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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de TOCAR -Mário T Cabral
Comunidades 29 out, 2014, 14:14

TOCAR -Mário T Cabral




(The Creation of Adam by Michelangelo, 1510)



TOCAR



Mário T Cabral, 

19 de Outubro AD 2014 

     Porque será que ninguém leva a mal que não se toque nas obras de arte dos museus e se considera com mofa comungar na boca? Papiros raros e outros documentos de valor são manuseados por especialistas com luvas brancas de algodão, tal como a hóstia vinha dentro de uma saquinha branca (a copa), para que só o consagrado a pudesse tocar. Chega a ser blasfemo que alguém toque – mesmo que pessoa delicada – um instrumento musical, vamos dizer um Stradivarius, sem ser violinista de renome. A propósito, não se deixe passar o duplo sentido da palavra, em Português: “tocar” é sinónimo de “fazer música”. Os protestantes têm a resposta para a questão teológica: eles comungam na mão para que fique bem claro que não acreditam que aquilo seja o verdadeiro corpo e sangue de Nosso senhor Jesus Cristo.
     Porque será que ninguém leva a mal que os atores de Hollywood tenham relações sexuais na tela e depois digam que foi um fingimento? No entanto, os mesmos americanos ficam indignadíssimos quando os inimigos atiram a bandeira das estrelas ao chão, lhe saltam em cima, lhe escarram, lhe ateiam fogo, esperançados que se entenda a violência simbólica.
     Por outro lado, porque será que muitas mães não aceitam amamentar seus bebés e os amigos já temam abraçar-se, como antigamente? Há quem pense que a falta de contacto é fator explicativo do autismo. Compreende-se porque é que as pessoas não queriam estar próximas dos leprosos e não querem sequer imaginar-se ao lado de contaminados com ébola. Ou seja, há muita saúde – ou não -no tocar, no experimentar o mundo, no relacionar-se.
     Ou seja, tocar não é um ato tão simples e material como parece, à primeira vista – nem mesmo com os animais, que não permitem que qualquer um os acaricie, etc. As mãos e o espírito são os extremos de uma corda bem esticada, que vibra em subtilezas. É muito interessante que a maior parte dos seres humanos ainda saiba jogar com destreza esta espécie de jogo que harmoniza os contrários em pregas e mais pregas… mas tal mestria pode perder-se, o que acontece com frequência nas épocas decadentes, quando uma das pontas da corda despreza a outra. Deixa de haver música; uma corda bamba não retine.
     A excelência do tocar encontra-se em Nosso Senhor Jesus Cristo, em Pessoa. A hemorroíssa tocou na fímbria do manto d’Ele e foi curada porque O considerou Filho de Deus. A Idade Média conheceu uma correria desenfreada às relíquias… processo mental que não desapareceu por completo, haja em vista – salvo as devidas proporções – os estudantes que usam a mesma roupa para todos os seus exames e as mães que guardam as primeiras roupas de seus bebés. No entanto, à Madalena, o Ressuscitado ordena que não Lhe toque, porque ainda não subiu ao Pai. A fina lição completa-se em S. Tomé: “Só se puser a minha mão nas suas feridas!”; “Tomé, porque me viste, acreditaste; felizes aqueles que acreditam sem terem visto”.
     Não se compreende que o Inefável Se materialize, o que, de facto, aconteceu. Aliás, não se compreende a criação do mundo, a partir do nada. Ninguém sabe explicar, ainda, cientificamente (leia-se, a propósito, o bioquímico Michael Behe) a passagem da matéria inorgânica à vida; e da vida puramente animal à consciência. São cordas muito bem esticadas num violino de eleição. Saber tocá-lo não é uma coisa do outro mundo – pois “tocar|”, pelos vistos, é ação deste mundo, tão natural como respirar.
     Tudo indica que Deus quer ser tocado. A Igreja Católica não proíbe que se comungue na mão, mas tem consciência plena do arrepio que se tem ao ouvir tocar um burro ou um virtuoso.

Mário Cabral Natural da Terceira, Açores, é Doutor em Filosofia Portuguesa Contemporânea, pela Universidade de Lisboa, com Via Sapientiae – Da Filosofia à Santidade, ensaio publicado pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (2008). Para além do ensaio, publica poesia e romance. O seu livro de ficção (O Acidente, Porto: Campo das Letras) ganhou o prémio John dos Passos para o melhor romance publicado em Portugal em 2007. 
Está traduzido em inglês, castelhano e letão. Também é pintor.  
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