Nas aldeias socegadas,
Como é belo o entardecer!
Morrem, frouxas, nas estradas
As labutas do viver…
Os carros que gemem, lentos,
Gemidos de lentidão,
Vão chorando desalentos
Nos caminhos onde vão…
O Sol rôxo, no Poente,
A amortalhar-se nas águas,
Parece ir, triste e doente,
A carpir saudosas máguas…
Que o Sol tambêm tem saudades
Das remotas Primaveras,
Das formosas claridades
Doutros tempos, doutras eras…
Chora o mar, entre os rochedos,
Um chôro longo, sem fim,
Murmura em brandos segrêdos
Sonhos brancos de marfim…
As avesitas, em bando,
Vão dormir nas laranjeiras;
As brancas azas ruflando,
Passam as pombas ligeiras…
É à hora vespertina
Quando o fumo sobe aos ares
Que a paz serena, divina,
Desce sobre os nossos lares…
António Ramiro,
Folhas secas, Minerva Soares, Calheta, São Jorge, 1915