Das Migrações às Interculturalidades de
Maria Beatriz Rocha-Trindade (*)
Aquando do convite que me foi dirigido pela Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade para apresentar a Antologia Das Migrações às Interculturalidades que reúne 64 textos científicos selecionados pela autora, num total de 822 páginas, a minha reação inicial foi de um enorme prazer atravessado, no entanto, por uma imensa inquietação. Após ter aceite o convite – e num momento de maior quietude – pensei que seria bem mais fácil a defesa de uma tese doutoral, com um júri pouco amistoso, sobre Filosofia Política e os novos Paradigmas Sociológicos sobre Migrações na Sociedade Contemporânea! Mas não era esse o caso.
De facto, a minha inquietação decorria do imenso desafio que a apresentação desta obra implicaria quer a nível académico quer a nível pessoal. A nível académico estamos perante uma publicação singular, de grande fôlego e mérito científicos, reveladora de um percurso de vida académico e não académico que abriu (e abre) novos caminhos para novas interpretações e para novas perspetivas de investigação no domínio das migrações e das ciências sociais em Portugal e no estrangeiro.
Neste mundo imenso que é o de Maria Beatriz Rocha-Trindade, o desafio que me havia proposto interpelava-me e obrigava-me a refletir sobre a minha própria trajetória académica na Universidade Aberta. Vinte e dois anos de trabalho que se inscrevem no amplo campo científico, académico e de intervenção na sociedade civil que a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade potenciou, desenvolveu e consolidou, ao longo de cinco décadas!
E ao pensar-me neste percurso, neste encontro, ocorre-me de imediato as palavras belíssimas de George Steiner quando no seu livro As Lições dos Mestres (2002) nos diz, e passo a citar: “Os Mestres despertam noutro ser humano poderes e sonhos além dos seus: Induzem nos outros um amor por aquilo que amamos; fazem do seu presente interior o seu futuro; eis uma tripla aventura como nenhuma outra…. “
Esta tem sido a aventura, o desafio …. que a MESTRE propôs a uma discípula chegada a Portugal em 1993, altura em que ingressa na Universidade Aberta. Discípula é uma palavra antiga que caiu fora de moda na era da globalização e do conhecimento fast-food e do quick fix da wikipédia, dos MOOCs (Massive Open Online Courses), das redes sociais do twiteer, do facebook, do Linkedin, Google + do Google – ! . Da ubiquidade da internet. E dito isto, muito provavelmente, muitos de vós, por esta altura, já questionaram a minha atitude algo “conservadora” face às inúmeras vantagens e potencialidades da produção de conhecimento na era digital. Não é esse o caso. O debate sobre as novas práticas de ensino na era da sociedade em rede e das TICs extravasa, obviamente, o âmbito desta apresentação. Ainda assim, sabemos que estamos perante novos e desconhecidos paradigmas do conhecimento, cujas repercussões nos processos de ensino-aprendizagem continuam por ser exploradas. E, também, por isso, a importância em sublinhar o imenso impacto que esta relação, Mestre-discípula, uma relação que vem de longe, teve no meu percurso académico e científico quer como docente quer como investigadora quer como pessoa.
E, depois o mundo dos afetos… uma relação que se constrói a partir de ideários comuns e de cumplicidades, feita de múltiplas vivências e da partilha íntima de momentos muito felizes e de outros menos felizes. Um mundo afetivo que se funda, sobretudo, numa imensa admiração e respeito que foram sendo tecidos ao longo de muitos anos neste sempre Querer Bem.
É nesta tessitura de renda fina, que cruza a dimensão científica e os afetos, que me posiciono e que me enuncio nas breves considerações que passo a fazer na apresentação desta obra. Obviamente que não vou alongar-me porque hoje é um dia muito especial. É um DIA de FESTA partilhado entre todos nós, na Universidade que o Professor Armando Rocha-Trindade fundou e que é a nossa ESCOLA.
A magnitude e a riqueza temática e analítica da produção científica de Maria Beatriz Rocha-Trindade espelham-se, ainda que de forma incompleta, nesta excelente Antologia, cuja pintura que figura na capa é da autoria da sua neta mais velha – Patrícia – Muitos Parabéns Patrícia! Quando recebi o livro, a pintura fascinou-me de imediato e interroguei-me: por que razão a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade escolheu esta pintura? Porquê esta e não outra?? Bem sei que é da sua neta (com toda a carga simbólica e afetiva que tal escolha significa), mas, decerto, que a Patrícia pintou muito, muito mais….
