A Câmara Municipal da Póvoa de Varzim realizou pelo 16º ano o Festival Correntes d Escritas-Encontro de Escritores de Expressão Ibérica nos dias 25 a 28 do mês de Fevereiro último. Este acontecimento, o mais importante do género a nível nacional na área das letras, aconteceu apenas durante três dias, à semelhança com o que aconteceu nos últimos três anos, devido à crise, referiu o Vice-Presidente da Câmara, Vereador da Cultura e um dos grandes impulsionadores das correntes Luís Diamantino.
No Cinema Garrett, reconstruído, estiveram presentes mais de quarenta escritores desde os consagrados: Guilherme d’Oliveira Martins, Ana Luísa Amaral, Inês Pedrosa, Francisco José Viegas, Rui Zink, Gonçalo M. Tavares, João Gobern, Sérgio Godinho, José Carlos Vasconcelos, Mário Cláudio, (apenas para enumerar alguns) até a escritores de primeiras edições: Ana Cássia Rebelo, Cláudia Clemente, Fausta Cardoso Pereira. Para além destes escritores portugueses, participaram escritores vindos de Angola, Moçambique, Cuba, Galiza, Espanha, nomeadamente Martinho da Vila, Leonardo Padura, Nelson Saúte, Michael Kegler, Manuel Rui, Andrea Zamorano. O festival inclui mesas de debate, intervenções poéticas, lançamentos de livros, cinema, sessões com o público escolar, exposições, concursos literários. Nesta edição o tema dos concursos foi a poesia tendo ganho o prémio Casino da Póvoa o poeta Fernando Echevarria com o seu livro Categorias e outras paisagens. O prémio Papelaria Locus foi atribuído ao poema Insone de Cândida Filipa Sousa. O Prémio Dr. Luís Rainha, cujo tema é a Póvoa de Varzim, foi ganho por João Morgado pelo trabalho O Céu do mar. A Porto Editora promove no âmbito das Correntes um concurso para os mais novos ao qual podem concorrer turmas das escolas básicas. Os primeiros prémios foram atribuídos aos trabalhos uma amizade misteriosa do 4º ano do Externato Infantil e Primário Paraíso dos pequeninos de Lourosa, texto; o de ilustração a um conto muito louco da turma V4B, da EB1 de Torres Vedras.
De referir a apresentação da Obra Completa de Padre António Vieira e a exibição do filme Os Maias de João Botelho, as exposições Até ao grito de Isabel Lhano, Fragmentos de Fernando Lanhas e o lançamento da revista das Correntes correspondente à 16ª edição do festival que, para além de vários textos de tantos outros escritores, homenageou Almeida Faria. Durante as Correntes funcionou a Feira do Livro realizada pela Papelaria Locus.
As Correntes incluíram, como habitualmente, uma mesa e apresentação de livros no Instituto Cervantes em Lisboa realizada a 02 de Março.
Nas Correntes deste ano participaram os escritores açorianos João de Melo, Onésimo Teotónio Almeida e o poeta Ivo Machado. Esteve também presente Lélia Nunes, escritora e investigadora da influência dos Açores na cultura de Santa Catarina e membro da Academia Catarinense de Letras. Onésimo e Ivo Machado são dos escritores que participam nas Correntes desde a primeira edição, sem qualquer interrupção.
Este ano Ivo Machado, poeta nascido na Ilha Terceira e a viver na Cidade do Porto, autor de vasta obra poética, teatro e novelas, participou em várias sessões que foram realizadas no Diana Bar dedicadas a alunos de várias escolas do Concelho da Póvoa, Vila do Conde e concelhos limítrofes. O Diana Bar, como o nome sugere foi durante várias décadas um bar, é utilizado há vários anos pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, depois de recuperado, como um polo da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto e fica situado na zona balnear. Estas sessões são muito importantes para a sensibilização dos jovens para os livros e a sua leitura, principalmente da poesia.
João de Melo participou na mesa cujo tema proposto pela organização era: Da escrita em ruínas transpiram as intermitências da vida e foi moderada por Henrique Cayatte. O autor de Gente Feliz com Lágrimas, apresentado na edição de 2014 das Correntes, e de O meu mundo não é deste reino, dois dos títulos da sua vasta e consagrada obra, tendo recebido vários prémios entre eles o da Sociedade Portuguesa de Autores, Fernando Namora e Eça de Queirós, entre outros, apresentou uma comunicação intitulada Autoelogio da loucura em que disse a certa altura estive numa guerra que nunca existiu. Não me lembro de nela ter morrido de verdade. O meu papel consistiu em tentar salvar os vivos e ressuscitar os mortos. Se fui salvo e estou aqui devo-o apenas à catarse da literatura, a minha e finalizou dizendo: “a minha é uma loucura secreta e indizível. Ninguém a nomeia. Pouco ou nada conheço dela. Não a sinto, não a ouço. Não a vejo ao redor. Será talvez uma questão de fé muito pessoal. Pressinto-a à flor da pele através dos poros. Loucurazinha por mim segregada como se fosse a única morada. Não posso separar-me dela.
