choraram no sacrifício de se darem
cadentemente no avanço ritmado das noites em que nasceram
coisas vivas e despertou o homem singular que não segue nem sai
daqui do grito que o deu livre por estar acorrentado,
o rumor aí está, de ira ou de fera o mesmo
que se queda ao seu início, quebra violento,
veio dizer: há deuses em todos os sítios.
Duarte Rego Pinheiro,
Fragmentos,
Angra do Heroísmo, DRAC, 1986.
Duarte Rego Pinheiro (1963), advogado, natural da cidade de Angra do Heroísmo onde reside e trabalha.