E voltei à pintura. A cor – vermelho ocre – atirada contra a tela, com alguns rasgos de tinta vermelha brilhante e uma imagem tracejada que a domina e que segue um caminho sem fim, sem limites. E, depois, um quadradinho que surge no canto inferior direito, quase impercetível, mas está lá! E não é o logotípo da FCT! Um quadradinho, com contornos nítidos e luminosos. E aí percebi a razão da sua escolha; a sua identificação com esta pintura fazia todo o sentido! A imensa curiosidade pelo mundo, a coragem de abrir novos caminhos, por vezes, incertos, daí o tracejado que extravasa a tela. Um caminho de luz e de fogo, que foi e vai trilhando… Um caminho, também, de grande vitalidade e de uma imensa resiliência face às adversidades da vida que a cor vermelho-ocre da tela evoca. E depois, o quadradinho – Quiçá um espaço de refúgio… aqui representado nesta bela pintura da Patrícia. Obviamente, as possibilidades de interpretação da pintura que figura na capa desta obra são múltiplas, mas esta é a minha, o meu olhar e a minha l interpretação cúmplices…
E depois da capa passamos ao conteúdo da obra. Esta Antologia organiza-se em torno de sete principais domínios de investigação. Após o primeiro capítulo – Migrações. Moldura Teórica e Conceitos (ao qual voltaremos mais tarde) segue-se um segundo capítulo intitulado Portugal: Migrações e Migrantes que se debruça sobre o fenómeno migratório em Portugal. Importa sublinhar a organização deste capítulo que nos oferece uma ampla perspetiva multidimensional das realidades migratórias na sociedade portuguesa. Neste quadro de análise, o olhar da autora recaí, num primeiro momento, sobre as dinâmicas migratórias internas que ganham um duplo enfoque: 1. o associativismo regionalista numa perspetiva transnacional que o artigo notável As Micropátrias do Interior Português bem ilustra (artigo este publicado em 1987 na revista Análise Social); 2. as estruturas e as práticas associativas de cariz regional em Lisboa merecem, igualmente, especial atenção. Num segundo momento, a emigração – a diáspora portuguesa – é objeto de estudo e de reflexão, tendo sido privilegiado os contextos migratórios no Brasil e em França. E por último, a realidade imigratória em Portugal é problematizada nas suas múltiplas vertentes demográficas, sociais e políticas. No texto Dualidades na Imigração é de particular importância realçar a interpretação analítica proposta que permite evidenciar a complexa situação dual do migrante que encerra em si, em simultâneo, a realidade de ser emigrante e imigrante. Ao enfatizar a necessidade de uma “dualidade de perspectivas” na análise dos movimentos migratórios, a autora privilegia uma abordagem transnacional que tem caraterizado a sua produção científica ao longo dos tempos.
O Capítulo III tem como título Relações Transnacionais. Este capítulo constitui, a meu ver, o nexus teórico e conceptual fundamental que estrutura toda a produção científica realizada sobre o fenómeno das migrações. Os artigos Comunidades Migrantes em Situação Dipolar. Análise de três casos de emigração especializada para os EUA, para o Brasil e para a França; A Presença dos Ausentes; A Emigração portuguesa. Reflexos na origem ou Queiriga Revisitada são trabalhos que exemplificam bem um quadro analítico e conceptual que prioriza o estudo das ligações e das interações entre país de origem e país de destino que configuram os movimentos migratórios
Já o Capitulo IV trata a problemática do Retorno – O Regresso Imaginado; Regresso e o texto The Repatriation of Portuguese from Africa analisam as problemáticas associadas ao regresso dos emigrantes e à sua reinserção no país de origem.
De facto, o segundo, terceiro e quarto capítulos inserem- se numa grelha de análise avançada por MBRT que se funda na noção do “percurso migratório ou itinerário migratório”, a qual se desdobra em diferentes fases : a intenção de partir; preparativos de partida; a viagem; a primeira instalação; inserção e fixação e,por último, o regresso – o ciclo fechado.
No Capítulo V, o objeto de estudo irá centrar-se na análise das Políticas, Cidadania e Integração. Os nove textos incluídos neste capítulo apresentam uma abordagem ampla do tema e uma perspetiva comparada destas problemáticas em diferentes contextos migratórios, sendo de referir, a título de exemplo, os artigos O Diálogo Instituído; As Políticas Portuguesas para as Migrações; Portugal and Spain: Culture of Migration ou Migrações entre Portugal e Brasil: Reciprocidade de Preferências – 1908-1945, ou, ainda, A Integração dos Imigrantes na União Europeia.
