(…cont.)
Uma comparação entre os dados do Quadro 2 e os do Quadro 3 revela uma mudança dramática no uso da língua na esfera doméstica da “infância” para a “adultez”. Por exemplo, na geração “uma e meia” há uma redução de 75 por cento na percentagem dos que falavam só português em casa durante a “infância” e os que o falam na esfera doméstica na “adultez”. A dominância do inglês já é quase total, não só na esfera pública mas também na esfera privada da vida, entre os netos dos imigrantes.
Com uma perca de capacidade linguística tão rápida, faria sentido ensinar-se o português aos luso-descendentes como língua estrangeira integrada no currículo oficial das escolas norte americanas. Como as escolas secundárias americanas leccionam línguas estrangeiras a um nível muito rudimentar, aqueles que desejassem proporcionar um ensino mais intensivo do português aos seus filhos poderiam, se possível, envolvê-los nas escolas comunitárias em regime extra curricular ou em escolas privadas, como a Escola do Espírito Santo em Fall River, na qual o ensino intensivo do português se inicia a nível pré-primário.
Porém, uma consideração de dados oficiais sobre as tendências migratórias nos Estados Unidos (ver o Quadro 4) mostra que a imigração de lusófonos para este país está em fase de grande crescimento, principalmente quando se tem em conta que, no contexto da economia global, muitos trabalhadores entram nos Estados Unidos em regime de trabalho temporário (ver os Quadros 5 e 6).
Os dados apresentados nestes quadros sugerem que um número elevado de crianças de idade escolar, oriundas da CPLP, dá entrada nos Estados Unidos anualmente. Indubitavelmente, muitos deles chegam com conhecimento prévio das quatro competências linguísticas no português. Para eles o ensino do português como língua estrangeira não será suficiente e não o será, particularmente, para aqueles que terão de ser reinseridos no sistema escolar do país de origem após a cessação do contracto de trabalho, ou transferência inter-empresa, dos pais. Embora o ensino do português como primeira língua, em áreas de elevada concentração da população imigrante, também possa ser integrado nas escolas oficiais do país de acolhimento, não se deve menosprezar o papel que as escolas comunitárias–tanto as já existentes, como outras que poderão vir a ser criadas em áreas de futura concentração populacional dos novos imigrantes lusófonos–poderão desempenhar no ensino do português como primeira língua.
Portugal, sendo um país pequeno, não tem capacidade, por si próprio, de promover o uso do português a nível internacional. Por isso é essencial que a política de promoção do ensino do português no estrangeiro, e a sua implementação, sejam feitas através de um esforço coordenado e concertado da CPLP.
Portugal e os outros países da CPLP devem continuar a apoiar o ensino do português tanto nas escolas comunitárias como nas escolas oficiais do país de acolhimento, assim como o ensino tanto do registo do português como língua de identidade nacional, como o registo dele como língua de comunicação internacional.
A promoção do português como língua de comunicação internacional não deve fazer-se só dentro do contexto do sistema académico tradicional, mas também através da criação de instituições nos Estados Unidos, semelhantes à International House e à Cambridge School, que poderão leccionar um português especializado e de reforço profissional a adultos.
A política de promoção do português como língua de comunicação internacional terá de ser mais agressiva, do que tem sido até agora, para que o português possa competir com outros idiomas que se encontram em emergência a nível internacional. A China, por exemplo, tem dado apoio activo ao ensino do mandarim, como segunda língua ou como língua estrangeira, através de uma rede mundial de Institutos Confúcio. Uma rede semelhante, mais abrangente e mais bem financiada do que a do actual Instituto Camões, deveria ser construída pela CPLP.
Dulce Maria Scott, Ph.D.
(Anderson University, Indiana, USA e Institute for Portuguese and Lusophone World Studies at Rhode Island College)
19 de Outubro, 2010
To read Part 1 of this article, click here
Dulce Maria Scott doutorou-se em Sociologia pela Brown University, Providence-Rhode Island. Presentemente é professora na Universidade de Anderson, Indiana-USA, e investigadora no Institute for Portuguese and Lusophone World Studies at Rhode Island College. Tem-se dedicado a pesquisas na área da imigração, raça e etnicidade nos Estados Unidos, tendo publicado e apresentado vários artigos sobre esta temática nos Estados Unidos e em Portugal. Dulce Maria Scott foi recentemente nomeda para “Board of Directors”, Indiana Academy of the Social Sciences, e é Assistant Editor of the Academy’s journal.
Dulce Maria Scott é natural de São Miguel, Açores e emigrou para os Estados Unidos aos 18 anos de idade.