Onésimo encerrou, como já vem sendo hábito, a última mesa da 16ª edição das Correntes d’Escrita. Como sempre, também, a sala encheu-se de gente para assistir. Aliás, a sala foi pequena e quem não teve lugar nem nas escadas, teve que assistir através de um ecrã gigante na sala onde foram apresentados os livros. Onésimo é um fenómeno de popularidade nas Correntes. Os leitores abordam-no, abraçam-no e ele com todos conversa, autografa livros que são comprados na feira do livro instalada num corredor, ou que ele oferece ou que trazem de casa para o efeito. O tema da mesa era Literatura: uma questão de inteligência invisível e foi moderada por Maria Flor Pedroso. Numa comunicação séria ponteada de humor, Onésimo lembrou que a inteligência é como a roupa interior. É importante tê-la mas não se deve exibi-la. Contou que apenas uma vez na vida alguém assumiu diante dele não ser inteligente, que conseguimos assumir a nossa ignorância em assuntos como a matemática, ou em outra ciência ou assunto, mas nunca nos assumimos como não sendo inteligentes. A pior afronta a alguém é insultar-se-lhe a inteligência
A sala do Hotel Axis Vermar, onde os escritores, editores das Correntes assentam arraiais deslocaram-se dezenas de admiradores e amigos de Onésimo para assistirem ao lançamento do livro Onésimo, único e multimodo editado pela Opera Omnia de Guimarães e cuja ideia e organização são de João Maurício Brás. Este livro, dividido em quatro partes mostra Onésimo de Vários Ângulos”; Do Aluno ao Professor; Sobre o Escritor e o Criativo; Sobre o Ensaísta e o Pensador e reúne depoimentos de 46 pessoas em jeito de homenagem ao escritor mas principalmente celebrando os cinquenta anos de escrita do autor de “Ah! Mònim dum Corisco!; Quando os Bobos Uivam e Pessoa, Portugal e o Futuro entre muitos outros.
O Vereador da Cultura da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, Luís Diamantino, abriu a sessão e a dada altura afirmou: Quero agradecer o muito que já fez pelo Correntes d’Escritas. Nunca negou qualquer tipo de apoio, faz eco de tudo o que aqui se passa e é o melhor mensageiro que poderíamos ter.
João Maurício entre outras coisas disse que é importante ler-se Onésimo, que nenhuma das 45 pessoas a quem foram pedidos os depoimentos hesitou a fazê-lo e que isso diz muito sobre o Onésimo e o livro oferece uma perspectiva múltipla sobre ele que é única.
Lélia Nunes, fez a apresentação do livro afirmando que o livro reúne um conjunto de texto que ajudam a conhecer melhor a pessoa, o professor, a obra literária, filosófica do Onésimo. Dar a conhecer por intermédio de várias vozes e olhares citando o prefácio de João Maurício Brás a faceta menos conhecida de Onésimo “é a de pensador e ensaísta e é a mais significativa e mesmo fundamental. Lélia Nunes, pelas suas palavras e utilizando como exemplo as quatro alas das escolas de samba, faz-nos passar os olhos pela maioria dos depoimentos que fazem o livro. Terminou a apresentação lendo os depoimentos que pediu a três grandes escritores do sul do Brasi” amigos de ambos: Luís Fernando Veríssimo, Assis Brasil e Sérgio da Costa Ramos.
A sessão terminou com a leitura de textos de Onésimo, feitas por vários presentes: o escritor João de Melo ; Professor Manuel Assunção, Reitor da Universidade de Aveiro; Professor Carlos Quiroga, da Universidade de Santiago de Compostela; Luís Ricardo Duarte, do Jornal de Letras; Cristina Ovídio, directora da editora Clube do Autor e o Aurelino Costa, poeta da Póvoa, que leu um texto a pedido de Ivo Machado e a esposa de Onésimo, Professora Leonor Almeida. A sessão que tinha começado às 22:30 terminou muito depois da uma da madrugada.
Na Sessão de encerramento foi prometido pela edilidade que a 17ª edição das Correntes será realizada em quatro dias como era costume antes da crise. Lá estaremos!
Nota: Crédito Imagens são da autora Ana Loura, da Prefeitura Municipal de Póvoa de Varzim, do GRPC das Correntes De Escritas e de Onésimo Almeida.