O Capítulo seguinte – Capítulo VI é subordinado ao tema Sociedade Multicultural e Relações Interculturais desdobrando-se em dois subtemas – Pertenças e Identidades e Fundamento e Práticas. A par do enfoque nos processos de reconfiguração identitária em múltiplos contextos migratórios, a análise e o debate da Interculturalidade no âmbito dos paradigmas sociológicos e, em particular, na esfera da educação são temas marcantes para o estudo das dinâmicas sociais, culturais e políticas da sociedade portuguesa contemporânea.
Por último, no Capítulo VII o olhar dirige-se para um outro tema de estudo – as Imagens e a Museologia na investigação sociológica sobre migrações.
Face à riqueza temática e à abrangência analítica que caracteriza esta Antologia importa evidenciar cinco domínios de investigação que assumem uma importância central ao longo de toda a sua carreira profissional como investigadora e docente e como cidadã ativa na sociedade portuguesa quer a nível cívico quer a nível politico.
O primeiro domínio reporta-se à dimensão pioneira e inovadora de uma agenda de investigação sobre migrações assente no paradigma teórico das redes sociais – as redes familiares, de amizade, de conterraneidade e de pertenças comunitárias que se estabelecem entre indivíduos e comunidades emigradas com o país de origem constituem-se como categorias analíticas fundamentais para a análise dos fenómenos migratórios. Esta perspetiva de análise configurou a sua produção científica desde o seu início. Quando os debates dominantes nas agendas de investigação internacionais sobre migrações privilegiavam perspetivas teóricas baseadas, por exemplo, nos paradigmas do equilíbrio – os célebres modelos de atração e repulsão – de Ravenstein e de Everett Lee ou em análises histórico-estruturais, o desafio teórico e conceptual proposto por Maria Beatriz Rocha-Trindade, no início dos anos 70, só viria a ganhar centralidade nos estudos sociológicos e antropológicos sobre migrações a partir da década de 90 do século XX, com a emergência dos paradigmas do transnacionalismo, associados a uma crítica contundente a um “nacionalismo metodológico” que dominou os estudos das migrações em ciências sociais durante décadas.
No contexto das agendas de investigação nacionais e internacionais sobre migrações, é importante referir que é só a partir dos meados da década de noventa do século passado que os estudos sobre migrações evidenciam e valorizam a problematização do impacto das redes sociais, culturais e políticas transnacionais na configuração dos fenómenos migratórios internacionais. A título de exemplo, é já nos princípios no século XXI, mais precisamente em 2003, que a conceituada revista internacional International Migation Review publica pela primeira vez uma edição especial subordinada ao tema Transnational Migration: International Perspectives, organizada por Peggy Levitt, Josh DeWind e Steven Vertovec!
O estudo das redes sociais na configuração dos percursos migratórios constitui, pois, o travejamento conceptual e teórico que perpassa toda a obra de Maria Beatriz Rocha–Trindade, quer nos estudos sobre migrações internas, quer nas análises da emigração portuguesa quer nos estudos sobre a realidade imigratória na sociedade portuguesa. Os seguintes textos científicos, incluídos nesta Antologia, evidenciam bem a sua abordagem teórica e investigação empírica inovadoras no domínio das migrações: Comunidades Migrantes em Situação Dipolar: Análise de três casos de emigração especializada para os EUA, para o Brasil e para a França; A Presença dos Ausentes; Globalização e Mestiçagem. A Mestiçagem, as Identidades e o Multiculturalismo; Festas de Migrantes: A Transnacionalidade das Migrações e, mais tarde o estudo sobre a imigração em Portugal – Dualidades das Migrações.
Este quadro conceptual viria a ter importantes repercussões académicas, sendo exemplo disso, a criação de inúmeras redes e de parcerias de investigação a nível nacional e internacional; o estímulo e incentivo dados a todos os seus colaboradores no estabelecimento e consolidação de novas redes científicas e académicas no âmbito disciplinar dos estudos migratórios, bem como a organização sistemática de uma multiplicidade de iniciativas que potenciaram a internacionalização científica de estudantes e de muitos investigadores associados ao Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), que viria a fundar em 1989.
