A ACADEMIA E SUA MISSÃO
Salomão Ribas Jr.(*)
As mudanças reclamam reflexões. É o que se passa com a troca de dirigentes da Academia Catarinense de Letras. Comecemos por recapitular a sua estrutura e objetivos. A ACL é uma sociedade civil de fins culturais. Como outras academias que seguem o figurino francês, caso da ABL, é composta de quarenta membros. Ocupam cadeiras numeradas. Cada uma delas tem um patrono escolhido na década de 1920 quando a entidade foi criada. Esses ocupantes devem ter certa importância cultural e escrito pelo menos um livro. A ocupação da cadeira é vitalícia e irrenunciável. As vagas só ocorrem com a morte. Os novos ocupantes são eleitos pelos remanescentes. Os dirigentes são eleitos por dois anos e não são remunerados. É o caso da nova diretoria presidida pelo autor deste e integrada pelos escritores Pinheiro Neto (vice), Lelia Nunes (secretária) e Amilcar Neves (tesoureiro). O Conselho Fiscal é composto pelos escritores Celestino Sachet, Moacir Pereira e Padre Besen.
Como entidade reconhecida de utilidade pública desde 1929 ocupa um espaço público não estatal e tem por objetivos: a defesa da língua portuguesa, a defesa da literatura brasileira, particularmente a catarinense, a identidade e os valores culturais do povo catarinense.
Para cumprir essa missão, conta com o apoio financeiro do poder público — sempre escasso — e desenvolve várias atividades durante o ano acadêmico de 15 de fevereiro a 15 de dezembro.
No momento de renovação é oportuno registrar o trabalho feito pela diretoria que encerrou seu mandato sob a presidência do Acadêmico Péricles Prade, notável escritor e poeta. Como ocorre há décadas muito desse trabalho terá prosseguimento neste segundo semestre e no ano acadêmico de 2015.
A ACL, uma das entidades culturais mais antigas de Santa Catarina — a outra é o Instituto Histórico e Geográfico —, mantém uma programação clássica cumprida quase integralmente a cada ano. Trata-se da edição de sua revista, dos concursos literários, da edição da coleção da ACL e dos prêmios anuais a obras de autores catarinenses ou do prêmio Othon Gama D´Eça para o conjunto da obra.
Na cerimônia de posse da nova diretoria (7/7/14) esses compromissos foram reafirmados. Ao mesmo tempo anunciou-se a intensificação de esforços para a valorização da literatura catarinense. Isso se dará pela otimização dos compromissos estatutários da ACL e de outras medidas. Entre essas, o estímulo às bibliotecas municipais e escolares. No primeiro caso a meta é: nenhum município sem biblioteca com autores catarinenses. No caso das escolas: nenhuma escolha sem biblioteca. Há um imenso trabalho nesse campo.
A ACL divulgara que a literatura catarinense tem história, tem passado, tem presente e futuro. Existiu e existe. São muitos os escritores de grande qualidade literária que escreveram e outros que estão escrevendo. O que se quer é reavivar o interesse dos públicos de todas as idades para sua leitura. Isso exige divulgação sistemática e criação de possibilidades de acesso ao livro. Nessa linha, está em gestação um evento estadual ou um conjunto de eventos regionais para rediscutir a literatura produzida remotamente e a contemporânea. Pensa-se aproximar a ACL dos professores de português, dos escritores veteranos e jovens, estando ou não na academia. Para o êxito dessa futura programação é vital o apoio da imprensa.
Além desses eventos, é necessária uma reformulação da biblioteca da ACL, agora com espaço razoável na Casa de José Boiteux, para ser referência da literatura nacional e, sobretudo, estadual. As ideias são muitas e serão alinhadas em Plano Estratégico — com metas de curto, médio e longo prazo — para os próximos anos. O que está sendo construído com a participação de todos os acadêmicos.
O espaço da Casa de José Boiteux que é público, ainda que gerido pela ACL e IHGSC, deve abrir-se mais efetivamente para a fruição da comunidade catarinense.
Pode-se dizer, para concluir, que há questões internas da ACL — estatutos, organização, estrutura — a serem tratadas com atenção. E há questões externas, igualmente importantes, que envolvem com prioridade o fortalecimento da cooperação com outras instituições culturais e educacionais. Tanto no âmbito público quanto privado. Nesse campo, por exemplo, vai se buscar parcerias na premiação como faz a Academia Brasileira de Letras. Além do modelo é salutar seguir as boas práticas do órgão máximo das letras no Brasil.
(*) Presidente da Academia Catarinense de Letras
Salomão Ribas Júnior É Catarinense,natural de Caçador (1945) Advogado, político, radialista,jornalista. ESCRITOR.
Como homem de Imprensa colaborou em jornais, revistas, rádios e TVs.
Como político, fez parte do primeiro escalão de vários governos catarinenses entre 1975 e 1986, ocupando os seguintes cargos: Secretário da Educação (1975 a 1977), Secretário da Casa Civil (1977 a 1979), Consultor Geral do Estado (1979 a 1980), Secretário da Saúde e Promoção Social (interino), Secretário de Imprensa (interino), Secretário da Cultura, Esporte e Turismo (1985 a 1986). Além disso, foi Deputado à Assembleia Legislativa em duas legislaturas, tendo presidido a Comissão de Sistematização da Assembleia Estadual Constituinte (1989 a 1990).
Foi Professor convidado da ESAG (Escola Superior de Administração e Gerência)da Universidade para o Desenvolvimento de Santa Catarina/UDESC.
Foi ainda membro do primeiro conselho consultivo da Fundação Catarinense de Cultura, do Conselho Estadual de Cultura (1978 a 1982), do Conselho Estadual de Educação (1977 a 1982) e do Conselho de Tecnologia e Meio Ambiente (1977 a 1979).
Em 1990 tomou posse como conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Ribas Junior presidiu a instituição em diversas oportunidades e era Presidente do Presidente do Tribunal de Contas de Santa Catarina quando antecipou sua aposentadoria em Julho de 2014.
É Sócio emérito do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina. Titular da cadeira 38 da Academia Catarinense de Letras desde 1992. Acaba de ser eleito Presidente da centenária Instituição (biênio 2014=2016) a 27 de Junho,tomando posse a 7 de Julho p.passado.
PUBLICAÇÕES – Além de colaborar com diversos jornais e revistas e de participar de inúmeras antologias e coletâneas, Salomão Ribas publicou diversos livros, entre os quais A Educação em Debate (1976), O Povo no Poder (1977), Considerações sobre a Reforma Tributária (1983), O Velho da Praia Vermelha e Outros Contos (1993) – obra que serviu de base para o curta-metragem “Perto do Mar” do cineasta Zeca Pires, lançado em fins de 2002 -, Uma Viagem a Hessen (1996), Retratos de Santa Catarina (1998), Corrupção Endêmica – Os Tribunais de Contas e o Combate à Corrupção (2000) e Ética, Governo e Sociedade (2003).