Impressões
do Real de Arlinda Mártires
O título Impressões do Rea lremete-nos, de certo modo para a poesia de Cesário Verde, cujo ponto de partida
preferencial é o mundo real, o quotidiano que serve de força motriz para os
mais diversos sentimentos revelados pelo poeta. Do mesmo modo, é também nos momentos vividos e sentidos na tessitura dos
dias, captados de modo impressionista, ou seja, filtrados pela sensibilidade e
pela subjectividade da autora, que se
enraiza a poesia de Arlinda Mártires.
preferencial é o mundo real, o quotidiano que serve de força motriz para os
mais diversos sentimentos revelados pelo poeta. Do mesmo modo, é também nos momentos vividos e sentidos na tessitura dos
dias, captados de modo impressionista, ou seja, filtrados pela sensibilidade e
pela subjectividade da autora, que se
enraiza a poesia de Arlinda Mártires.
A palavra "Saudade" confere o título ao primeiro poema, evocador das "manhãs soalheiras", do "orvalho
dos quintais", do "cheiro da terra molhada" , dos "gatos nos beirais"… e nestes instântaneos da vivência quotidiana
rural do Alentejo, a saudade intensifica-se, consubstanciada na imagem da Mãe. Além
disso, também a solidão e o amor se
aliam à
nostalgia de um tempo perdido que, de forma "proustiana" o sujeito poético procura constantemente ("Dou
por mim/ uma tristeza de pedra (…)/ Busca do Tempo perdido / sem retorno").
dos quintais", do "cheiro da terra molhada" , dos "gatos nos beirais"… e nestes instântaneos da vivência quotidiana
rural do Alentejo, a saudade intensifica-se, consubstanciada na imagem da Mãe. Além
disso, também a solidão e o amor se
aliam à
nostalgia de um tempo perdido que, de forma "proustiana" o sujeito poético procura constantemente ("Dou
por mim/ uma tristeza de pedra (…)/ Busca do Tempo perdido / sem retorno").
Múltiplas vivências percorrem as
partes desta obra intituladas "gente" e "lugares" que delineiam vivências e experiências configuradas sempre
por um profundo humanismo e habitadas por gente de carne e osso. Nesta esteira,
em "festividades", encontramos as
"festas populares" como o S. João, o "Dia de Todos os Santos", dedicado
precisamente a Cesário Verde, no qual, numa deliciosa sinfonia de sensações, a
relembrar as sinestesias usadas por este poeta, pois " E a natureza prenhe, sem dor,/Abre-se em bouquets floridos".
partes desta obra intituladas "gente" e "lugares" que delineiam vivências e experiências configuradas sempre
por um profundo humanismo e habitadas por gente de carne e osso. Nesta esteira,
em "festividades", encontramos as
"festas populares" como o S. João, o "Dia de Todos os Santos", dedicado
precisamente a Cesário Verde, no qual, numa deliciosa sinfonia de sensações, a
relembrar as sinestesias usadas por este poeta, pois " E a natureza prenhe, sem dor,/Abre-se em bouquets floridos".
Uma outra revelação desta dimensão
humana da obra de Arlinda Mártires materializa-se,
de modo diferente, "na senda da poesia barroca" na qual se dá voz à crítica
pessoal e social , como sucede por exemplo em "a um irmão" que vive "na mais mísera
sujidade" e que "amante da carne fresca/ passa os dias a caçar". E, no final, ainda em dois poemas eróticos que materializam
o amor convertido, no desejo e na carne, em poesia.
humana da obra de Arlinda Mártires materializa-se,
de modo diferente, "na senda da poesia barroca" na qual se dá voz à crítica
pessoal e social , como sucede por exemplo em "a um irmão" que vive "na mais mísera
sujidade" e que "amante da carne fresca/ passa os dias a caçar". E, no final, ainda em dois poemas eróticos que materializam
o amor convertido, no desejo e na carne, em poesia.
Em
suma, estas "impressões do real", tecidas através das linhas da memória, são
habitadas pela saudade, a lembrança, o "roçar dos pássaros" e das rosas –
imagens luminosas, cujo brilho se pode intensificar através da acção alquimica
do amor. Assim, o quotidiano, a Natureza e as gentes, filtradas por uma
sensibilidade ímpar convertem-se em
poema, espelho da vida que se rememora, actualiza e desvenda a cada
instante, já que, tal como referiu Alberto Caeiro: "A espantosa realidade das
coisas / É a minha descoberta de todos os dias".
suma, estas "impressões do real", tecidas através das linhas da memória, são
habitadas pela saudade, a lembrança, o "roçar dos pássaros" e das rosas –
imagens luminosas, cujo brilho se pode intensificar através da acção alquimica
do amor. Assim, o quotidiano, a Natureza e as gentes, filtradas por uma
sensibilidade ímpar convertem-se em
poema, espelho da vida que se rememora, actualiza e desvenda a cada
instante, já que, tal como referiu Alberto Caeiro: "A espantosa realidade das
coisas / É a minha descoberta de todos os dias".
Dora Nunes Gago