Um segundo domínio, estreitamente associado ao acima referido, reporta-se às suas estratégias metodológicas. Com formação em Antropologia e Sociologia, podemos afirmar que a pesquisa empírica, designadamente os métodos etnográficos ganham especial importância nos estudos realizados. E aqui, novamente, a produção científica reveste-se de uma dimensão inovadora. Pesquisando, em simultâneo, em múltiplos contextos migratórios indivíduos e famílias migrantes ou dinâmicas associativas migrantes, no país de origem e no país de destino, Maria Beatriz Rocha-Trindade oferece-nos uma nova perspetiva de investigação no domínio das migrações. O grande projeto de investigação sobre as trajetórias migratórias dos emigrantes em França oriundos de Queiriga, publicado em 1973 ( Immigrés Portugais: Observation Psycho-Sociologique d’un Groupe de Portugais dans la Banlieue Parisienne:Orsay) ou os títulos científicos: A Presença dos Ausentes ou a Emigração portuguesa. Reflexos na Origem ou ainda Queiriga Revisitada são trabalhos bem elucidativos destas estratégias metodológicas que hoje ganham particular relevância nos estudos sobre migrações como é o caso da etnografia transnacional, etnografia global ou da etnografia multi-situada.
Um terceiro domínio de investigação refere-se ao associativismo migrante. Este é um tema que percorre toda a sua obra – desde o associativismo regionalista, o associativismo na emigração portuguesa até à análise das estruturas associativas na imigração em Portugal, e mais recentemente, o estudo comparativo das estruturas e das dinâmicas associativas das migrações na sociedade portuguesa (O Associativismo em Contexto Migratório,2010) objetos de estudo e de grande interesse científico. Novamente, a temática do associativismo é enquadrada por uma abordagem conceptual que privilegia as redes sociais estabelecidas entre espaços – o local, regional, nacional global – que potenciam a interação transnacional e a emergência das práticas associativas migrantes.
O interesse pelo associativismo teve múltiplas implicações a nível das suas vivências e da sua intervenção na sociedade civil. Como bem sabemos, a sua ação de cidadania ativa tem sido pautada por um profundo conhecimento das estruturas organizativas da diáspora portuguesa e da imigração em Portugal, bem como por uma notável participação e envolvimento sistemáticos nas iniciativas associativas migrantes. Entre muitos exemplos que aqui poderíamos mencionar é de destacar o trabalho realizado ao longo dos anos na Associação Mulher Migrante da qual foi sócia fundadora em 1994.
Um quarto domínio de investigação diz respeito às Políticas Migratórias e Interculturalidade. Novamente, a sua visão sobre o interculturalismo foi inovadora e pioneira. Face à ausência de um discurso político e científico em Portugal sobre a interculturalidade e o interculturalismo, o artigo Perspetivas Sociológicas da Interculturalidade, publicado em 1993, na revista Análise Social, viria a marcar, definitivamente, o debate sobre o interculturalismo em Portugal. Na sequência da investigação realizada, no início dos anos noventa, publica em parceria com Maria Sobral Mendes um estudo inédito sobre educação intercultural em Portugal – um dos artigos decorrente dessa publicação encontra-se incluído nesta Antologia: Portugal – A Profile of Intercultural Education. Este interesse pelas relações Interculturais perdura e é objeto de estudo até à data, sendo exemplo disso o artigo: Dinâmicas da Filosofia Intercultural em Espaços Plurais (2006).
Este interesse científico traduziu-se, igualmente, no plano académico com criação do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), como atrás já foi referido, a criação do Mestrado em Relações Interculturais em funcionamento há mais de duas décadas, bem como de um conjunto muito alargado de múltiplas iniciativas pioneiras na academia portuguesa, que se foram consolidando e desenvolvendo desde dos anos noventa do século passado até ao presente.
Além disso, a sua participação científica no SCOPREM (Secretariado Coordenador dos Programas de Educação Multicultural/Entre culturas), criado em 1991, é emblemática do seu compromisso com as novas dinâmicas educativas emergentes na sociedade portuguesa nos princípios dos anos noventa.
Por outro lado, os estudos sobre as políticas migratórias iriam, igualmente, encontrar eco na sua intervenção cívica e política, nomeadamente no âmbito da Secretaria de Estado da Emigração e, posteriormente, na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, Ministério dos Negócios Estrangeiros, tendo sido responsável interina pelo Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas. O entusiasmo e o compromisso com os assuntos da realidade emigratória portuguesa estariam na base de um conjunto muito alargado de iniciativas de promoção e de realização científicas (publicações – Série Migrações – Escolas de Verão, conferências, workshops e debates públicos).
