As dez idades da Academia Catarinense de Letras
Artêmio Zanon*
Não há espaço para registrar que com Platão, no século IV a. C. (anos incertos de 428 ou 427 a 348 ou 347), no jardim de Academus, na Grécia, é acatada a ideia do surgimento do termo Academia, e, posteriormente, como local de estudos e pesquisas. Também não vem ao caso se o Cardeal Richelieu (Armand Jean du Plessis, Duque de Richelieu e de Fronsac 1585 a 1642, Paris), em 1635, criou a Academia Francesa de Letras, e, também não que em 1897, Machado de Assis (1839/1908), criou e foi o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras.
Relevante é que em 30 de outubro de 1920, na Capital catarinense, por convocação, e em reunião sob a orientação de José Arthur Boiteux (1865/1934), jornalista, historiador e advogado, nasceu a Sociedade Catharinense de Letras, em cuja entidade, pela primeira vez nas histórias das Casas Maiores de Letras, ingressaram mulheres: Deliminda Silveria de Souza (1854/1932), professora e escritora, na Cadeira 10, com a idade de 77 anos, e Maura de Sena Pereira (1904/1991), jornalista, professora e poeta, na Cadeira 38, com 26 anos de idade.
Paschoal Apóstolo Pítsica (1938/2003), advogado, jornalista e escritor, um dos mais profícuos presidentes da Academia Catarinense de Letras, em toda a sua história, na obra Academia Catarinense de Letras à altura de seu passado – as nove idades da Academia Catarinense de Letras (edição da ACL – Estante Documento, 2002, Florianópolis, SC), justificando o título, escreveu: “Se conceituarmos uma década como uma nova idade do sodalício, pode-se apontar o período de 1920 até 1930, como o do seu nascimento e do ano primeiro”.
Os documentos históricos asseguram que o então Governador do Estado Hercílio Pedro da Luz (1860/1924), apoiando intelectuais catarinenses, acendeu em Othon da Gama Lobo D´Eça (1892/1968), a chama, a qual, embora não tenha iluminado, pouco mais de oito anos depois, ainda contando com o respaldo da mesma autoridade, em 30 de outubro de 1920, nasceu a Sociedade Catharinense de Letras, a qual, mantendo o dia e o mês, a partir de 1930, tornou-se conhecida com o nome atual: Academia Catarinense de Letras concretizada, pois, a primeira “idade”. Foi em 30 de outubro de 1930 que Maura de Sena Pereira tomou posse, ingressando no recinto (Assembleia Legislativa de então), conduzida por Nereu de Oliveira Ramos (1888–1968) e saudada por José Boiteux.
A segunda idade foi marcada pelas consequências da Revolução Getulista, o Golpe de Estado de 30: os intelectuais se retiraram da atividade literária exposta e o Acadêmico Nereu Ramos, empossado como Interventor do Estado, nomeou o também Acadêmico Ivo D´Aquino Fonseca (1896–1974), advogado e político, como Secretário de Justiça que em 1938 assumiu a Presidência da Academia Catarinense de Letras.
Na áurea terceira idade, surgiram a “Geração de 45”, o “Círculo de Arte Moderna”, e dele o “Grupo Sul”, travando-se consagrados debates na imprensa e publicações entre “novos” e “velhos”, e o relacionamento entre Acadêmicos e os Modernistas, estremeceu,
Othon Gama D´Eça, tendo sido Presidente por quase vinte anos, também teve marcante atuação na quarta idade: na década, eminentes figuras, a convite dele, haviam se preparado para o ingresso: Dom Joaquim Domingues de Oliveira (1878–1976), Arcebispo Metropolitano, eleito para a Cadeira 22, sucedendo a Nereu Ramos, estava com o discurso pronto e com data marcada, vindo a falecer, e mesmo assim foi declarado empossado; com o Padre Raulino Reitz (1919/1990) também ocorreram fatos semelhantes. Foi nessa idade que surgiu o “Grupo Litoral” com festejadas produções literárias e consagradas memórias de seus integrantes, ainda vários deles entre nós.
A década de 1960 a 1970, não fosse a atuação de Nereu Corrêa de Souza (1914/1992), sucedendo a Altino Corsino da Silva Flores (1892/1984) que havia assumido a Presidência por falecimento de Gama D´Eça, a Academia passou anos desestabilizada; com a eficácia da gestão, em 1967, assumiram dez Acadêmicos e em 1969, seis, remanescendo entre nós somente quatro deles.
A sexta idade é situada entre 1970 a 1980. Desde o início de 1970, já se encontrava na Presidência o Acadêmico Celestino Sachet (nascido em 31 de janeiro de 1930), empossado na Cadeira 15, em 1967. Houve acentuado relacionamento entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia Catarinense de Letras. Em janeiro de 1968, é editado o número 1, de Signo – Revista da Academia Catarinense de Letras, e com esse nome até o número 7, 1985; a partir do número 8, passou a chamar-se apenas Revista da Academia Catarinense de Letras, o que persiste até a atualidade.
Na Presidência de Theobaldo Costa Jamundá (1980/1990, a sétima idade), a partir de 1981, na Constituição do Estado de Santa Catarina, no Artigo 173, foi inserida esta norma imperativa: “O Estado garantirá […]. Parágrafo único. […], VI – concessão de apoio administrativo, técnico e financeiro às entidades culturais municipais e privadas, em especial à Academia Catarinense de Letras […].”
Desde o biênio de 1988 a 1990, até 2003, quando do falecimento, no dia 11 de maio, esteve na Presidência da ACL, Paschoal Apóstolo Pítsica, cumprindo-se parte da oitava idade, anos de 1900 a 2000. Restou consolidada a publicação da Revisa da Academia Catarinense de Letras, com vinte e seis edições; em 1991 foi criada a “Coleção ACL”, a qual neste ano alcança a publicação do número 44; desde 1992, anualmente, a ACL vem concedendo premiações sendo o principal o “Prêmio Othon Gama D´Eça”. Fato social e cultural relevante, foi a instituição do “Chá Acadêmico”, e o primeiro ocorreu em 4 de dezembro de 1997, a partir das 17h, na última segunda-feira meensal, com a participação “… dos acadêmicos, suas esposas, convidados e homenageados,…”.
Com início em 2000, a nona idade até 2010, a ACL procurou não esmorecer no seu importante propósito de elevar bem alto e permanentemente o nome da literatura catarinense.
Da vacância acadêmica pelo falecimento de Paschoal Apóstolo Pítsica, e, consequentemente, da Presidência, para o biênio de 2003 a 2004, o timão da ACL passou a Lauro Junkes (1942/2010), presidindo a Casa Maior das Letras Catarinenses até o falecimento, com extraordinária dinâmica de publicações de obras de escritores catarinenses falecidos, patronos e fundadores da entidade, e também de vários Acadêmicos em plena atividade no fazer literário.
Na sucessão, ainda durante o biênio 2010 a 2012, foi eleito Péricles Prade (2012 a 2014), estando na Presidência, nesta décima idade da ACL, Salomão Ribas Júnior, com forte expectativa de seus pares na condução da Academia Catarinense de Letras em direção ao centenário.
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*Acadêmico Artêmio Zanon – Titular da Cadeira 37, da Academia Catarinense de Letras
Nota: texto publicado no Caderno Cultura, página 4, no Diário Catarinense, Florianópolis, SC, de 1º de novembro de 2014 (sábado).