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Este conteúdo fez parte do "Blogue Comunidades", que se encontra descontinuado. A publicação é da responsabilidade dos seus autores.
Imagem de Poesia – Mário T Cabral
Comunidades 24 dez, 2014, 03:18

Poesia – Mário T Cabral

(Quadro, MTCabral)





PIJAMA


MTCABRAL

Hospital de Angra, Advento 2014

Compra-me pijamas às riscas
Que se projetem no meu rosto
Como na infância, à beira do Presépio
Porque vai ser de novo Natal.
Traz o pijama embrulhado de oferta
Como na infância, à beira do Presépio
Para eu sorrir ao desembrulhar
E vesti-lo logo a seguir
Sentir a festa do ser e renascer.
Não te esqueças que visto extra-large
Um pijama assim há de envolver-me
Como se fora nuvem mágica
E o meu corpo, de contente, levitará
Entrará numa bola da árvore
Daquelas que ainda sobram
Do tempo do Pai, que se partiam.
Vou ficar lá dentro esquecido da idade que tenho
Porque, na infância, à beira do Presépio
Não sabíamos a idade que tínhamos
Nem ver as horas, ou fosse o que fosse o tempo.
Riscas de tons azuis, nas calças
Com golinha no casaco, a condizer
E um vivo na algibeira
Mesmo sobre o coração.

—–
P R E C E

MTCABRAL 
Hospital de Angra, Advento 2014

Este menino que faz coroas de cartão atrás da porta sou eu
A porta larga do quarto cor-de-rosa, com degrau altíssimo, a casa antiga.
Usava caixas de sapatos, que recortava e cosia com linha branca
E já não me lembro de que era formado o altar, que estou a ver
Mas lembro-me de os adultos se rirem, como os adultos riem das crianças.
Agora, Senhor Divino Espírito Santo, é a altura de me pagares o meu amor
[incondicional
De quando eu nem sabia que eras Deus, e, pois, agia desinteressado.
Os Mistérios da vida continuam a ser os Mistérios da vida
E os Mistérios da Morte continuam a ser os Mistérios da Morte.
Estudei Filosofia e só me fez bem, porque vieste sempre a guiar os meus passos
Mesmo quando eu não me dava conta de estar a dançar sobre o abismo infernal.
Agora eu tenho a certeza absoluta que dizer que não há Mistérios
Nem da vida nem da morte é uma tolice pegada, seja qual for o Doutor.
Uma histeria, como outra qualquer, esquizofrenia, paranoia.
Muitas vezes e de muitos modos planeaste a minha vida
Com anos de antecedência, sem que eu compreendesse fosse o que fosse
E, de repente, o desenho do caminho não podia ser mais perfeito.
Tenho para mim que é o que estás a fazer agora.
Eu preferia que olhasses para aquele menino atrás da porta, da mesma casa.

—–
CORPO DE EMBARAÇOS

MTCABRAL,
Hospital de Angra, Advento 2014

Já fui um corpo belo, desejável.
Agora sou um corpo de embaraços.
Mas não te assustes, meu corpo, que eu não te abandonarei
Porque é de ti que me sinto mesmo próximo.
O outro era dos outros, tentação da rua
Enquanto tu me encantas nesta já flacidez
Neste curvar-te nobremente para o adeus
Dentro de portas.
E agora os outros cuidam de ti desinteressadamente
E posso dormir descansado, que não te me vão roubar.
Não sei explicar, mas nunca estivemos tão ligados
Se bem que nunca tivessem os outros mandado tanto em ti. 

—–
ALEGRA-CAMPOS

MTCabral, 
Hospital de Angra, Advento 2014

Alegra-campos para Dona Adelaide, a mãe do meu Padre
Que acaba de morrer ao meu lado, no hospital de Angra.
Foi a católica perfeita, que hoje talvez só se encontre no mundo rural
Que deu com orgulho e alegria um filho à Santa Madre Igreja.
Chamava-lhe “o senhor Padre”, para que não houvesse dúvidas
Sobre a plena doação, que a enobrecia por direito divino.
Sentava-se ao meu lado, nas missas de semana, onde somos poucos.
Acompanhava em voz sussurrada todo o cerimonial, do princípio ao fim.
Agradavam-lhe uns gerânios roxos que eu tinha na varanda
Chamava-lhes “alegra-campos”, nome que me encantava, enquanto poeta.
Pediu-me uns pezinhos e por duas vezes lhe dei uns pezinhos, que não pegaram.
Sim, era a Santa Madre Igreja rural, sem tempo, sem vacilações
Segura das verdades de fé dos primeiros padres, mesmo que o não soubesse
Sem complacências para com o declínio atual, nem sequer nomeado.
Alegra-campos para Dona Adelaide, a mãe do meu Padre
A quem trouxe pelo braço para casa, como irmã amantíssima
Ouvindo o resfolegar do seu coração e pulmões, doentes da saudade
Por seu marido, chorado em todos os dias de dois anos e tal.
Já está com ele, de novo, como desejava
No Céu que nos foi aberto por Nosso Senhor Jesus Cristo
A Quem amamos completamente, no campo, a Quem amamos completamente
A Quem as mães católicas oferecem seus filhos, à nascença, com entusiasmo
Desejosas de os salvar do mundo, que elas já conhecem quando são mães.
Partilhámos as missas de semana, o braço dado para casa, ao fim da tarde
Alegra-campos roxos e o novo hospital de Angra do Heroísmo
E, sobretudo, a fé mais pura e intacta, ortodoxa radical, sem atualizações.
Alegra-campos roxos, dependurados pela varanda da minha casa, para a rua, no verão.

Mário T Cabral Natural da Terceira, Açores, é Doutor em Filosofia Portuguesa Contemporânea, pela Universidade de Lisboa, com Via Sapientiae – Da Filosofia à Santidade, ensaio publicado pela Imprensa Nacional – Casa da Moeda (2008). Para além do ensaio, publica poesia e romance. O seu livro de ficção (O Acidente, Porto: Campo das Letras) ganhou o prémio John dos Passos para o melhor romance publicado em Portugal em 2007. Está traduzido em inglês, castelhano e letão. Também é pintor.
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