Imagens, Migrações e Museologia
Por último, mas não menos importante, são os estudos realizados sobre museologia, e o interesse pelas imagens no estudo das migrações quer a nível conceptual quer a nível pedagógico. Relativamente a este último tema importa referirmos a produção científica, por exemplo o excelente artigo Imagens e Aprendizagem na Sociologia e Antropologia, bem como os documentários realizados na década de 80 do século XX: A série documental Festas – Festival do Emigrante: Pateira de Fermentelos; Inauguração do Monumento ao Emigrante em S. Pedro do Sul e a série O Sonho do Emigrante.
A nível académico é de sublinhar a criação do Laboratório de Antropologia Visual nos finais dos anos 90; a introdução da disciplina de Antropologia Visual nos planos de estudo de cursos de formação avançada – designadamente no Mestrado em Relações Interculturais da Universidade Aberta. De igual modo, a produção do Manual de Sociologia das Migrações publicado em 1995, manual de apoio à unidade curricular de Sociologia das Migrações também por si criada e inédita no contexto de formação superior em Portugal, viria a integrar uma série documental sobre migrações (emigração e imigração no contexto português) sob a sua coordenação, tendo sido produzidos um total de 10 videogramas.
Na vertente museológica e a nível pedagógico, o manual de Iniciação à Museologia e a produção de um conjunto de videogramas, publicados em 1991, bem como a criação da unidade curricular Iniciação à Museologia atestam do interesse científico atribuído a este domínio disciplinar.
A investigação sobre museologia no âmbito dos estudos migratórios remete-nos, igualmente, para uma produção científica continuada e da maior relevância que os artigos que integram o último capítulo bem ilustram.
Não menos importante é o seu envolvimento científico na conceção e desenvolvimento do Museu das Migrações e das Comunidades de Fafe ou o mais recente projeto o Museu da Língua e das Migrações.
Estas breves considerações sobre esta Antologia, pretenderam, sobretudo, destacar a pujança intelectual e científica da obra, sem deixar de refletir e de explorar o seu impacto na intervenção social, cívica e política que tem caracterizado o percurso de vida de Maria Beatriz Rocha-Trindade e da sua relação com o mundo.
Termino esta apresentação reiterando as palavras do colega e amigo, o Professor Jorge Malheiros, que no excelente prefácio desta obra nos diz que a investigação em migrações em Portugal não seria a mesma coisa sem a Professora Maria Beatriz Rocha-Trindade. Sim, não seria a mesma coisa!
E não seria a mesma coisa nem para a Academia Portuguesa nem para mim. Aprendi com a MESTRE a ciência enquanto paixão, como Pablo Neruda sabiamente afirma: “Só conhecemos bem aquilo porque nos apaixonamos”. Aprendi, também, a coragem de ir mais além como investigadora e como pessoa. Este é um legado precioso e inolvidável.
Por tudo isto, o meu sincero e muito amigo OBRIGADA!
Ana Paula Beja Horta.
Universidade Aberta, 1 de julho de 2015.
(*) – Professora Doutora Ana Paula Horta da Universidade Aberta.
Texto lido quando da apresentação do livro em epígrafe.
na Paula Cruz Beja Orrico Horta é Licenciada em Economia e Antropologia, Mestre em Antropologia e Doutorada em Sociologia pela Simon Fraser University, no Canadá. É Professora Auxiliar com contrato por tempo indeterminado na Universidade Aberta (UAb) e desempenha atualmente funções de Coordenadora Científica do Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais (CEMRI), na UAb. É professora visitante da Universidade de Valência e leciona no mestrado internacional, Joint Master on Migrations and Intercultural Relations, coordenado pela Universidade de Stavanger, Noruega. As principais áreas de pesquisa a que se tem dedicado incluem cidadania e participação cívica migrante; políticas migratórias; cidades e migrações. Esteve envolvida em projetos de investigação, nacionais e internacionais, em vários domínios científicos, e é autora de vários livros e artigos publicados em revistas nacionais e internacionais.
Vice-Presidente da Assembleia Geral da Associação Mulher Migrante – Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade, 2010-2013. Desde a sua fundação tem participado em vários órgãos de direção desta organização.