Porque trazes tu dentro dos olhos
Toda a beleza de um dia de Verão?!
Porque trazes tu dentro dos olhos
Toda a frescura da terra molhada,
Toda a beleza de um céu azul,
O riso brilhante da enxada?!
Porque é tua pele escura e enrugada
Como a terra que tuas mãos trabalham?
Como trazes tu dentro da cesta fechada
O canto dos pássaros, os olhos do sol,
O gemido da semente, o hálito da terra?…
És tão grande e tão pequeno!…
Tens alma de menino.
Tu não tens aquele horrível veneno
Senhor da guerra e da desgraça
Que impera nos «grandes senhores»;
— Políticos , senhores das nações e do capital. —
Tens nos olhos toda a mansidão,
Todo o amor e toda a grandeza
Que encerra aquela que nos dá o pão.
Aldeão,
Ensina-me a trazer na mão, fechada,
Toda a grandeza, todo o mistério,
Toda a mansidão da terra lavrada!
Brites Araújo,
Chamas na noite,
Impraçor, Ponta Delgada, 1978.